II

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Dinah e eu somos amigas desde o momento em que cheguei em Miami, a casa da avó dela fica de frente para a casa que Jade e Bem compraram 6 anos antes de tudo começar, elas, Jade e Sepiuta, não eram amigas mas sim vizinhas amistosas e prestativas, claro que após 20 anos de amizade entre filhas e netas mudaria isso. Ao chegar em frente a pequena cerca verde a abri e entrei olhando como sempre extremamente admirada com o jardim bem cuidado, são de flores extremamente cheirosas até plantas medicinais, e o caminho até a porta era feito por pedras, ao me aproximar da varanda pigarreei e gritei alto o suficiente para aquela filha de Morfeu acordar, afinal Sexta-feira além de ser o dia que ela vem para a cidade visitar a família, também é dia dela fingir que não existe.

— Dinah Jane Milika Ilaisaane Hansen Amasio, eu sei que você está ai, apareça!

Em questão de minutos a silhueta da senhora Sepiuta se mostra através do vidro da porta e meu sorriso se torna algo entre sem graça e "ela vai me matar", a porta se abre e ela me recebe com um sorriso gentil estendendo a mão e fazendo um movimento me chamando para dentro

— São 20 anos Camila e você ainda não aprendeu? Gritar aqui de fora não resolve, suba e a chame, não pretendo deixar as panelas em cima do fogão até ela ter a boa vontade de vir comer. – Essa senhora é tão incrível que eu facilmente poderia apertar a mesma até ela não aguentar mais, me aproximo e toco sua mão com gentileza e cuidado afinal diferente da neeta, ela é um ser frágil, ou finge já que ela me puxa com certa força e me abraça apertado deixando um afago nas costas

— Bença vó!

— Deus te abençoe Mila, agora vai e que vocês duas não demorem lá!

Me afastei acenando com a cabeça e devagar fui caminhando pelo corredor passando pela sala, cozinha, toalete e o quarto da senhora, abri devagar e entrei tomando todo o cuidado para não denunciar que havia invadido o campo de guerra chamado quarto da Dinah, assim que estava próxima o suficiente da cama pulei em cima da garota gritando em plenos pulmões seu nome, o que talvez não tenha sido uma ideia realmente bem pensada porque com o susto ela acabou levando nós duas ao chão. Nossos olhares cruzaram e se estivéssemos em um desenho provavelmente teria saído um raio do dela indo de encontro ao meu, uma risadinha de puro e completo pânico saiu tão rápido quanto me levantei tropeçando em roupas e a mochila dela mas nada que me impedisse de correr, afinal minha vida está em risco, não sei como sai da casa mas a grama na minha cara enquanto o corpo de Dinah me esmagava durante uma sessão de cócegas me fazia rezar para que alguém tivesse dó o suficiente para fazer ela parar.

— Dinah, solta a Camila! – Sepiuta berrou de algum canto que eu não consegui identificar, mas que foi quase o céu para mim, obrigada Deus, obrigada vó!

A grandona não desobedeceu, mas o tom de voz usado no ultimato sobre a próxima vez não ter perdão me fez pensar em como a vida é bela e curta, ao passar pela avó ambas ganhamos um tapa na nuca o que me fez viajar em outra memória, essa alegre.

***


2005 – Alguma noite aleatória – Casa da avó da Dinah – Camila.

Já passava das 18hrs e o Sol já tinha ido embora tem um tempinho, no quintal traseiro antes da reforma havia uma piscina que nunca era enchida graças a avó da Dinah e sua loucura ecológica, não que eu a julgue mas havia dias em que eu só queria nadar.

Meus olhos estavam percorrendo toda extensão do lugar em busca de algum inimigo que ameace o reino das bruxas quando dois pontos avermelhados me fizeram congelar, será que eu estava delirando? Olhei para Dinah que estava super concentrada em fazer outro bolo de terra, ou melhor chocolate, para curar nosso paciente da terrível doença da invisibilidade "pobre senhor Elfiano..", neguei com a cabeça e voltei meu olhar para o ponto entre a mangueira e o limoeiro, e lá estava aqueles dois pontos que logo sumiram me assustando o que me fez cair da cadeirinha

Eu vi algo entre as árvores e eu não estou mentindo, é um lobisomem ou um lobo! – Olhei para a loira e neguei antes dela ousar a rir e um barulho na grama me fez ficar de pé em um pulo.- eu disse, é um lobo!

Para de besteira, não tem lobos aqui em Miami!

—  Não tô mentindo DJ, eu vi um par de olhos vermelhos, olha você então!

Dando de ombros ela levantou e foi até o banquinho ajeitando e subindo, ela olhou ao redor e parou por um instante no mesmo ponto onde meu olhar parou minutos antes e negou

Não tem nada aqui Camila!

DJ, eu não estou mentindo, eu vi!

E então tudo parecer acontecer muito rápido, ela começou a rir e rolou novamente, no entanto ela se assustou com algo, com um impulso ela saiu da piscina e correu para a casa se trancando lá dentro. E eu do lado de fora com o que diabos estivesse ali.

DINAH!

Fui até a escada e sai da piscina com dificuldade por conta do vestido que minha mãe havia me obrigado a usar naquele dia pois eu precisava ser mais feminina, corri até a porta e bati na mesma sentindo meu olho se encher de lágrimas

Abre essa porta Dinah, se eu morrer aqui juro que volto para puxar teu pé!

Logo a porta abriu e a mão da Dinah puxou meu colarinho, assim que passei pela mesma fechei e me encostei ali olhando para cara daquela grandessíssima idiota!
— VOCÊ IA ME DEIXAR LÁ PARA SEI LÁ O QUE ME MATAR?!? – Eu poderia facilmente matá-la caso Milika não tivesse chegado por ter ouvido a gritaria que naquela época era usual, afinal duas crianças extremamente parecidas, mas com várias diferenças não conseguiriam ficar tanto tempo juntas sem alguma briga.

***

Me lembro de que essa praga sentada na minha frente devorando um pão com ovo, azeitona, couve e limão havia apenas dado de ombros e falado para a mãe que vimos um guaxinim, mas que os gritos provavelmente haviam feito ele correr igual louco e avisado aos demais para evitar aquele jardim, o que me gerou uma risada e o assunto se encerrou ali, óbvio que até hoje ela conta essa história. 

Neguei com a cabeça tentando afastar essas memórias e senti um toque em meu ombro, sabia que era a vó então apenas foquei em comer e implicar minha amiga com chutinhos.

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