Era meio-dia e meia quando Felícit terminou sua consulta mensal com a terapeuta, que mais uma vez tentava ajustar dose de seu remédio.
-Isso é realmente estranho, se ele não está fazendo efeito, isso pode se tornar algo mais grave, mas infelizmente não temos apoio aqui, então terá que continuar assim, até conseguirmos algo lá fora - disse a mulher morena de coque e jaleco branco
- Tudo bem doutora, já faz tantos anos que já até me acostumei com essas visões e ilusões - disse brincalhona pra aliviar o clima que estava pesado no ambiente, o que era estranho, pois em poucos lugares ela sentia a presença daquela energia.Pegou sua bolsa e saiu correndo para o carro, sabendo que não tinha muito tempo. Seu prazo para visitar a nova casa era de 45 minutos e ela não poderia demorar muito, já que teria que trabalhar no novo emprego na cafeteria "Beaufort Park Café", onde só conseguiu uma vaga, graça a sua amiga Celeste, que havia lhe indicado ao dono do lugar. Felícit estava de mudança, e aquela era uma das vantagens de morar numa cidadezinha com pouco mais de 4 mil habitantes. Tudo ficava minutos de distância.
Embora Morehead City, cinco vezes maior que Beaufort, ficasse do outro lado da ponte e fosse local onde a maioria das pessoas faziam suas compras no fim de semana, a curta distância bastava para fazer aparecer isolada.
Era um lugar bonito, principalmente o centro histórico. Em um dia como aquele, com temperaturas perfeitas para caminhar, Beaufort apareceu o que ela imaginava ter sido Savannah no primeiro século de sua existência: ruas largas, árvores frondosas e pouco mais de uma centena de casas restauradas ocupava vários quarteirões, acabando na Front street, uma curta passarela de madeira com vista para Marina.
Barco de todas as formas de todos os tamanhos ocupavam as vagas; O magnífico iate que valia milhões poderia estar atracado ao lado de um barquinho pesqueiro de caranguejos e de um bem-conservado barco a vela. Havia poucos restaurantes, mas com vistas maravilhosas: lugares antigos e regionais, com partes cobertas e mesas de piquenique que faziam os frequentadores se sentirem como se estivesse de férias em um lugar onde o tempo havia parado.
Em alguns fins de semanas, bandas se apresentava nos restaurantes. No 4 de julho no último verão quando Felícia foi visitar Celeste, tanta gente saiu pra fora, somente para ouvir a música e ver os fogos de artifícios que a Marina ficou lotada de barcos. Sem vaga para todos, as embarcações simplesmente se amarraram umas às outras e os proprietários passavam de um convés a outro para chegar à Doca, aceitando cerveja de desconhecidos durante o trajeto.
Do outro lado da rua, empresas imobiliárias dividiam espaço com ateliês de arte e arapuca para turistas. Na noite de 4 de Julho, Felícit gostou de passear por essas lojas e admirar as obras expostas. Quando era mais nova, sonhava em ganhar a vida pintando fazendo ilustrações; demorou alguns anos para perceber que sua ambição excedia o seu talento. Isso Não significava que ela não soubesse apreciar um bom trabalho, Às vezes, encontrava uma fotografia um quadro que a fazia parar. Duas vezes chegou a comprar quadro, que agora iam se encontrar pendurados na parede de sua casa. Ela até gostaria de adquirir outros para complementá-los, mas seu orçamento impedia, pelo menos por enquanto.
Alguns minutos depois de rever toda a paisagem da pequena cidade vizinha a sua, Felícit estacionou na porta da nova casa e soltou um suspiro ao descer do carro, como se jogasse as vibrações ruins pra fora e logo inalando o ar puro da cidade onde a poluição era quase invisível, se sentiu melhor, com o pulmão e peitos leves.
Celeste a esperava na varanda, se aproximando do canteiro de flores, enquanto o imobiliário de terno preto, fazia suas funções.
Ao andar em direção a bela entrada da varanda, pode escutar o barulho das pequenas Pedrinhas que se espremeram em baixo dos seus pés. O homem alto e Moreno de terno preto quando a viu soltou um sorriso quase de orelha a orelha, mas por algum motivo parecia nervoso.
O edifício de aparência rústica e vitoriana, seria a residência perfeita para uma admiradora de tudo daquela época. Ao pisar na varanda, a mulher deu uma boa olhada no relógio em seu pulso e rezou mentalmente para que aquilo não demorasse muito. Assim que a porta de madeira se abriu com um rangido, viu que no olhar do imobiliário, se encontrava temor. Mesmo curiosa não queria perguntar o que havia de errado, muitas pessoas podem ter medo de casas que pareçam ser antigas.- Você é a Felícit Ducant, não é? - perguntou o homem tentando de certa forma se distrair.
- Sim, ela é! Estou tão feliz de ter vindo finalmente morar pertinho de mim - Exclamou a garota é loira, entusiasmada com a presença da amiga, mas sem querer a interrompendo
- Ah que isso, eu moro a 45 minutos daqui, você não vai me visitar porque não quer - disse a ruiva secamente com tom de deboche.
- Mas confesso, mal cheguei para morar aqui, e já não quero mais ir embora. - completou sua fala com um sorriso largo olhando a estrutura do imóvel.Ambas amigas, não se viam desde o Último verão. Por mais que morasse em 45 minutos uma da cidade da outra. A preguiça ou a falta de tempo talvez fosse maior que a saudade, o que fazia amizade dela só crescer. Afinal, é na ausência que o amor aumenta, talvez era o que ambas, e somente ambas pensavam. Felícit havia ido no máximo uma vez na casa da amiga, e conhecido a cidade, já a amiga ia sempre em Morehead, mas não ia visitar a amiga, ia apenas para fazer suas compras, coisa rápida.
- Muito prazer, sou Teri -Anunciou o homem de terno, e só agora Felícit reparou na voz trêmula, horrivelmente disfarçada do imobiliário
- Quantos anos tem? Parece ser tão novo, para um imobiliário - Brincou a garota ruiva
- Empregos são difíceis aqui, temos que aproveitar os que aparecem - Rio sem graça, e se virou de costas começando a caminhar desconfiado sempre olhando pros lados, e sua expressão não escondia nem um pouco o medo.
- Nossa essa casa é perfeita, e muito bem cuidada - ponderou a garota ruiva que esbanjava felicidade e encanto.
- E muito empoeirada - Reclamou, Celeste com um pouco de nojo.
- Não seja dramática, é claro que está empoeirada, quantos anos a casa tem mesmo? - Perguntou Felícit, como sempre curiosa
-A casa há 150 anos, mas, outras pessoas também já alugaram ela durante esses anos, a questão é que... Já faz dois anos que ninguém se muda pra cá - Afirmou o imobiliário, mas em sua mente também se passava outra informação, as pessoas nunca ficam mais de dois meses nessa casa, não importa o quão bom seja o aluguel, ninguém sabe o motivo das pessoas quererem ir embora de repente ou simplesmente desaparecerem, alguns inquilinos afirmavam que a casa era mal assombrada, mas a imobiliária ria, além de Teri, ninguém mais acreditava nessas coisas de fantasmas, mas é claro ele deixaria essa informação oculta por ordem de seus patrões.Teri, tentava se distrair observando cada detalhe de Felicit, que por um encanto lhe chamou muito atenção, enquanto por outro lado Felícit estava animada, observando cada detalhe da enorme casa, que por um canto havia feito ela se apaixonar. Até que ela parou, e se virou convicta e determinada.
-Chega, não quero mais olhar, já é o suficiente até aqui. -Disse sorridente e com as mãos segurando firme a alça da bolsa
-Tem certeza amiga? Ainda tem a parte norte da casa no segundo andar - Retrucou Celeste desinteressada
-É claro que tenho certeza, me sinto bem aqui. Me mudarei no sábado mesmo. -Disparou a ruiva como se tivesse se sentindo ofendida.
- Tudo bem, os documentos são simples senhorita Ducant... -Quando o homem iria explicar, Felícit coloca sobre a mesa todos seus documentos
-Eu já sei essa burocracia, pode pular o falatório desnecessário Teri - Pronunciou convencida e a amiga e Teri riram de sua atitude tão atirada
-Ok, muito obrigado senhorita Ducant, estou conferindo, pode assinar aqui na linha pontilhada por favor, precisamos do valor do lugar adiantado, tudo bem? -Explicava o imobiliário enquanto conferia os documentos da moça, e ela assinava os papéis.
- Claro, a quem devo pagar? - Perguntou direta tirando a carteira de couro marrom da bolsa, sem tirar os olhos da enorme escada, que só agora ela percebeu o quão bem cuidada era.
- A mim mesmo, todo mês nesse mesmo dia virei cobrar o aluguel, feito? - Como um grande maníaco de limpeza, o homem de terno, limpou suas mãos com um pouco de álcool sem medo de ser julgado, e a estendeu a ruiva que sem pensar duas vezes apertou com convicção, e logo em seguida lhe entregou o dinheiro, que o mesmo fez questão de colocar logo em seguida em um envelope lacrado e mais uma vez umedeceu suas mãos, se despediu e sumiu depois da porta da frente ser fechada.
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Ghost
Paranormal"(...) Norte era um herói de milhares de aventuras. Não era um mago, nem ladrão, nem guerreiro, mas uma figura poderosa de alegria, mistério e magia sem fim, que vivia numa cidade tomada pela tristeza. (...) Então o sonho fez algo que somente os son...