Capítulo 2 - Scarllat

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— Quantos anos você tem? — ele perguntou curioso.

— Achei que iríamos falar de Júnior. Ele faleceu há algumas semanas.

— E já conseguiu vender tudo?

— Sim. Aceitei a primeira oferta, para atender ao pedido das viúvas.

— Jucélia e Rosana.

— Também tem Lenilce. Ela não teve filhos, mas era sustentada por ele. — Mordi o lábio, preocupada com as informações que pudessem comprometer alguma delas.

— Elas precisam de ajuda, certo?

— Sim, mas eu já resolvi. Está tudo nas mãos delas.

Osvaldo colocou a garrafa de água vazia em cima da mesa e me encarou, intrigado. Eu estava incomodada com seu escrutínio e queria ter forças para o mandar embora, mas estava presa por conta de um sentimento de reconhecimento: não éramos a família de Júnior, mas sofríamos pela sua morte.

— E a sua parte?

— Qual? — Franzi o cenho.

— Você vendeu tudo, ajudou as mulheres e não pegou nada?

Eu não sabia que tinha deixado implícito esse tipo de ação da minha parte, muito menos que aquela informação seria útil para o homem. Como tinha aceitado conversar com ele, resolvi ser sincera e abrir meu coração.

— Por que eu deveria ter parte em algo que nunca foi meu? Esse é o patrimônio de Júnior e a herança dos seus filhos. Pedro, o mais velho, precisa fazer acompanhamento médico por conta do problema hereditário.

— Você é muito altruísta.

— Apenas justa. Sei o quanto a família era importante para Júnior. Fiz minha parte, mais uma vez consegui retribuir o que fizeram por mim.

— Sim. Você foi adotada.

— Não. Eles me deram um teto e comida. O nome que tenho na minha identidade é fictício. — Soltei o ar com força, sentindo uma tristeza me dominar. — Eu prefiro falar sobre Júnior, não da minha história. Vocês se conheceram quando?

— Há muitos anos. Venho todos os meses o visitar e falar sobre a vida. — O senhor relaxou na cadeira e olhou para o teto. — Era o melhor lanche da cidade. Não havia x-bagunça mais organizado do que o do Júnior.

— Preferia o x-salada.

— Meu filho gosta desse. — Seu olhar voltou para o meu com um brilho diferente, mais vivo.

— Ele não o acompanha?

— Prefere manter distância desse lado da minha vida. Apesar da minha posição atual, eu já estive tão igual ou abaixo de Júnior. — Apontou para a cozinha. — O perfume que me acompanhava todos os dias era o de hambúrgueres assados.

— Uau. O senhor já foi chapeiro?

— E garçom. Caixa. Copeiro. — Conforme eu ia me surpreendendo, seu sorriso satisfeito ia ganhando forma. — Foi um longo caminho até chegar onde estou. Mas faço questão de não esquecer minhas raízes.

— Júnior é algo seu? Também teve as mesmas oportunidades?

— Nossa história é diferente. Enquanto eu tive foco e amei uma pessoa, por toda a minha vida, ele quis abraçar o mundo.

— Sim, ele era aquele que dava conta de tudo e de todos. Por isso mal conseguia relaxar. — Inclinei-me para frente e peguei a garrafa vazia para a abrir e fechar. Tirar o foco de Osvaldo me ajudava a não chorar.

O Acordo (A Virgem e o Professor CEO) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora