Eu amava regras. Era tão mais fácil seguir um roteiro do que me dar liberdade para fazer do meu jeito. Estava acostumada a ser criticada e a ver nenhuma das minhas ideias serem boas o suficiente.
Como dizia meu professor Samuel: eu só não fracassei como aluna porque consegui me destacar em outras áreas. Mas, segundo ele, no mercado de trabalho, eu nunca teria sucesso.
Ele estava certo sobre tudo o que falava de mim. Doía saber o quanto me conhecia e usava meus defeitos para me desestimular. E, por mais que o sensato fosse ignorar aquele homem que não media palavras, ele vinha à minha mente todas as vezes que eu cumpria uma obrigação.
Cheguei pontualmente para falar com o senhor Osvaldo. Poderia não ser empreendedora, mas me tornaria a melhor funcionária. Líderes não eram feitos sem os bons liderados. Eu conhecia minhas limitações e preferia me manter sob o radar.
Sentada na sala de espera da empresa que ficava em um dos prédios comerciais mais incríveis da cidade, aguardei a secretária me anunciar para poder falar com o homem que conhecia o meu primo-pai.
Eu tinha insônia normalmente e com ela mesclada à ansiedade, passei a noite contando os minutos para estar naquele ambiente. Eu vivia com corretivos e batons, para ocultar do meu rosto o quanto eu parecia um zumbi.
— Vamos, Scarllat? — a mulher simpática me chamou e se levantou. Fiz o mesmo e a acompanhei até a sala do homem, que era atrás da última porta do corredor.
Há muito tempo que eu não sorria com sinceridade. E durou pouco a minha empolgação com um novo emprego.
Assim que a porta foi aberta, eu vi aquele que me atormentava, mesmo depois de ter concluído a faculdade. O professor Samuel estava de pé, ao lado do senhor Osvaldo, e os dois pararam de conversar para me ver entrar.
— Olá, Scarllat. Por favor, venha se sentar. — O homem que marcou a reunião estava entusiasmado, mas eu não conseguia falar, por conta do meu coração acelerado.
As palavras que depreciavam a minha postura como boa executora invadiram a minha mente e quase fugi da sala ao invés de me aproximar.
Meus olhos estavam no homem bondoso que me deu a oportunidade, mas eu sentia o olhar do meu professor queimar meu corpo, com desprezo e cinismo.
— Scarllat? — Osvaldo me chamou e pisquei várias vezes para me centrar nele. Esbocei um sorriso falso e me sentei a sua frente. — Que bom que você veio. Este é Samuel, meu filho.
— Ela foi minha aluna, pai.
Fui obrigada a encará-lo. Recordava o tom de voz, a cor dos olhos e a intensidade da sua respiração. Tinha decorado onde estavam as marcas de expressão perto dos seus olhos e testa, além do tique nervoso que ele tinha com a ponta da caneta.
Três apertos. Uma respiração profunda. Três apertos.
— Olá, professor Samuel.
— Você a quer na nossa equipe de programadores? — Ele encarou o pai e Osvaldo não se incomodou com o que estava subentendido na pergunta.
— Como te disse, temos equipes masculinas demais. Ela é a pessoa certa para trabalhar com Augusto, Denis e Neymar.
— Então, será como suporte. Ela pode ir para o telemarketing — rebateu, como se eu não estivesse presente e seu desprezo por mim não fosse palpável.
— O que mudou? Estava concordando comigo antes de saber quem era. — Osvaldo franziu o cenho e bufou antes de me encarar com tranquilidade. — Sinto muito, Scarllat. Essa não é a conversa que eu queria ter com você.
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O Acordo (A Virgem e o Professor CEO) - Degustação
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