Encontro de dois corvos

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Kagehinas, preparados?  ♥


***


A sala de aula escura e supostamente deserta encontrava-se preenchida por um clima anômalo; a dúvida e receio pairava sobre o ambiente, um fino véu de pusilanimidade abrangendo o único e pequeno ocupante do espaço. A única fonte de luz presente derivava da fraca iluminação natural do céu cinzento, a qual proporciona um aspecto quase caliginoso, e do pequeno brilho vindo do aparelho celular.

"Fico feliz que tudo esteja bem agora, Shouyou"

— Kenma

Hinata Shouyou, unicamente entretido em reler a mensagem de Kenma Kozume pelos últimos minutos, levantou os olhos, encarando o nada em particular. Por alguma razão, havia chegado muito cedo à escola, e por conta do frio que fazia no exterior de qualquer estabelecimento, decidiu ir direto para sua sala e esperar o restante dos alunos chegar.

Uma manta reflexiva envolveu, mais uma vez, a cabeça ruiva de Hinata, ditando as palavras de Kenma na própria mente. O amigo estava certo, não? Realmente estava tudo bem agora. Àquela altura, Daiō-sama e seu fiel cavaleiro já deviam ter feito as pazes, e, talvez, reatado o namoro anteriormente findado. Iwaizumi garantiu-lhe que o efeito borboleta que o vídeo trouxe para si seria consertado, e, logo, ninguém mais pensaria besteira do alaranjado outra vez. Não sabia muito bem como ele faria isso, mas não podia-se dizer que essa tratava-se da maior preocupação de Shouyou.

Não... era como se ainda houvesse uma coisa não-esclarecida, algo que, definitivamente, originava aquele sentimento de desistência e confusão no pequeno isca de Karasuno. Sentia-se perdido; justamente o sentimento que varria-lhe o peito desde o início daquela farsa e que, agora que a mesma havia sido revelada, em vez de diminuir, ele havia, inquestionavelmente, subido de grau.

Hinata não estava triste. Apenas não sentia-se... seguro com alguma coisa, algo que ele, por alguma razão, estava procurando há dias e não encontrava de jeito nenhum. Não sabia nem explicar para si mesmo tal situação.

Seus olhos-castanhos varreram a sala, observando as carteiras vazias e a lousa sem uma única inscrição à giz, pronta para ser usada para mais um dia de aprendizado. O pior era que o problema por qual passava estava tirando ainda mais seu foco sobre as tarefas escolares, já prevendo que logo teria de recorrer à Yachi, outra vez.

Suspirou. Estava sentado acima da primeira carteira no canto da sala — estaria com sérios problemas se um professor o visse ali —, a qual fazia parte da fileira encostada ao lado da janela. O pequeno amante de vôlei recebia o apoio da parede a suas costas, o que proporcionava um melhor acomodamento; uma das pernas estava estendida, o pé balançando para frente e para trás, enquanto a outra estava dobrada.

Afinal, a quem queria enganar? Estava óbvio que, para Hinata, aquela história ainda não havia terminado.

No instante que tentava consolar seu espírito com a lembrança de que poderia se distrair no treino mais tarde — apesar de seu estado meio confuso e quase borocoxó, Shouyou estava com energia para dar e vender por todos aqueles dias sem jogar vôlei —, a mente distraída do alaranjado despertou ao escutar a aproximação de alguém. Temeu na mesma hora que fosse algum professor, já lamentando desesperadamente o fato de que não teria tempo de deslizar para fora da carteira; havia descoberto que a perna estava sem sangue por tanto tempo dobrada.

Preparando-se para a bronca que tomaria por estar sentado em cima da mesa, o ruivo já começava a pensar em alguma desculpa — se jogar no chão talvez fosse uma boa pedida, mas lembrou que se machucasse algum membro, não conseguiria treinar depois —, até que a porta se abriu e o pequeno impressionou-se com a imagem da pessoa inusitada.

A FarsaOnde histórias criam vida. Descubra agora