Vilarejo

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_Bom dia comandante! – Wave batia na porta do quarto de Esdeath, carregando em sua mão esquerda uma bandeja recheada com bolinhos e uma xícara de chá de hortelã. Que deixará aquele cheiro delicioso e refrescante por onde passava. Wave mal sabia que aquele trabalho poderia ser o último de sua vida, contudo ele sabia que algo estava de errado com toda aquela situação.
Esdeath não respondia ao chamados apelativos de Wave, sua vontade era a de chutar aquela porta a sua frente. Todavia seus instintos diziam o completo oposto, havia uma fera adentro daquele quarto. E nenhuma pessoa deveria ao menos chegar perto dela.
Um estalo foi dado nas costas de Wave, que rapidamente sentiu uma mão fria subir por suas costas. Aquele momento Wave sabia que a hora de sua partida havia chegado, rezando em seu subconsciente para que a sua chegada no inferno pudesse ser bastante receptiva.
_Wave... – Sussurrou Kurome.
_Ai que susto! Meu Deus Kurome, não chegue por trás de mim assim! – Wave se sentiu aliviado após saber de quem realmente tratava aquela presença ameaçadora.
_O cozinheiro lhe mandou para a morte... Esdeath está naqueles dias onde as mulheres se sentem uma rosa desabrochada... A chamada “tensão pré-menstrual”. E Esdeath neste período não fica nada sociável com o mundo, aconselho que você se retire e deixe está tarefa para os profissionais na área.
Kurome era a única e exclusiva pessoa em toda a capital que conhecia realmente sua comandante, e ela sabia da fúria e estresse que Esdeath carregava nestes horríveis dias. Podendo facilmente dilapidar a capital inteira por algum erro de um servo ou escravo, nenhuma falha era aceita por Esdeath. Que matava qualquer um, independente de quem fosse.
_Você tem certeza Kurome? – Perguntou Wave com calafrios percorrendo por seu corpo frio como o de um cadáver.
_Uma vez ela matou o cozinheiro por ele ter colocado uma grama de açúcar a mais em seu café da tarde... Aquele foi o último erro do cozinheiro que teve seus pés cortados por serrotes, morrendo de hemorragia logo após.
Wave paralisou de medo, entregando a bandeja para Kurome e correndo o mais rápido possível para longe do quarto de Esdeath. A cada passo, uma sensação de dever cumprido preenchia seu coração. Aumentando a velocidade de seus pés conforme o medo aumentava.
_(Eu não quero morrer hoje... Me desculpe divina Esdeath, mas hoje você ficará sem café da manhã).
Tatsumi havia acabado de entrar no palácio real, tentando se localizar naquele imenso lugar. Ele esforçava sua mente a procura de um banheiro, até que se lembrou do quarto de Esdeath. Tatsumi estava a cinco dias sem tomar algum banho, as pessoas que passavam ao seu lado sentiram o odor forte que exalava de seu corpo e trapos que o vestia.
Seus cabelos tampavam seus olhos de tão grandes, além de suas unhas estarem como garras de ursos das cavernas. Seus pés estavam descalços, sujando todo o piso do palácio que era arduamente limpo e polido todos os dias.
Tatsumi despertou o ódio nos servos, sendo parado por guardas logo após de ser apedrejado e ser o alvo de zombarias. Um grande soldado segurou seu braço e o questionou.
_Esse lugar não é para mendigos! Se retire antes que eu te force a isso... Seu morador de rua de merda.
O grande soldado cuspiu no rosto do garoto, que em nada se mostrou afetado. As zombarias continuaram e formaram um grande tumulto, chamando todos os soldados e vigias até o local, para presenciarem a surra que aquele pobre mendigo iria levar.
_Kurome... Um mendigo entrou no palácio, e um dos guardas está querendo espancar ele. Não vai querer ver? – Perguntou Wave interessado pela luta que poderia acontecer.
_Vá na frente Wave, depois eu irei...
O grande guarda já estava perdendo sua paciência, ele perguntava diversas coisas ao garoto, que não respondia nada. Apenas continuava na mesma posição de sempre, olhando seu reflexo no chão e sorrindo apenas para si mesmo.
_Guarda, você pode me dizer onde exatamente fica o quarto de Esdeath? – Perguntou Tatsumi humildemente.
_Você está de sacanagem não é moleque? Bom... você será morto daqui a pouco mesmo, então irei falar... Ele fica a noroeste daqui, no corredor número 20. Agora venha conosco para a forca.
Tatsumi apoiou seus pés e firmou seus punhos, ele rapidamente nocauteou todos os guardas e correu pelos corredores. Nenhuma pessoa ali era capaz de acompanhar a velocidade em que Tatsumi corria, ele era semelhante a uma sombra que se escondia nas partes mais escuras do palácio. Até que finalmente o garoto encontrou o quarto de sua mestra.
Após seu treino, Tatsumi podia facilmente distinguir a força de seus inimigos, e adentro daquele quarto estava uma fera indelicada e feroz, capaz de mata-lo em um instante. Mas o garoto em nada se amedrontou, ele se aproximou da porta e girou a maçaneta. Tatsumi teria pesadelos com aquela visão.
Esdeath estava abraçada com um travesseiro, enquanto várias partes de sua cama estava pintada com seu sangue congelado. O quarto mais parecia uma caverna do que um quarto propriamente dito, camadas grosas de gelo cobriam as paredes e o teto, as roupas de Esdeath estavam reduzidas a meros pedaços de pano, suficiente apenas para cobrir as partes mais íntimas.
Os olhos de Esdeath estavam vermelhos como animais famintos, e seus cabelos bagunçados a deixavam ainda mais parecida com uma fera. Unhas e dentes estavam afiados como facas amoladas, mostrando que Tatsumi havia feito o maior erro de sua vida.
_Nossa, você não parece em nada com a Esdeath de quando sai. – Comentou Tatsumi sorrindo e fechando a porta do quarto de sua mestra.
_Quem é você seu... Filho da puta! Por quê está aqui!? – A voz de Esdeath não era a mesma. Estava mais semelhante a um dragão que cuspia gelo e fogo, deixando um rastro de destruição por onde passava.
Tatsumi rapidamente soube do que se tratava aquela súbita mudança de comportamento de sua mestra. Mas Esdeath não era a única que sabia tratar os outros daquela forma.
_Você me mandou para o inferno Esdeath! Graças a sua ordem muitas pessoas morreram! Você não passa de uma criança temperamental com poderes... Devia tomar vergonha na cara e sair dessa caverna que esconde uma vagabunda feita você!
Esdeath encarou Tatsumi com raiva demonstrada na forma de chamas em seus olhos. E avançou contra o garoto com as mãos nuas, armada apenas com suas unhas grandes. Tatsumi desviava de todos os avanços de Esdeath, até que sua mestra iniciou o verdadeiro jogo.
Esdeath congelou o corpo de Tatsumi por inteiro, deixando apenas sua cabeça do lado de fora. Esdeath aproximou-se e sufocou o garoto, ela sabia que conhecia aquele mendigo, mas não daquela forma.
Tatsumi quebrou o gelo que o prendia, deixando Esdeath surpresa com seu surpreendente feito.
_Droga, você congelou as minhas roupas! As roupas que eram de Battousai! Elas eram especiais caralho!
Tatsumi agora estava nu naquele lugar apertado e congelante. Esdeath o analisava, tentando lembrar de quem se tratava aquela voz e estatura física.
_Quem é você? – Perguntou Esdeath prendendo Tatsumi mais uma vez no gelo.
_Aaahhhh!!! Agora eu tô puto! Esdeath sua vagabunda, aquelas roupas eram especiais!!!
Tatsumi também despertou sua ira, seus olhos estavam como os de Esdeath, exalando grande raiva devido alguma coisa que o fizeram. O odor que Tatsumi exalava pouco a pouco tomava o espaço daquele cheiro de gelo e lodo, os cabelos do garoto arrepiaram-se de puro ódio, uma ira que poderia ser sentida a algumas dezenas de metros.
_Eu sabia que era você Tatsumi! A entonação de sua voz continua a mesma quando me chama de vagabunda!!! Você ainda está vivo! Que alegria eu estou sentindo!!!
Esdeath desfez a prisão de gelo que cobria Tatsumi e o abraçou fortemente, o garoto sentia o cheiro de sangue que exalava de Esdeath, da mesma forma que sua mestra sentia o cheiro de cadáver do garoto.
_Esdeath, você está fedendo! – Afirmou Tatsumi apertando seu nariz e desviando o olhar de sua mestra.
_Você também Tatsumi! Parece que não toma banho a cinco meses... Está mais musculoso não é? E também ficou mais forte! Isso é nítido. – O coração de Tatsumi era preenchido de ódio por aquela mulher que tanto o amava. Em sua cabeça, todas as mortes que ele carregava em suas costas, na verdade pertenciam a Esdeath.
Esdeath continuava a abraçar Tatsumi mesmo com seu mal cheiro, a saudade era muito mais forte que qualquer outra dificuldade que o destino impusesse.
_(Ela destruiu as roupas do meu mestre... Sendo assim, eu irei desafia-la no estilo Battousai!) Esdeath! Olhe em meus olhos... – Resmungou Tatsumi.
Esdeath encarou Tatsumi, que a desafiava apenas com a persistência de seu olhar. Battousai havia lhe ensinado a ver as almas das pessoas pelos olhos, mas aqueles que Tatsumi tentava desvendar. Eram frios demais.
_Eu a desafio! Em... Em uma partida de vôlei! – Declarou Tatsumi, deixando  Esdeath surpreendida com o desafio imposto pelo garoto. Faltava-lhe apenas a resposta da dama azul para que os jogos se iniciassem.
_Eu aceito seu desafio! Mas eu quero acrescentar algumas condições nesse desafio... Se você perder, eu quero que você me acompanhe em uma viagem... – Esdeath foi interrompida por Tatsumi, que deu um simples peteleco na testa de sua mestra, fazendo a mesma ficar com um pequeno hematoma no local do impacto.
_Todavia, se eu ganhar... Eu quero a minha total liberdade! Você aceita Esdeath?
O desafio foi aceito, e ambos apertaram as mãos, Tatsumi estava com suas esperanças renovadas, enquanto Esdeath ajeitava suas malas para a viagem. A vitória já estava batendo na porta da dama azul, mas o garoto não deixaria tudo aquilo ser levado em vão.
Esdeath arrastou Tatsumi até seu banheiro, os dois se limparam até que o mal cheiro se extinguisse por completo. Esdeath aparou todos os cabelos de Tatsumi, exceto apenas em alguns lugares aonde o garoto não permitia. Aquele foi o real inferno para o garoto, tendo várias chances de um possível assédio por parte de Esdeath em suas costas. Ambos saíram do banheiro apenas quando a higiene havia sido restaurada.
_Me encontre na quadra de vôlei as três horas da tarde. Se você se atrasar um minuto se quer... Eu te jogo em uma piscina de óleo fervente! – Esdeath encarou Tatsumi com seus olhos azuis que transmitiam uma aura de morte, congelando parte do piso encerado do quarto de Esdeath. – Ah! Não esqueça de seu time, no máximo duas pessoas... Te espero lá.
Esdeath fechou a porta do quarto delicadamente, tentando avistar o corpo nu de Tatsumi que ainda experimentava algumas roupas dadas por Esdeath. O garoto sabia que sua mestra era uma pervertida com poderes surreais e escondia suas partes íntimas a todo momento.
O tempo se passou e Tatsumi não encontrava nenhum companheiro que soubesse jogar. Ele passou a mão em sua testa e se sentou em um banco no campo de treino, Tatsumi não conhecia ninguém confiante o bastante para apostar a sua liberdade em um jogo de vôlei, ele olhou para o relógio pregado na parede e se assustou com o tempo.
_Droga!!! Já são duas e cinquenta e nove! Mas que droga... Eu vou ter que jogar sozinho mesmo! – Tatsumi se levantou do banco e foi recebido com um aviso de sua barriga. O garoto sentiu uma enorme dor vinda com uma fome insaciável, até que se lembrou do motivo escondido por trás disto. – Merda, não como nada já fez uns quatro dias... Se eu continuar desse jeito vou desmaiar de fome daqui a pouco.
Tatsumi corria como um desenfreado pelos lugares do palácio, até chegar em um galpão aparentemente abandonado e coberto por barras de ferro que não permitiam a passagem da luz do sol. Plantas e insetos dominavam aquele galpão abandonado no meio do nada, Tatsumi se aproximou e bateu na porta. Ele foi recebido com um abraço forte de Esdeath que o beijou acidentalmente nos lábios.
_Aqui está você, nem um segundo atrasado. Está é a minha quadra de vôlei de praia pessoal, eu não gosto muito de sol então eu mesmo tampei todas as paredes e o teto... Sou uma péssima engenharia, mas o importante é que deu certo... – Esdeath forçava Tatsumi a toca-la, levando a mão do garoto as suas costas e em seus ombros. Todavia Tatsumi recusava apalpar Esdeath em qualquer lugar que fosse, ele se sentia estranho por ser forçado aquilo.
_Podemos para com isso... – Tatsumi afastou Esdeath e deu alguns passos para trás. – Não me sinto legal sendo forçado a isso Esdeath, eu não gosto de você, e não tenho nenhum plano de ficar com uma desalmada como você!
Esdeath calou Tatsumi com um beijo caloroso e incumbido de sua paixão carnal, ele experimentou com seus lábios o que qualquer homem sacrificaria a vida para obter por uma única vez. Saliva descia dos lábios de Esdeath que continuava a beija-lo até que seu fôlego se esvai-se.
Tatsumi empurrou Esdeath para trás e limpou seu lábio. Ele ejetou sua saliva misturada com a de Esdeath aos pés de sua mestra, ele se sentia enojado com as ações de sua mestra.
_Você me dá nojo Esdeath, pensando que todas as pessoas aceitam suas ordens sem nenhuma resistência. Mas você é só uma puta maluca que gosta de mandar nos outros... Você me enoja! – As palavras de Tatsumi abalaram Wave e Kurome que se escondiam por trás da porta que trancava a quadra.
Esdeath estava irada com Tatsumi, ela o agarrou pelo pescoço e começava a sufocar o garoto. Tatsumi não se sentia ameaçado pela força de sua mestra, e não demonstrava nenhum resquício de dor. Ele mobilizou o braço que o enforcava e espremeu as bochechas de Esdeath uma contra outra, de uma forma que sua mestra ficasse com a boca semelhante a de um peixe.
_Por sua causa Esdeath, algumas pessoas que eu conheci morreram. Tudo isso por causa da localização daquela escavação. Eu nunca te perdoarei pelo o que me fez passar, não só a mim mas como todas as pessoas que perderam a vida por um segredo inútil.
Tatsumi soltou sua mestra e a deixou do jeito que estava. Esdeath estava surpresa com a força e velocidade de Tatsumi, após isso ela notou mais uma vez a diferença no corpo de seu servo. Ele estava mais musculoso do que antes, Tatsumi estava quase da mesma altura de Esdeath e seu corpo estava repleto de sequelas de um treinamento muito rigoroso e perigoso.
_Eu não entendo seu ódio irracional por mim. Eu te salvei naquele dia e você retribui meu amor por você com ainda mais ódio... Eu te dei comida, te dei amor, eu te dei roupas, confiei em você para cuidar de mim, deixei você vivo por todo esse tempo. Eu já até toquei seus lábios com os meus... Isso é incompreensível para mim, pense Tatsumi. Pense! Se não fosse por minhas ordens você já estaria enterrado a sete pés a muito tempo. Seu sacrifício pelo grupo revolucionário seria completamente em vão! Então pense bem antes de me culpar por seus fracassos...
Esdeath virou suas costas para Tatsumi e seguiu em frente na direção do palácio, sem olhar para Tatsumi que observava sua mestra caminhar com roupas de praia. Ele refletia sobre o que Esdeath havia discutido, seus punhos se fecharam e um baixo ranger de dentes foi escutado. Pela primeira vez, Tatsumi tentava entender o lado de Esdeath e tudo que a mesma havia feito para mantê-lo respirando.
_Espere Esdeath... – Pediu Tatsumi estendendo sua mão direita para Esdeath que voltou sua face para o garoto.
_Eu não quero mais conversar com você Tatsumi, vá limpar os estábulos e depois peça para Run lhe dar novas ordens... Vá agora antes que eu me aborreça ainda mais com você. – Os olhos de Esdeath demonstravam a reprovação de Tatsumi por sua parte. Ela estava tristonha por dentro de sua cabeça, mas enraivecida por fora.
O sol vivido deixava aquele clima ainda mais tenso, Wave e Kurome se preparavam atrás da porta para caso Esdeath resolvesse dar um fim na vida de Tatsumi. Os pássaros que voavam pousaram no teto da quadra, e apenas observavam o que ali estava acontecendo. O vento quente trazia para Tatsumi o perfume da mulher que estava a sua frente, um perfume que Esdeath havia guardado para a vinda de Tatsumi a capital, todos os planos românticos de Esdeath foram jogados ao lixo com a rebelião ousada do garoto. Ela se sentia como uma rosa desabrochada em um deserto árido e escaldante, em pouco tempo Tatsumi havia se tornado uma prioridade para a esbelta dama azul. Esdeath reconhecia que sua paixão sem limites por Tatsumi lhe traria um turbilhão de problemas, contudo ela não conseguia se controlar quando imagina seu servo a seu lado, ambos construindo um futuro para as próximas gerações.
_Eu desisto da partida... Te declaro a vencedora da aposta. – Comentou Tatsumi.
_E daí, eu não ligo mais para a aposta. – Disse Esdeath que ainda encarava de canto Tatsumi.
_Não se lembra? Caso eu perdesse, você me levaria para uma viagem... Estou aguardando você se manifestar sobre isso... – Tatsumi fez um leve sorriso de canto, mas que carregava parte da alegria que uma vez ele sentiu.
Esdeath se relembrou da aposta e apertou a mão de Tatsumi,  um sorriso malicioso se fez no canto da boca de Esdeath. Ela voltou a caminhar para o palácio, mas com outros objetivos em mente.
_As vinte horas irei preparar uma carruagem apenas nossa, esteja pronto até lá. Leve roupas e o que precisar, passaremos um tempo fora da capital. Não perca a noção de tempo e me encontre as dezenove e quarenta no meu quarto, de lá partiremos. Até mais!
O tempo se passou, Tatsumi aguardava com as costas escoradas na parede do quarto de Esdeath. Ele vestia um terno preto com uma gravata branca dado por Esdeath, em seus pés sapatos sociais simples engraxados com as mais finas e delicadas mãos. Tatsumi não entendia o motivo de estar trajado aquelas roupas, mas não queria despertar o desprezo de sua mestra uma vez mais.
Sons de passos foram escutados do corredor que levava aos aposentos de Esdeath. Era ela, esbelta e pomposa como sempre, trajada com um terno preto e gravata branca, quase os mesmos de Tatsumi. Esdeath trazia consigo duas bolsas, uma de couro e outra de pano, o conteúdo que estava dentro era um mistério para Tatsumi.
_Boa noite garçom, nossas malas já estão lá fora. Me acompanhe de boca fechada... – Esdeath entregou a bolsa de couro para Tatsumi e o segurou pela mão, Esdeath guiava Tatsumi pelos corredores o puxando pela mão. Tatsumi estava com Bloodscythe amarrada a sua cintura, e com o diário do pesquisador em um dos bolsos de seu terno.
Esdeath e Tatsumi chegaram até a carruagem, mas algo estava incomodando o garoto que observou delicadamente cada detalhe e peça daquela carruagem.
_Esdeath... Onde está o carroceiro? – Perguntou Tatsumi auxiliando Esdeath a por as bagagens dentro da carruagem.
_Não precisamos dele, está viagem foi ordenada pelo ministro pois ele não suporta mais a opressão do lugar para onde iremos. E eu não confio em carroceiros, eu sei cavalgar sabia? Digo, não do jeito que você está pensando, mas sim com cavalos... Ah, esquece... Suba e se sente do meu lado, teremos uma grande jornada pela frente...
Assim fez Tatsumi, como sua mestra havia ordenado. Ele terminou de organizar a charrete e subiu a bordo, fazendo companhia para Esdeath por toda a noite que estava apenas a iniciar.
O cheiro da carruagem lembrava o nostálgico suor de sua mãe adotiva, as rodas eram adornadas em ferro em formatos de rosas e cavalos que passavam em campos pacíficos. Havia quatro cavalos que se encarregavam de locomover a carruagem, ambos eram negros como o céu vazio da noite que estava por acontecer. Havia apenas uma porta para a carruagem, ao lado oposto da porta estava uma pequena janela difícil de se abrir.
Tatsumi e Esdeath estavam sentados bem próximo aos cavalos, em um banco feito de madeira. Esdeath segurava o chicote e aguardou Tatsumi estar a seu lado. O garoto subiu a bordo e a viagem iniciou-se.
Eles estavam a alguns minutos desde a partida em completo silêncio. Tatsumi encarou Esdeath por alguns instantes e decidiu quebrar o clima estranho daquela noite sinistra.
_Por que está tão calada? – Perguntou Tatsumi.
_Estou concentrada, e também pensava que você não quisesse falar sobre nada. – Respondeu Esdeath.
_Me desculpe... – Sussurrou Tatsumi abaixando sua cabeça.
_Pelo o que? – Perguntou Esdeath.
_Me desculpe por mais cedo, não devia ter descontado os frutos de meu fracasso em você. Me desculpe. – A floresta era escura, a única luz era as das lamparinas incandescentes que estavam na carruagem. Predadores noturnos estavam por toda a parte, mas eles sentiam a presença de um predador ainda maior. Um predador com longos cabelos azuis que afastava qualquer animal ou criatura mitológica.
_Não se preocupe, já me disseram coisas piores. Mas essas pessoas não estão mais vivas e provavelmente estão no colo do capeta... Você foi o primeiro que me ofendeu e saiu vivo, se sinta especial Tatsumi. – Esdeath soltou uma leve gargalhada e logo voltou a ficar séria.
_(Ela está se fazendo de difícil?) Se sentir especial, haha... O ar está úmido demais, até mesmo para estás terras. Está vindo uma chuva, e é das fortes... Aconselho que voltemos enquanto não estamos tão distante da capital.
As palavras de Tatsumi foram ignoradas por Esdeath, que continuou a chicotear os cavalos com ainda mais força e velocidade. Ela reconhecia que as palavras de Tatsumi eram carregadas de verdade, mas não iria obedecer os pedidos de seu servo.
_Há uma estalagem aqui próximo, não iremos demorar muito até chegarmos lá. Talvez seja uns cinco quilômetros até lá, então vamos o mais rápido possível.
A estrada era repleta de pedras e buracos, qualquer deslize de Esdeath poderia ocasionar na morte de algum dos cavalos e o tombo da carruagem. Uma forte neblina tomou conta da estrada e floresta, não era possível enxergar muitos metros a frente graças a neblina espessa.
Esdeath sentiu um forte cansaço e sonolência em seu corpo, Tatsumi estava assustado com o estado quase sonâmbulo de Esdeath que frequentemente fechava seus olhos por tempo prolongado. Ele tentou acordar Esdeath contudo foi tarde demais, um corte quase invisível cortou dois dos quatros cavalos ao meio, o resultado era previsível. A carcaça dos cavalos mortos voaram avante de Tatsumi e Esdeath, Tatsumi protegeu Esdeath cortando as carcaças. Porém os únicos dois cavalos foram alvos de flechadas e dardos com venenos mortais.
Esdeath e Tatsumi caíram em um desfiladeiro de dezessete metros junto da carruagem, o garoto agarrou Esdeath pelos braços e a segurou com força. Ambos caíram na água, adentro da carruagem para que os danos fossem diminuídos aos dois. Tatsumi não compreendia o porquê daquele ataque aparentemente organizado por índios locais.
Tatsumi nadou com Esdeath em suas costas até que estivessem seguros na beira rochosa do riacho. Sua mestra seguia desacordada, como se Esdeath fosse alvo de um potente tranquilizante. A chuva começou a descer do céu furioso, como um turbilhão de água.
Tatsumi abraçou sua mestra desacordada com força e a protegeu até o amanhecer. Uma flecha atingiu a panturrilha de Tatsumi, ele sangrava o suficiente para matar uma pessoa normal por hemorragia. O garoto arrancou a flecha e percebeu que sua ponta era de uma rocha comum na região, coberta por um líquido verde que circulava pelas veias do garoto.
_Não se preocupe garoto, o veneno não lhe fará mal. Eu irei curar seu corpo, tente manter o calor corporal de sua namorada enquanto isso.
_Ela não é minha namorada troll. Tente achar a composição dessa gosma verde o mais rápido possível.
A corrente de água levava a carruagem para um destino que não pertencia a Tatsumi e nem Esdeath. O som dos furiosos pingos de água caindo nas rochas lembravam Tatsumi de seus falecidos mestres, e de uma parte de seu treinamento rigoroso.
_Es... Está aí Tatsumi? – Balbuciou Esdeath abraçando o garoto com força, puxando o peito de Tatsumi para o seu.
_Estou, não se preocupe. Irei pensar em alguma coisa para nós tirar dessa situação. Tente descansar, mais tarde iremos discutir sobre o que aconteceu...
O tempo se passou, a chuva continuou a cair mesmo com o início do nascer do sol. Esdeath continuava adormecida e abraçada a Tatsumi, o cheiro de seu perfume se mantinha, mas em doses menores, que pouco a pouco foi passado para as roupas de Tatsumi.
Ao amanhecer e enfraquecer da chuva, Tatsumi agarrou Esdeath em seus braços e a levou até a estalagem mencionada por sua mestra na noite anterior.
Chegando lá percebeu que era um recinto bem básico, construído com a mais básica e abundante madeira da região. Os pregos que seguravam a estalagem eram enferrujados como as janelas quebradas. A varanda era incompleta e havia rastros de agressão vindo de dentro da casa.
_Há alguém aqui? – Perguntou Tatsumi escutando sua própria voz com o eco que vinha de dentro da casa escura e abandonada.
_Hoho, visitantes depois de muitos anos... – Uma senhora velha saia da escuridão caminhando em direção a Tatsumi que segurava Esdeath adormecida em seus braços. A velha era coberta por um pano velho e empoeirado, cor verde opaco. Seu rosto era completamente enrugado e com feridas semelhantes as dos leprosos, seu cheiro era semelhante ao de um cadáver apodrecido.
Em suas mãos estava um cajado ornamentando de crânios humanos e outros ossos menores. Feito com uma madeira podre e repleta de cupins que saiam das mãos da velha.
_A mulher em seus braços... Foram vocês que caíram na água ontem? Isso explica algumas coisas. Pela palidez dela, a mulher está sob efeito de algum sedativo muito forte. Irei ver o que posso fazer... – A velha senhora estendeu sua mão para Tatsumi e aguardou a resposta do garoto.
_Eu não pedi a sua ajuda, não ainda. E não posso confiar em estranhos... – Tatsumi desviou seu olhar para o rosto de sua mestra e refletiu sobre o que fazer. Esdeath estava mais pálida do que nunca, seus lábios estavam escurecendo rapidamente como a ponta de seu nariz.
_Você que sabe... Cada segundo conta para a saúde da divina Esdeath... – A velha senhora virou suas costas e desapareceu para dentro da casa. Seus passos deixavam uma pegada de uma água podre e que cheirava a enxofre.
_Conhece ela? – Perguntou Tatsumi surpreso com a velha.
_Você não está em casa garoto, por estás terras ela é tratada como uma deusa. Há vários cultos para homenageá-la, e vários templos também. Sugiro que pegue isto e de a ela de oito em oito horas, vá para o vilarejo a nordeste daqui. O pessoal de lá irá tratar dela, eu garanto que eles irão ser gentis e lhe receberão com boas vindas... Mas eu peço cuidado com este remédio, ele pode ter efeitos afrodisíacos dependendo do paciente. Vá garoto, vá! Não perca um segundo sequer.
A velha estendeu sua mão na escuridão e entregou para Tatsumi um pequeno saco que cabia na palma da mão de Tatsumi. Dentro do saco estava alguns comprimidos que serviriam de remédio para a mulher desacordada. Tatsumi seguiu as ordens da velha e adentrou floresta a dentro, procurando o vilarejo citado pela senhora misteriosa.
Não demorou muito para que Tatsumi observa-se a fumaça no céu, simbolizando a proximidade entre ele e o vilarejo. O lugar era pacato, as pessoas em sua grande maioria eram camponeses pobres e humildes vestidos com trapos rasgados e imundos. As casas não eram tão complexas, mas cumpriam seu maior objetivo que era abrigar os moradores.
Uma estátua de Esdeath estava no centro do vilarejo, com rosas e papéis em seus pés. A estátua fora construída de mármore branco, abundante naquelas regiões montanhosas. Era uma estátua muito semelhante a Esdeath original, com as mesmas dimensões e medidas, o que assustava e tranquilizava Tatsumi.
_Vejam! É a divina Esdeath! – Gritou uma criança que brincava com sua humilde boneca de palha.
Uma multidão se fez ao redor de Tatsumi, ele estava apavorado com aquela multidão que logo esvaziou a melhor casa que o vilarejo tinha a oferecer e empurraram Tatsumi e Esdeath para dentro.
Um silêncio tomou conta do vilarejo, todas as pessoas vigiavam descaradamente o estrangeiro pelas janelas. Olhos famintos de curiosidade e admiração pela dama azul que estava aos braços e cuidados do garoto.
_(Agora definitivamente já vi de tudo... Um vilarejo que cultua a Esdeath é novidade pra mim.) Ó pessoal, por que vocês admiram e veneram essa mulher? – Nenhum cidadão respondeu o garoto, que deixou Esdeath em uma das camas da casa e se dirigiu para a cozinha. A fim de preparar alguma coisa para ambos comerem.
Esdeath abriu lentamente seus olhos, ela estava sonolenta mais que o habitual. Tatsumi percebeu e entregou para sua mestra um comprimido e um copo cheio de água, explicou para ela tudo que aconteceu enquanto Esdeath estava desacordada e se sentaram para conversar.
A casa era gigante, lá havia tudo que uma pessoa precisaria para sobreviver por toda a sua vida. As paredes e piso eram feitas da mais nobre madeira encerada do estado, os lustres eram feitos de ouro maciço adornados de pedras preciosas como safiras, esmeraldas e diamantes.
As maçanetas foram moldadas em formato de rosas em suas extremidades, feitas da mais pura e valiosa prata da região. Assim como os suportes de velas e grades das janelas.
_Em resumo foi isso, não sei aonde estamos exatamente. Mas esse pessoal te idólatra como uma deusa... Tem um mapa bem grande pregado na parede do quarto principal, pelo o que eu percebi, a oitenta quilômetros a norte daqui está a capital.
Esdeath estava deitada em uma cama de casal, suas fronhas e travesseiros eram da mesma cor de seu cabelo azulado. O cheiro de incenso infestava o quarto e empregava em suas paredes, porém o que mais surpreendia naquela casa era que em grande parte dos cômodos, havia uma pintura de uma família bem nobre que vestia as mesmas roupas que estavam no guarda-roupa do quarto.
Todas as pessoas eram pálidas e seus cabelos azuis distraiam a atenção do detalhe mais importante da pintura. Na pintura estava uma mulher pomposa e esbelta que segurava uma criança recém nascida em seus braços, junto com mais uma menina de cabelos azuis abraçadas a sua perna. Ao lado da mulher estava um homem muito semelhante a Tatsumi, contudo ele era um pouco mais alto e musculoso.
_Ouvi sobre esse pessoal uma vez, mas não pensava que seria assim... Aquele remédio que você me deu, tem algo estranho... – Esdeath apoiou sua cabeça em seus braços e a abaixou, as roupas da dama azul ainda estavam ensopadas pela chuva da noite. O que por fim encharcou os lençóis e fronhas da cama.
_Tente dormir. Mais tarde lhe darei algo para comer... Ainda são oito da manhã, você tem muito tempo para descansar... Depois iremos discutir sobre o objetivo dessa viagem.
Esdeath virou suas costas para Tatsumi e adormeceu, parte de trás do terno estava rasgado, o que transpareceu um pequeno corte próximo as costelas de Esdeath. O corte não era tão grave, mas depois de todos os lugares que eles passaram, uma infecção seria algo de se esperar.
Tatsumi limpou o corte e se relembrou de uma parte de seu treinamento, o dia na qual um enorme corte se fez em sua perna e Battousai cuidou do mesmo, o ensinando a suturar ferimentos em seu corpo ou nos demais. Tatsumi suturou o leve corte e trocou as roupas encharcadas de Esdeath, fechando seus olhos nas roupas mais íntimas.
Ele a vestiu com um pijama preto bem comprido e abafado, para manter o calor corporal de Esdeath. Uma tempestade de neve furiosa caía sobre aquelas regiões, a camada de neve que se formava no chão atrapalhava até mesmo os grandes animais da região.
O garoto trocou suas roupas que também estavam ensopadas e vestiu a que lhe coube. Um casaco amarelo junto de calças jeans e botas bico de aço, ele se relembrou do diário no bolso de seu terno e se sentou para ler.
Enquanto Tatsumi analisava o conteúdo do diário, ele cozinhava um prato típico de seu treinamento. Pato cozido ao molho de limão, era a especialidade de Tatsumi que apenas relembrava memórias nostálgicas de seu treinamento.
A tarde havia chegado, a neve continuava a cair sem descanso sobre aquelas terras. Tatsumi encheu um prato com a refeição recém pronta e levou para Esdeath no quarto lá estava. Ela dormia na mesma posição se quando Tatsumi se retirou do quarto, ele deixou o prato a cima de uma escrivaninha ao lado da cama e balançou levemente o ombro de Esdeath. Tentando acorda-la.
_O almoço está pronto, se não quiser comer eu dou para as crianças famintas do lado de fora desta casa... Uma simples decisão sua, pode fazer aquelas crianças felizes e com a barriga cheia... – Tatsumi puxou uma cadeira e a apoiou na parede ao lado da cama de Esdeath, com os pés da frente suspensos ao ar.
Esdeath começou-se a mexer-se vagarosamente, ela abriu seus olhos lentamente enquanto tentava reconhecer aquele sentado a seu lado.
_Tatsumi? – Perguntou Esdeath com sua voz sonolenta. – Se for você, estou feliz por não ter me abandonada naquele desfiladeiro... Eu agradeço muitíssimo por sua ajuda... – Esdeath encarou Tatsumi com suas bochechas coradas, tampou seu rosto com uma parte do lençol e virou-se para o outro lado.
_Queria que eu te abandona-se? Eu posso fazer isso agora se quiser... Mas não tive coragem o suficiente para te deixar apodrecendo de fraqueza naquele lugar. Por mais que fosse o que você merece... – Sussurrou Tatsumi para que apenas ele ouvisse.
_Então seria muito pedir para que eu merecesse você? – Sussurrou Esdeath apenas para ela mesma. – Eu me lembro de você ter falado sobre nosso objetivo aqui, a realidade é que eu recebi uma carta a uns três dias... As pessoas de um vilarejo estavam precisando de minha ajuda para acabar com algumas adversidades que eles não dão conta... A descrição do vilarejo bate exatamente com a desse, então nós achamos nosso objetivo por acidente... É engraçado isso haha. – Esdeath se virou mais uma vez, estando de frente para Tatsumi que começou a encara-la quase da mesma forma.
_A sua comida está esfriando enquanto você tenha me xavecar, e comida quente nestas regiões é uma coisa rara de se ver... – Tatsumi agarrou o prato de comida entregou para Esdeath, junto com um par de talher prateado e adornado com o símbolo do extrato do demônio. – Provavelmente as mesmas “coisas” que nos atacou na estrada, são as que estão matando e saqueando os fazendeiros dessa região... Quando cheguei aqui com você nos braços, percebi algumas conversas estranhas que circulavam pelo vilarejo, sem contar os corpos mortos que deixam aquela praça com um cheiro imundo...
_Que tipo de coisas você ouviu Tatsumi? Fale a verdade... – Esdeath experimentou pela primeira vez em sua vida um cozido de pato, e sua reação espantou até mesmo Tatsumi. Esdeath estava maravilhada com o gosto, enquanto Tatsumi achava sua própria criação, uma comida de gosto horrível.
_Pelo que percebi, as pessoas desse lugar... Elas tem um parafuso a menos... Não só por adorar uma divindade defeituosa como você, mas também por mencionar demônios menores e maiores em suas conversas, como um código...
Esdeath estava imersa naquela situação, em sua terra natal, ela nunca tinha ouvido falar dais tais histórias de demônios ou anjos.
_Quando eu estava fora, me ensinaram muitas coisas ocultas e que foram perdidas nesse mundo. É uma delas foi a existência dos aedras e daedras...
_Sua comida está ótima, bem melhor do que a dos grandes cozinheiros da capital... Mas o que são esses tais seres mitológicos que você fala? – Questionou Esdeath engolindo o último pedaço de carne do prato, deixando suas bochechas sujas do molho de limão.
_Eles são um mito, pelo menos foi o que me ensinaram... Os Daedras são os demônios superiores, enquanto os aedras os inferiores. Mas não devemos julgar nenhum deles, meus mestres diziam que o fim do mundo está relacionado a eles... E que também cada um desses demônios tem a força de cem mil homens, uma mentira surpreendente até mesmo para velhos bêbados de esquina... – Tatsumi sorria por relembrar dos ensinamentos de seus eternos mestres enquanto Esdeath limpava o prato com a ponta de sua língua, ansiando por mais uma refeição.
_Entendo, mas voltando ao assunto principal... Você gostaria de tentar ter um relacionamento sério comigo? – Perguntou Esdeath sendo sincera como sempre.
_No seu jeito atual? Não. Você é muito instável emocionante e provavelmente me mataria no primeiro dia de namoro. Seu senso de que os mais fracos devem morrer é um incomodo para mim, sem contar que você não tem experiência nenhuma com o amor... Então não, talvez se você melhorar muito em pouco tempo, possa me chamar atenção... – Tatsumi agarrou um lenço de seu bolso e limpou as bochechas cobertas de molho de Esdeath, que estava sem reação para aquela cena.
_Ninguém nunca limpou minha boca depois de uma refeição... Eu não entendo o seu comportamento. Você me xinga com a mesma língua que usa para me beijar, usa a mesma mão que anseia em me bater para limpar minha boca e meus ferimentos, além de suturar meus ferimentos. Qual é a sua defesa contra isso Tatsuminho?
_Descanse, eu irei dar um passeio pelo vilarejo para ver o que descubro de novo... – Tatsumi saiu do quarto de bateu a porta delicadamente. Ele estava ansioso para descobrir a nova cultura que o aguardava do lado de fora daquela imensa casa.
O tempo se passou, e com isso a noite dominou os céus. Tatsumi estava repleto de novas novidades para Esdeath, coisas que o deixava inquieto por maior parte do tempo. A análise do veneno estava feita, e o troll havia o avisado.
A resposta assustou Tatsumi, que correu para a casa que hospedava Esdeath. O garoto conversou com cada criança que encontrou pelo caminho, ele era tratado como um herói que trouxe Esdeath a seu lugar sagrado.
Tatsumi adentrou a casa como um ladrão, seus passos não produziam barulho algum. Ele abriu vagarosamente a porta do quarto e se deparou com sua mestra quase nua que observava seu próprio corpo pelo reflexo do espelho.
_Hmphf, talvez se eu criar mais corpo, e diminuir a minha barriguinha, eu possa chamar a atenção dele ainda mais... É isso! A partir de hoje irei por controle sobre o que como! – Esdeath tateou seu sutiã e o jogou para cima da cama, ela analisava seus seios e seu abdômen não muito definido. Virou-se de costas e analisou suas nádegas e compridos cabelos, contudo percebeu a presença quase inexistente de Tatsumi.
_Tatsumi? Você pode entrar no quarto... – Comentou Esdeath cobrindo a ponta de seus seios com as mãos e corando suas bochechas.
_Só vim trazer novas notícias, se vista para que eu possa falar com você. Não quero te ver seminua novamente.
Esdeath vestiu-se da forma mais sensual possível e abriu a porta para Tatsumi, o garoto não esperava aquela atitude e se jogou de cara na cama, sua fadiga estava no limite depois de dias mal dormidos.
_Não vai me dar atenção Tatsumi? – Perguntou Esdeath se deitando por cima de Tatsumi, que sentia a ponta dos mamilos de Esdeath transparecendo pelo camisola branco e fino que quase não cobria seus seios.
_(Está sendo difícil controlar... Ela é gostosa mas eu não posso fazer sexo com a minha inimiga, só me resta aquentar pelo tempo que for...) Esdeath, tire seus seios de cima de mim, antes que você fique sem eles... – Ameaçou o garoto tendo sua voz abafada pelo travesseiro que cobria seu rosto.
_Vai fazer o que? Tocar neles? – Esdeath apoiou sua cabeça na costa musculosa de Tatsumi, aguardando alguma resposta do mesmo. Contudo apenas recebeu o breve silêncio do garoto. – Você podia colaborar não é? – Perguntou Esdeath cacheando os cabelos da cabeça de Tatsumi.
_Colaborar como e para que? – Perguntou Tatsumi tendo sua voz abafada pelo travesseiro mais uma vez.
_Eu nunca vi você pelado, e você nunca me tocou pra valer. Nunca fizemos coisas de casais... Uma vez a Kurome me disse uma cantanda muito engraçada e humilhante, mas estamos a sós neste quarto... “Me chame de dieta e me coma de três em três horas”... Minha nossa, isso é cafona demais... Eu só quero que você fique comigo e me ame, que possa me acompanhar nas minhas aventuras e ser o meu par perfeito...
_Eu já lhe disse, você é minha inimiga e não tem experiência alguma com romances e vidas amorosas... É melhor você deixar o seu sonho de lado...
_Como você espera que eu tenha experiência, se não me ajuda com isso? Você pode me ajudar... Me ensinando o que deve fazer e o que não deve, eu devo pegar o jeito rápido... Vamos Tatsumi, vamos! – Esdeath agarrou os ombros de Tatsumi com suas mãos e o balançou de um lado a outro. – Vai ser só um namoro de brincadeira, eu cuido de você e você de mim. Me ensine como uma mulher se comporta em um relacionamento, por favor Tatsumi! Se eu for rude com você, é só me falar, ou então se estiver sendo boazinha demais... Por favor Tatsumizinho!
Tatsumi estava começando a concordar, contudo havia coisas a mais para serem acertadas. Ele virou sua cabeça até que os olhos esmeraldas do garoto estivessem tendo uma ótima visão dos olhos cor de céu de Esdeath.
_Eu aceito, mas se eu perceber que estou sendo abusado ou explorado demais. Eu termino e voltamos da estaca zero, seu desejo em mim é algo que não consigo entender...
_Então estamos de acordo, iremos começar o nosso relacionamento agora... Me diga o que você gosta, e depois eu falo o que acho... – Esdeath e Tatsumi se sentaram na borda da cama e se encaram com olhares cheios de curiosidade e aflição. Os cabelos de Tatsumi estavam cobertos por uma fina camada de gelo que desapareceu com o simples e gentil toque de sua mão, que estava carregada com seu amor e afeto.
_Não precisa Esdeath, você pode falar primeiro... Nós temos que deixar de lado algumas formalidades caso você queira mesmo aprender sobre relacionamentos... – Tatsumi pós sua mão sobre a de Esdeath e pode perceber o frio insuportável que a pele pálida e rosada de Esdeath transparecia. Um gelo que somente poderia ser derretido pelo calor do amor.
_Entendi, então eu tenho que te tratar com mais brutalidade? – Perguntou Esdeath coçando seus longos cabelos azuis.
_Não, não... Quando eu digo para deixar de ser formal comigo, digo que você pode soltar alguns palavrões, fazer brincadeiras com os meus defeitos e falar com mais tranquilidade... Entende? – Perguntou Tatsumi enchendo um copo de vidro com água e o bebendo logo depois, soltando todo o seu ar logo após.
_Ata! Agora entendi, então eu posso puxar os seus cabelos? E você pode apertar os meus seios? – Perguntou Esdeath sendo a mais sincera possível.
_Calma, isso aí é apenas quando tivermos um alto nível de intimidade... Até chegarmos nesse nível pode demorar muito, ou pouco dependendo do que iremos fazer... Mas eu não aconselho começar com isso logo no início, vamos devagar, é muito importante conhecer a parceira ou parceiro antes de tentar algo mais “duradouro”... – Tatsumi era um garoto deslumbrante para Esdeath, que não perdia ao menos uma piscada do garoto. Ele era alguém que Esdeath nunca poderia perder em sua vida.
_Okay okay, agora eu estou começando a entender como isso funciona. (Meu Deus! Esse negócio de relacionamento é mais difícil do que eu esperava, as pessoas de hoje poderiam ser mais diretas... Mas vai ser legal conhecer o Tatsumi melhor nesses dias que ficarmos aqui, mal posso esperar para conhecê-lo melhor! MUAHAHA!!!). Eu gosto bastante de comidas doces, para mim quanto mais doce, melhor. Também gosto de torturar os outros, ver o sangue escorrer me faz desestressar bastante em dias calorosos... Ah, e também não gosto de calor, me faz ficar desconfortável com as roupas que uso... Vamos ver, o que mais... Lembrei, também gosto de cachorros, acho eles criaturas legais para se testar torturas novas... Não gosto de praias e também não gosto de ser ignorada, me dá uma raiva ser ignorada! Só de imaginar eu já fico com raiva! O que mais... Não gosto de pessoas doentes ou que nasceram com alguma deficiência, a menos que ela seja um guerreiro ou amazona muito boa em combate... Acho que por enquanto é isso, já falei que gosto de doce? – Tatsumi se assustava a cada frase, até que sua face estava irreconhecível quando Esdeath terminou de falar. O garoto teria muito trabalho para tentar mudar aquela mulher em muitas coisas, um desafio que poderia lhe render muitas dificuldades e histórias de vida.
_(O que eu fiz da minha vida? Essa mulher vai me matar em menos de uma semana... Porra Tatsumi! Por que você fez isso?) Você tem muitos defeitos, e eles podem te atrapalhar muito em conversas... Por exemplo, torturar os outros por diversão é algo que não é muito legal, e nem todas as pessoas gostam desse comportamento, você pode melhorar isso tentando não se estressar. Me diga quando alguma coisa estiver te deixando estressada, assim nós podemos conversar e chegar a algum acordo, e ninguém sai com um órgão a menos... Coisas como não gostar de calor é algo que tornam as pessoas únicas, seus gostos e manias podem te deixar especial para alguém, contudo nunca tente agradar a todo mundo, isso só suga suas forças e no final vai acabar no mesmo. Você pode evitar o calor não saindo de casa em dias ensolarados, mas se precisar sair de um jeito ou de outro, saia com roupas mais simples. Tente não confundir roupas simples com roupas sexy ou coisas do tipo, e sempre saía com um guarda-chuva, e também não esqueça de por algum protetor solar na pele... Eu também não gosto de ser ignorado, porém não gosto de ser grosseiro com as pessoas. Então paciência é algo fundamental para lutar contra essa sua raiva em ser ignorada... Coitado dos cachorros, ao invés de testar métodos de tortura neles, pense em adotar um, prometa para mim que não vai mais fazer mal a nenhum cachorro! Prometa Esdeath!
_Tá bom, tá bom! Eu prometo que não farei mal a mais nenhum cachorro... – Disse Esdeath que estava espantada com as soluções para seus problemas, ela imagina a dificuldade que seria para si mesma seguir aqueles pedidos de seu servo, todavia faria qualquer coisa para agradar Tatsumi.
_Tudo bem, irei confiar em você para não maltratar os coitados...
A conversa seguiu adiante, Tatsumi sempre mostrava que para todo e qualquer problema de sua mestra havia uma resposta, o que fascinava Esdeath ainda mais. O garoto percebia ao passar da noite que a mulher que estava a seu lado era mais uma pessoa cheia de defeitos, e que sem eles ela nunca teria o conhecido. Aquela noite ainda tinha muito a prometer para ambos.
Tatsumi e Esdeath escutaram badaladas de sino vindo de fora da casa, junto com o estalar de uma grande fogueira. Esdeath pediu gentilmente para o garoto que fossem de mãos dadas observar o que estava acontecendo. Tatsumi concordou depois de algum tempo refletindo e se vestiram de forma mais tradicional.
Esdeath vestiu um casaco branco que estava em seu guarda-roupa e seguiu Tatsumi. Uma grande fogueira foi acesa perto da estátua de Esdeath, as labaredas de fogo chegavam a mais de cinco metros de altura. Esdeath e Tatsumi nunca tinham visto uma fogueira tão grande como aquela, seus olhos brilhavam como as faíscas da labareda que eram levadas pelo vento frio.
_Saúdem a divina Esdeath! – Gritou a velha que havia entregado o remédio para Tatsumi, o garoto estava espantado por ver aquela senhora andar sem dificuldade naquele monte de neve que poderia esconder até mesmo um homem adulto.
Todas as crianças, jovens, adultos e idosos da vila se curvaram diante Tatsumi e Esdeath, que estavam bem perto da fogueira. Eles se encaram sem entender nada e firmaram suas mãos ainda mais.
_Oh rainha Esdeath! Nós abençoe com sua eterna matança aos selvagens que um dia mataram nossos homens e abusaram de nossas crianças e mulheres... Nós pedimos a sua eterna graça para que os invasores nunca mais ousem encostar um dedo nas frágeis pessoas desta humilde vila... Que assim seja!
_Calma lá pessoal, eu matei os selvagens por ordens. Não sabia da existência deste vilarejo até um dia atrás... Vocês deviam cultuar outro deus ao invés de uma mulher incompleta como eu...
_Incompleta? Se a divina Esdeath é incompleta, nós somos um grão de areia em um deserto... Mas o que lhe falta para ficar completa? Oh minha rainha deusa das deusas... -. A senhora se apoiou em seu cajado e se prostrou a frente de Esdeath, abaixando sua cabeça para a mulher que era motivo de vida para todas as pessoas daquele lugar.
_(Calma... Essa é a hora perfeita para isso! Tatsumi não terá outra opção, ele será forçado por estas pessoas... Muahaha, eu sou muito maléfica!) Me falta ele... – Esdeath apontou para Tatsumi com seu dedo indicar, enquanto mostrava uma feição de alegria e felicidade.
_Ah sim, o garoto... Então ele é a parte que lhe falta? Oh deusa Esdeath! – Perguntou a velha analisando Tatsumi da cabeça aos pés, o garoto não conseguia pensar direito, apenas sabia que Esdeath teria o metido em uma grande enrascada.
_Já que ele é a parte que lhe falta, então uniremos os dois... Com um dos mais antigos e importantes rituais para os casais destas terras... TRAGAM O COLAR DO AMOR! – Gritou a senhora tossindo sangue logo após.
Crianças vestidas de trapos sujos retiraram de um baú as sombras de uma casa um par de colares. Eles eram magníficos, detalhados com correntes para simbolizar a prisão que significava aquele ritual, ele era de cor escura como o mais profundo preto que havia conhecimento e seu pingente era um pequeno cristal negro.
_O que vocês vão fazer com isso aí? – Perguntou Tatsumi tentando dar alguns passos para trás, mas Esdeath não o deixava sair de perto. O segurando da forma mais segura possível.
_Não vai doer nada! – Disse uma criança espetando a ponta do dedo indicador de Tatsumi com uma agulha que guardava em um de seus bolsos.
Várias crianças pularam para cima de Tatsumi, o mobilizando no chão de neve. Eles espremeram a ponta do dedo até que tivessem o sangue o suficiente para o ritual. Esdeath apenas entregou seu dedo de bom grado para uma criança que aproximava com seus pés descalços.
Eles preencheram os frascos um do outro com o próprio sangue, o colar de Esdeath carregava o sangue de Tatsumi e Tatsumi carregava o sangue de Esdeath, ambos em seus respectivos colares.
_Está concluído, este é o símbolo de que vocês se tornaram um só... Aproveitem e fiquem o tempo que precisarem aqui, nós os trataremos como reis!
E assim se fez, houve um grande banquete naquela noite, comemorando a chegada de Esdeath por aquelas terras. Eles beberam e comeram, comeram e beberam, menos Tatsumi que não consumia nenhum tipo de bebida alcoólica.
A festa havia acabado no início da madrugada, Esdeath estava zonza pela grande quantidade de álcool que havia tomado. Tatsumi a pós nos braços e a carregou para casa, a deu um banho com água quente e lhe ajudou a vestir novas roupas. Colocando-a para dormir logo após.
Era quase três da manhã quando todo o vilarejo esteve em silêncio, nem mesmo o barulho dos ventos gelados era escutado, aquilo era algo estranho até mesmo para Tatsumi que observou a estátua de Esdeath pela janela.
_Você não vai vim dormir Tatsumi? – Perguntou Esdeath com uma voz sonolenta. Ela vestia um pijama rosado e pantufas de coelho, a cama estava organizada e as velas e lamparinas do quarto apagadas.
_Irei... – Tatsumi observou a estátua pela última vez e se dirigiu para a cama, retirou sua camisa e a jogou na escrivaninha, se deitando de costas para Esdeath logo após.
Esdeath embrulhou Tatsumi com seu lençol, deixando apenas a sua cabeça do lado de fora. Ela o abraçou e adormeceu, fazendo do tronco de Tatsumi seu travesseiro e sua cabeça uma almofada.
Esdeath mordeu levemente a orelha de Tatsumi, a soltando logo após. O garoto permaneceu consciente por muito tempo, até que suas pálpebras pesaram e cobriram seus olhos esmeraldas.
O sol rapidamente tomou conta dos céus ao lugar da cultuada lua, a luz do sol atravessava a janela e acertava diretamente os olhos do garoto, que acordou assustado e exausto, como se tivesse batalhado contra uma cruel mulher a madrugada toda.
Ele sentou-se a beira da cama e notou Esdeath sugando seu dedo como uma criança, a embrulhou corretamente e desceu para a cozinha. Ele roubou ovos das galinhas alheias e ascendeu o fogão a lenha da casa. Marcava seis horas da manhã no relógio solar que era quase imperceptível pelo amontoado de neve.
Tatsumi preparou uma refeição suficiente para duas pessoas e subiu até o quarto de Esdeath, ela continuava adormecida na mesma posição. O garoto dividiu a refeição em duas partes iguais e guardou a parte de Esdeath sobre uma escrivaninha ao lado de sua cama.
O garoto vestiu sua camisa novamente e se sentou a beira da cama. Ele agarrou o garfo, o encheu de comida e o levou a boca. Esdeath escutou o som agudo do garfo e surpreendeu Tatsumi congelando parte da pele de seu pescoço
Tatsumi ainda estava se habituando a usar aquele colar, as pontas do cristal riscavam levemente a pele do garoto quando se movia para qualquer lado.
_Suas surpresas estão ficando cada vez mais perigosas... – Comentou Tatsumi mastigando uma fatia de seu omelete.
_Você devia me dar bom dia, ou alguma coisa do tipo... O que é isso aí que você está comendo? – Perguntou Esdeath se sentando ao lado de Tatsumi, e aconchegando sua cabeça no ombro do garoto.
_Omelete com calda de chocolate, não garanto que o gosto está bom... Mas eu tô comendo de boa, antes que reclamar “Ain, por que você não fez para mim?! Nós devíamos cuidar um do outro... Ain”. A sua parte da em cima da escrivaninha...
_Eu não falo “Ain”... – Resmungou Esdeath esticando seu braço para pegar sua parte, mas seu dedo deslizou pela superfície lisa do prato e observou sua refeição ir bem devagar ao chão. Esdeath estava furiosa consigo mesmo, aquilo era algo inaceitável para a mesma que quase congelou o tempo para não perder aquela refeição.
_Nem fudendo que tu fez isso... (Eu mereço mesmo...) – Tatsumi encarou a feição sem esperanças de Esdeath, que observava seu prato estilhaçado no chão junto com sua futura refeição. – Pega... Pode pegar a minha parte, eu já comi o suficiente por hoje. – Tatsumi esticou seu braço e ofereceu sua parte a Esdeath, seus olhos brilhavam como uma joia impagável. Ela agarrou o prato e virou suas costas, indo até o canto do quarto como uma criança de castigo.
_Você tem certeza? Mas e se você ficar com fome mais tarde por causa disso? – Perguntou Esdeath com uma voz tímida e generosa, nem um pouco semelhante a seu habitual.
_Eu faço mais para mim, qualquer coisa roubo mais ovos e fica tudo certo... – Uma grande fraqueza tomou conta de Tatsumi, sua visão estava turma e seus dedos tremiam de alguma coisa que o deixava tão exausto.
_Garoto, você precisa dormir... Você dormiu um total de sete horas em quatro dias. Sugiro que passe o dia de hoje descansando, isso pode afetar nosso rendimento em batalha...
Tatsumi esperou até que seu corpo e visão voltasse ao normal, ele agarrou uma toalha de banho e seguiu até o banheiro da casa. O banheiro era algo de reis, peças de ouro e prata espalhadas por todo lado, o espelho era em formato de um médio círculo com bordas douradas adornadas de rosas perfumadas.
O chuveiro era feito inteiramente de ouro, Tatsumi girou o registro em formato de rosa e a água quente começou a cair. O vapor logo subiu ao forro do banheiro, feito sob medida para aquele lugar em específico.
_Hahaha, não me diga que você está gostando dessa vida garoto? Quando você deu a sua preciosa comida para ela, eu senti algo de estranho... Você não está sentindo o que eu estou pensando, né? Eu sei que nós fizemos um acordo para eu falar apenas quando for necessário, mas isso agora... Isso é muito bom, irei aguardar o resultado desse seu comportamento romântico inútil. Você finge ser uma pessoa totalmente diferente na frente dela, pare de ser desse jeito garoto! Admita quem você realmente é, nós somos assassinos que não precisam de ninguém!
_Fica calado! Eu não pedi a sua opinião sobre os meus sentimentos, e eu não estou sentindo nada por ela... Para falar a verdade eu nem sei mais o que fazer. Eu só quero dormir e pensar um pouquinho, depois voltaremos a falar sobre isso...
O garoto agarrou um sabonete alaranjado e passou por sua pele, uma fina camada de terra cobria suas poucas cicatrizes feitas em sua infância dolorosa. Ele lavou seus cabelos e retirou o colar de seu pescoço, o pendurando em um pequeno gancho perto da porta.
Tatsumi girou o registro, e a água parou de cair. Ele enxugou seus cabelos e se encarou no espelho, o garoto não reconhecia mais quem ele era, talvez isso o tivesse fazendo tanto mal.
O garoto vestiu roubas totalmente brancas que estavam no banheiro e se dirigiu ao quarto, segurando o colar em sua mão, se jogando na cama logo após. Ele adormeceu rapidamente, enquanto Esdeath comia a última parte da refeição deitada em uma parte da cama.
_Vai voltar a dormir? – Perguntou Esdeath.
_Eu estou com sono... Me deixe dormir até o anoitecer, estou cansado demais até mesmo para andar pela vila hoje... – Tatsumi se deitou de peito para baixo, virou sua cabeça para a borda da cama e Esdeath o embrulhou. Lhe deu um beijo apressado na bochecha e se deitou ao lado do garoto.
_Pelo sol, eu chuto que são sete horas da manhã... Irei investigar algumas coisas na vila hoje, eu volto para o almoço... Se cuide por favor, e me espere na casa.
Esdeath trocou de roupas e desceu até o vilarejo, Tatsumi apenas escutava as conversas de sua mestra com os camponeses do vilarejo. O objetivo de Esdeath naquele lugar era ajudar os moradores da vila a lidarem com animais selvagens das florestas que estavam caçando seu rebanho de gado e ovelhas. Todos na vila estavam aliviados por ter Esdeath caminhando por seu território, o sol do amanhecer estava vivido e forte, assim como nos ansiosos dias de verão.
_Garoto, eu sei que você não está dormindo... Está é a oportunidade perfeita para fugirmos, temos que aproveitar esse tempo! Nós não teremos outra chance melhor nesta vida!
_Não, meu corpo não iria durar muito lá fora. Melhor eu descansar e esperarmos por ela...
_Mas nem fudendo! Tu não tá entendendo... Se ficarmos nós continuaremos a ser o capacho dela! Se você não quiser fugir, é porquê está sentindo aquele sentimento nojento e asqueroso... Por favor garoto, eu prefiro morrer do que pensar que você está começando a gostar dela! Me fale caralho, me fale que você odeia ela! Nós temos que fugir agora porra!
_Nós não vamos fugir! Ela pediu para ficarmos na porra da casa, então vamos ficar na porra da casa! Eu não consigo nem mexer meu dedo que já fico com dor de cabeça, e bem fácil eu desmaiar apenas por estar respirando... Eu não gosto dela, troll filha da puta burro que confunde ser educado com gostar...
_Eu não sou burro! Retira o que disse! Eu controlo o seu cérebro e todas as memórias que tem nele, toda vez que você olha para os olhos dela... Tatsumi seu cretino, você está apaixonado! Você não pode mentir para o seu corpo, garoto! Toda vez que você encara ela diretamente nos olhos, ou até mesmo olha para o corpo dela, sua dopamina sobe para as alturas. Hahaha, você é uma piada mesmo garoto escroto! Hahaha...
Tatsumi adormeceu e foi acordado ao anoitecer por Esdeath, sangue cobria seu rosto inteiro. Toda a vila estava queimando e cadáveres de crianças estavam espalhados pelas casas em chamas.
_O que aconteceu Esdeath? – A casa aonde Tatsumi adormecia estava cheia de estacas de gelo, como se uma feroz batalha tivesse acontecido naquele lugar.
_Eu te protegi de quem queria o tirá-lo de mim, este vilarejo... Estas pessoas, tudo isso era uma farsa daquela velha, estamos aqui por causa dela. Tatsumi, eu tenho uma pergunta para você... O que é essa espada que você escondeu de mim? – Esdeath arremessou Bloodscythe ao peito de Tatsumi que estava deitado na cama. O garoto ainda estava imerso naquela situação, ele observava os cadáveres em prisões de gelo e água, e no centro da praça. Estava pendurada a cabeça da senhora que andava apoiada em seu cajado, com uma feição de desespero.
_Esta espada, isso foi o objetivo da missão que você me deu naquele dia. Por quê? – Perguntou Tatsumi limpando seus olhos com a ponta dos dedos.
_Eu vou te resumir muito bem... – Esdeath levantou Tatsumi o puxando pela camisa. – No meio da tarde, aquela velha me perguntou aonde estava Bloodscythe, e eu não sabia o que caralhos era isso! Então ela me contou que me dopou por três meses inteiros enquanto eu estava na capital, aquela névoa foi coisa dela! Estamos aqui por causa dela, então ela começou a me atacar com magias de água e matou todas as pessoas do vilarejo... Você esta vivo agora por minha causa. O que aquela velha viu na sua espada não é problema meu, e sim seu! Eu vou fazer um torneio e preciso de materiais para construir a arena, você vai procurar algum lugar que tenha muito material e mostre-a para Run lá na capital... Me desculpe se eu estiver sendo bruta ou repentina demais, mas eu lembrei que tenho um compromisso com o príncipe do norte daqui a alguns dias... – Esdeath pôs suas mãos nas bochechas de Tatsumi e o beijou por alguns minutos, o garoto pôs suas mãos no quadril de Esdeath e continuaram juntos enquanto o restante da vila estava queimando e caindo aos pedaços no chão coberto com o sangue dos inocentes.
_Sobreviva Tatsumi, eu prevejo que o começo das tragédias começa agora. Se fortifique e entre no torneio por mim... Até mais!
Esdeath virou suas costas para o garoto e desapareceu nas chamas, Tatsumi apenas ouviu o barulho de algum cavalo que era controlado por Esdeath. Ela seguiria para a capital sem descanso, enquanto Tatsumi não saberia nem ao menos por onde começar.
_La vamos nós de novo, trazendo desgraça e destruição por onde passa... Tudo por causa dessa droga de... Droga da espada! Porque todo mundo quer está porcaria?!
Tatsumi arranjou uma pequena mochila que estava na casa e colocou tudo de útil, ele pegou a trilha para alguma cidade próxima e seguiu adiante, conversando com seu parceiro que sempre estava presente em sua mente. Desta vez, nem mesmo Tatsumi estava ciente do que poderia acontecer.

Tatsumi e esdeath Onde histórias criam vida. Descubra agora