Naquela noite, Yangcha ficou de guarda no corredor dos aposentos de Tanya. Tagon havia sido informado do ocorrido no mercado e reforçado a segurança em torno do Grande Templo. A madrugada no interior da estrutura cavernosa era fria e cheia de ruídos. As paredes pareciam vivas conforme o vento rodopiava pelos corredores e balançava as chamas das velas. Os olhos do guerreiro estavam bem abertos, focados na porta pesada do quarto da Grande Sacerdotisa. Ele não sentia sono, fora treinado para controlá-lo quando necessário. No entanto, queria poder dormir para tirar da mente os pensamentos que alimentava. Tanya, sentada com a barra do vestido levemente erguida conforme trabalhavam em seu ferimento. A expressão questionadora que ela exibira quando seus olhos se encontraram, quase como se ela esperasse que Yangcha se comunicasse com ela. A pele delicada do tornozelo da sacerdotisa e o franzir das sobrancelhas quando ela sentia dor. Ela mordia os lábios e recusava-se a expressar de forma audível o que sentia.
Yangcha suspirou pesadamente. Aquilo estava acontecendo com cada vez mais frequência. Pegar-se preso em um loop de pensamentos a respeito de Tanya. Sobre como a mente dela parecia estar lentamente adaptando-se a Arthdal. Sobre sua misteriosa habilidade de ouvi-lo. Sobre como ela sorria apenas quando estava com os Wahan ou com as crianças escravas. Eram pensamentos infrutíferos e ele ainda precisava tomar o cuidado de não cultivá-los na presença de Tanya, uma vez que ela poderia ouvi-lo. Não apenas isso. Ele precisava identificar os passos que ela estava tomando para poder informar Tagon, mas Tanya não era tola. Ela confiava em Yangcha para proteger sua pele, não para ouvir suas conversas mais íntimas.
O guerreiro escutou um barulho vindo do interior do quarto. Desencostou-se da parede e levou uma mão à espada na cintura. Lentamente aproximou-se da porta. Tanya devia estar dormindo. Outro farfalhar e ele pousou a mão sobre a porta, pronto para abri-la. Para sua surpresa, a porta foi empurrada em sua direção, aberta pelo lado de dentro do quarto. Ele recuou, em guarda, apenas para dar de frente com Tanya. Yangcha arregalou os olhos. Ela estava com vestes de noite finas, quase escandalosas. Ele levantou a cabeça, evitando a visão das curvas delineadas pelo tecido delicado. Tanya estava de olhos abertos, porém suas pálpebras pesavam sobre as íris e os lábios entreabertos exalavam o ar lentamente. Ela parecia estar em transe.
"Niruha?" — Pensou, na esperança de que ela o ouvisse.
Tanya o ignorou completamente e começou a caminhar pelo corredor. Ela usava um robe sobre a camisola cuja barra deslizava no chão cavernoso conforme andava. Exasperado, Yangcha deu uma rápida olhada no interior do quarto e a seguiu. Quando a alcançou, seus dedos seguraram a manga do robe, procurando puxá-la para a realidade. Tanya sequer piscou. O braço dela se estendeu conforme ela continuou andando. Yangcha a soltou e voltou a segui-la de perto. Olhando ao redor pelos corredores, ele se perguntou onde estavam os sacerdotes do templo. Provavelmente todos dormindo, naquela altura da noite. Ele tentou parar em frente a ela, mas Tanya apenas ergueu os olhos para encará-lo. Suas pupilas estavam estranhamente dilatadas e o olhar perdido. Sentindo calafrios, Yangcha mais uma vez se afastou e esperou para ver onde a sacerdotisa iria. Ele não podia simplesmente agarrá-la e levá-la de volta ao quarto.
A caminhada sonâmbula de Tanya os levou à Caverna Sagrada. O fogo crepitava, como sempre, e uma corrente de ar frio espreitava pelo buraco no topo da caverna. Tanya entrou no lago, seus pés submersos na água. Yangcha não podia segui-la, por isso esperou e observou. Tanya parou em frente ao fogo e os olhos dela refletiram a chama. Após um momento, ela deu três passos para trás.
Ah.
E então, ela estava dançando. Com os olhos perdidos, Tanya fez estranhos sons com os lábios e um triângulo com as mãos, sobre o ventre. Os passos se seguiram e seus pés agitavam a água e o fogo. Os movimentos dela eram precisos, nada parecidos com o olhar vago que ela exibia. Yangcha se viu cativado pela dança, incapaz de desviar. Ele sabia, no fundo, que sua posição não devia permitir presenciar a dança sagrada, mas não pode evitar. Ao mesmo tempo, sentia que o que acontecia ali era muito maior do que os seus olhos podiam ver. Seu coração batia rápido no peito.
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Spellbound | Tanya x Yangcha | Arthdal Chronicles
ФанфикEnquanto luta para encontrar respostas e proteger seu povo em Arthdal, Tanya entra em cada vez mais conflitos consigo mesma. Ela já não sabe o que quer e até onde é capaz de chegar por isso. No entanto, ela irá conhecer a vontade dos deuses e o pape...