3. Luís

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   Entrou numa cafetaria e sentou-se na mesa mais a norte, perto da saída das traseiras. Olhou para o empregado ranhoso que estava concentrado no seu telemóvel e depois para a televisão onde passava o noticiário.

Televisão – "... mais uma pessoa é dada como desaparecida. Já são sete pessoas no total e a polícia não tem nenhuma pista sobre a possível localização delas."

Assassino – Interessante. – murmurou sorrindo.

Empregado – Ei! Vais pedir alguma coisa? – perguntou olhando para o homem no canto.

   Sem dizer nada, simplesmente saiu da cafetaria.

***

   Faltava dez minutos para as três da manhã. Agora, o homem andava pelo escuro em velhos caminhos desabitados à procura da sua próxima vítima. Sorte a dele, havia um tolo que vivia sozinho, rodeado apenas de árvores. Um local perfeito para um crime silencioso.

Assassino – Oito, o meu número predileto. Este com certeza tem de ser especial. – pensou para consigo.

   Deu uma volta à casa e reparou numa janela semiaberta. Abriu-a totalmente com cuidado e entrou na casa do sujeito. O mesmo estava sentado numa poltrona castanha, a ver um programa qualquer que passava na madrugada.

   Em completo silêncio, caminhou até às costas da poltrona. Rapidamente, sem dar tempo de o rapaz perceber o que estava prestes a acontecer, o homem pôs o braço à volta do seu pescoço fazendo o golpe "mata-leão", deixando-o inconsciente, mas ainda com vida. Ao finalizar, pegou no rapaz e colocou-o numa cadeira com as mãos amarradas nas suas costas e pernas nos pés da mesma. Encheu uma caneca com água e atirou à cara da vítima.

Assassino – Bom dia. – cumprimentou-o ao vê-lo abrir os olhos.

   A vítima olhou para o homem de grande casaco ensanguentado, completamente apavorado.

Vítima – Quem-que... quem és... t-tu? – gaguejou.

Assassino – Ora, poupa-me a explicação. Tenho cara de anjo? – riu-se.

   O rapaz engoliu em seco e respirou fundo.

Assassino – Diz-me apenas o teu nome, não gosto de... tirar a vida a quem não conheço.

Vítima – E-eu v-vou chamar a po-polícia...

Assassino – Ai sim? Com aquele telemóvel? – apontou para o telemóvel que estava na bancada perto do frigorifico.

   Ele aproximou-se e viu algumas fotografias e papéis.

Assassino – Muitos parabéns Luís. – leu o nome num papel qualquer.

Luís – Por favor deixe-me ir, eu não fiz nada! – implorou.

Assassino – Sabes Luís, hoje sinto-me simpático. Vamos jogar um jogo? – voltou a aproximar-se do rapaz – Desafiar a vida é divertido, não achas?

Luís – Que jogo...? – perguntou reticente.

Assassino – Cinco oportunidades... – tirou um revólver de um dos bolsos do seu casaco – E uma morte. – pegou numa bala e colocou-a rapidamente num dos buracos do cilindro da arma – Costumas ter sorte?

Luís – B-bem, às vezes – respondeu nervoso.

   O assassino girou onde a bala estava algumas vezes e depois bateu com força para ficar carregada, mas sem saber em que buraco ela se localizava. Ele riu-se. Esticou a mão e apontou-a à cabeça do rapaz. Ao que o mesmo começou a gritar de aflição. Até tentou falar, mas as suas palavras eram indecifráveis.

Assassino – BUM! – disparou, porém, nenhuma bala saiu – Vez como não doeu nada? Não há motivos para essa gritaria toda.

   O rapaz ficou paralisado.

Assassino – Agora a minha vez! – disse sorridente – Não achavas que ia ser apenas tu a jogar, não é? Não sou nenhum cobarde.

   Apontou para o seu braço e disparou. Mais uma vez, nada.

Assassino – Qual é o símbolo do amor? Ho... o coração. – sorriu de uma ponta à outra e apontou para o coração do pobre Luís.

Luís – Por favor! Eu faço tudo o que me pedir, mas não me faça isto! – pediu de cara soada.

Assassino – É um... e dois... – o rapaz começou a chorar desesperado – BUM! – e nada aconteceu.

Luís – Por favor. – disse o sujeito entre alguns gemidos de agonia.

Assassino – Minha vez! Queres tentar?

   O assassino entregou a arma para o rapaz, ainda virada com buraco por onde saía a bala na direção do mesmo. Tinha as suas mãos num tremer absoluto.

Assassino – Vá! Vira para mim, não sejas galinha. – sorriu.

   Ele virou a arma para ele e chutou o gatilho de dedos nervosos, parecia estar a usar o dobro da força de uma pessoa normal. Disparou e nada. Mas ainda insatisfeito, Luís disparou mais uma vez contra o assassino. E mais uma vez, sem bala. Antes da última e possível bala ser disparada pelo rapaz, o assassino arrancou a arma das mãos dele.

Assassino – Saltas-te a tua vez. Andas muito esquecido Luís. – riu-se e pegou novamente no revólver – Que pena, só resta uma agora. Já deves saber o final deste jogo, não? – expressou falsamente o sentimento de pena.

   Luís voltou a gritar. Começou a mexer os braços e pernas numa tentativa de fuga que não deu em nenhum resultado.

Assassino – Dói? Lamento, esta vai-te doer mais.

    Esticou o braço apontado para a cabeça do rapaz e disparou. E nada.

Assassino – HAHAHA!!! – riu alto.

   O rapaz arregalou os olhos. Por mais que este pudesse se considerar aliviado por ainda estar vivo, não aguentava mais o sofrimento de não saber quando iria acontecer.

Assassino – Esqueci de te contar uma coisa. Eu minto. – tirou a bala do bolso.

   Desta vez, ele realmente meteu a bala, sem truques na manga. Apontou novamente à cabeça do indivíduo e disparou, dando tempo para o seu último grito. O corpo caiu morto na cadeira e o assassino limitou-se a observá-lo.

Assassino – Hoje pude rir e apreciar o desespero. Considero festejado.

   Pôs a arma no bolso e tirou um saco do lixo e um facão. A sua lâmina estava protegida com uma capa de cabedal. Hoje, o assassino queria ir à moda antiga. Não estava com disposição de usar a sua serra elétrica, pois iria sujar a sala inteira e não estava com vontade de limpar depois da festa. Sendo assim, aproximou-se do corpo que agora estava pálido, pegou-o e pôs o dentro do saco.

Assassino – Ei de o preparar em casa, mas irei levar um aperitivo para a viagem.

   Tirou a capa do facão e cortou um pouco da carne do braço da vítima. Sem quais queres hesitações, mordeu-a com força e sorriu.

Assassino – Não encontram os corpos... – murmurou enquanto mastigava a carne – Pois, e nunca os vão, já há muito que se foram.

Assassino às TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora