Capítulo 2

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Wei Ying guiou seu sósia até seu quarto. Não queria colocar o desconhecido tão perto das crianças, mas o mesmo se recusava a abrir a boca sobre o que quer que fosse que queria se não entrasse.

Por isso, sem escolhas, pediu que ele o seguisse para dentro. Marie tentava segurar as crianças curiosas que se empuleiravam em volta dos móveis antigos, o chão de madeira apodrecido rangendo cada vez que algum deles decidia dar um passo para se aproximar e olhar a cena com curiosidade. Todos já haviam visto os carros caros lá fora, o que já os deixava curiosos, as roupas do sócia, no entanto, é o que fazia os olhos deles brilharem.

Ali todo mundo vestia o que dava, Wei Ying provavelmente era o mais bem vestido dali, mas seu vestuário "bom" eram todas roupas sociais de cor neutra, afinal, não tinha como gastar dinheiro em roupa, por isso nos seus dias de folga seus moletons e blusas combinavam com o resto da casa: desbotados, antigos e por vezes manchados de quiboa.

O casaco de pele e as unhas coloridas então eram a principal atração. Como um bando de abutres, as crianças observavam o rapaz atravessar a casa como se ele andasse em uma passarela, o mesmo olhava em volta, analisando tudo, mas era difícil dizer se tinha uma opinião formada ou não.

Bem, não é como se a opinião sobre aquele lugar fosse boa para a maioria das pessoas: o abrigo era apenas uma casa velha e mofada que usavam para esconder as crianças da rua que ninguém ligava. Jogadas e descartadas sem ninguém que as olhasse, com pais ou bêbados demais para lembrar de alimentá-las ou tão envolvidos com o tráfico que a criança começava a correr risco de vida.

Ali não era um orfanato, muito menos era legalizado e nem todas as crianças ali dormiam ali, algumas só passavam o dia e a noite voltavam ou para uma mãe cansada de trabalhar o dia todo ou para um pai sozinho, que se não fosse por eles estaria passando fome para alimentar o próprio filho. Independente de qual fosse a razão da criança estar ali, era a forma que tinham achado de ajudá-las e de tentar impedir que se envolvessem com o crime, mas ainda era uma casa escura, grande e velha, quase como se tivesse saído de algum filme de terror. Wei Ying não conseguia imaginar seu irmão tendo opiniões positivas sobre a decoração ou sobre os brinquedos antigos e quebrados espalhados pelos corredores, muito menos para o ranger das escadas.

O quarto de Wei Ying ficava no segundo andar, onde ficavam todos os quartos, no fim do corredor.

Wei Ying malvado o seguiu em silêncio, Marie havia conseguido fazer com que as crianças permanecessem no primeiro andar. Wuxian sempre seria eternamente agradecido a mesma, embora os dois não se dessem bem, já que ela não concordava com suas "escolhas de vida" —e lesse escolha de vida o fato de ser transexual, já que não importava quantas vezes explicasse que aquilo não era uma escolha, ela nunca entenderia— ela sempre protegia as crianças, mesmo que não entendesse, os mantinha longe do estranho na casa.

Não que os carros de luxo na frente daquele muquifo não levantassem grandes sinais vermelhos. Qualquer carro que entrasse ali tinha que, no minimo, pertencer a um traficante, um carro de luxo sempre seria mal sinal. Maria era esperta e tratou de não deixar que as crianças se aproximassem muito, muito provavelmente estava naquele momento tentando leva-las para o quintal do fundo.

Abrindo a porta para seu quarto, abriu espaço para que ele entrasse.

Wuxian do mal entrou em passos lentos, descaradamente olhando em volta, rodando para observar as coisas com mais clareza, mais uma vez, era dificil saber se ele estava apenas desdenhando ou pensando em algo, procurando algo.

Wei Ying sentiu-se repentinamente consciente de sua cama sem fazer e das roupas jogadas no chão, assim como a zona que estava sua escrivaninha. O lugar já não era lá aquelas coisas. Escuro, as paredes de madeira escura, tendo ali então apenas uma cama, um guarda roupa quase da mesma cor da parede e uma escrivaninha. Apenas aqueles móveis ocupavam quase todo o quarto, que era estreito em largura e mais comprido em direção ao quintal do fundo, com uma janela dando bem para o gramado.

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