FIM

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Alguns meses se passaram e eu pensei bastante em Johnny. Meus banhos ficaram mais frios, minhas refeições ficaram sem gosto e minhas tardes ficaram vagas. Aquilo me trazia uma dor imensa. Os soldados da base haviam partido a algum tempo, e muitos acreditavam que estavam se saindo bem. Mamãe voltou para casa logo após a guerra dar uma trégua, mas novamente as coisas voltaram a ser terríveis no mundo á fora. Tara possuía o hábito de ler jornais e procurar notícias sobre os soldados, ela tinha anta esperança quanto eu de que encontraria Johnny sendo premiado por algum feito, e em seguida mostraria para mamãe, para dizer que eu e ele havíamos tido algo, porque assim, mamãe não teria tempo para matar Johnny pois estaria ocupada o suficiente olhando suas medalhas, broches ou distintivos.

 Eu sentia falta dos seu abraços, de poder beija-lo e queria poder dizer "bem vindo a família". Aquilo era loucura e papai jamais aceitaria aquilo vindo de mim caso estivesse entre nós, mas eu estava louca de amor por Johnny e seria totalmente impossível que eu agisse diferente.

Minha mãe veio até a sala falando sobre vovó, que resolveu morar na Califórnia e se recusou em morar conosco, mas consigo, mamãe trouxe cartas.

-Para quem seria estas cartas? -Tara me olhou seriamente.

-São todas destinadas a Madson. -Mamãe conferiu uma a uma. -Um rapaz de farda veio traze-las.

-Como ele era? -Senti meu coração sair pela boca.

-Negro e alto. Ele me entregou assim que abri a porta e disse que.. Johnny gostaria de que Madson as lesse. -Mamãe me encarou. -O que fizestes enquanto estive fora?

-Nada, apenas conheci um soldado, mas não fiz nada que fará sentir ódio de mim. -confirmei -Apenas sentávamos na varanda para conversar.

-Estas cartas são suas. Se eu souber que fizestes besteira enquanto estive fora, será castigada até vosso aniversário.

Eu apenas concordei com mamãe, mesmo sabendo que nada entre mim e Johnny havia sido feito de forma avançada então, respirei mais tranquila.

Peguei o monte de cartas e comecei a conta-las, deveria ter em média umas dez cartas ou algumas a mais do que esse número. Todas as cartas estavam numeradas para que chegassem até mim em uma ordem, além de que as datas eram de meses atrás, mas eu nunca vou entender o por quê nunca chegaram até mim. Eu respirei fundo e coloquei as cartas todas no sofá, posicionei cada uma em ordem e as organizei. Minhas mãos tremiam para tentar entender o motivo do atraso e por quê não foi Johnny que entregou as cartas em minha casa, e sim supostamente o Sam. Minha respiração estava falha e meus olhos começaram a lacrimejar.
A primeira carta de Johnny foi aberta. Sua letra era desenhada em níveis de perfeição. Ele narrava o quão difícil estava sendo em tempos de guerra, como ele mesmo dizia. Narrou também que salvou uma criança durante um bombardeamento mas que nem ele e nem a criança estavam feridos. Na segunda e terceira carta Johnny disse que a criança lhe deu uma rosa que havia encontrado em algum lugar. Disse também que guardou aquela rosa como uma forma de pensar sempre em mim. Na quarta carta ele estava feliz, disse que poderia sair dos Tempos de guerra mais cedo, já que o território inimigo já havia sido neutralizado. Nas quinta. sexta e sétima cartas, Johnny disse que seu motivo de felicidade acabara, já que o inimigo tomou força. Ele contou também que o menino resgatado por ele passou a dormir com Johnny sempre que ele retornava para sua base militar da região e que a criança passava dias e noites esperando pela volta de Johnny. Ele disse que havia se tornado um pai. Na nona carta ele me pediu desculpas pela demora da chegada das cartas, já que sabia que em tempos de guerra as correspondências demorariam para chegar. Na décima carta, Johnny disse que estava ansioso para voltar, que mesmo longe, ele olhava para rosa que, embora murcha, ainda significava seu amor. Ainda na mesma carta, Johnny contou que havia sido baleado, e que sua percepção da realidade havia se tornado outra pela dor. Ele dizia que sua recuperação haveria de ser quase que instantânea. A última carta era diferente das outras. Ela era cinza e pertencia ao exército americano. Minhas mãos tremeram porque eu jamais conseguiria imaginar algo que viesse daquela carta.

Ao abrir, meus lábios se secaram e minhas mãos gelaram. Eu não tinha forças para segurar aquela carta, ela era cruel e aquilo me assustava. A dor pairou em meu corpo como se eu tivesse levado um soco no estômago, era como se as faíscas se voltassem contra mim como facas que me cortavam por dentro. Minhas bochechas queimaram e as lágrimas saíam dos meus olhos sem esforço algum. Aquilo era uma tortura.

   "Johnny havia lutado como um herói que ele nasceu para ser, e que sempre falava de Madson Greene para outros soldados durante seu tempo livre e ele a jurava amor verdadeiro, além de se chocar pelo seu amor por rosas.
    Johnny foi terrivelmente baleado em uma clareira, enquanto ajudava os colegas a carregar munições. Durante o incidente, algumas das munições dispararam em seu corpo, fazendo com que seu quadro fosse irreversível. Quando Johnny chegou ao centro médico de nossa base militar, a primeira coisa que ele havia pedido foi que terminassem de escrever sua carta, e aquilo foi feito por Sam, seu melhor amigo e companheiro. Johnny Rhee veio a falecer cerca de uma hora depois de ser resgatado e se recusou ser atendido por médicos, já que nosso ambiente era hostil para um atendimento mais especializado, além de que seus ferimentos seriam tratados em mesa cirúrgica.

Nós, Oficiais do Exército Americano, lhe damos nossos pêsames pelo falecimento do nosso soldado. Uma cerimônia foi feita para Johnny em sua homenagem.

Com carinho, Oficiais e soldados da Base americana.

Aquilo me destruiu por inteira. Eu sabia que a morte não era um fim, e sim um novo começo de paz e luz para aqueles que partiram, por mais que minha saudade seja enorme. O buraco em meu peito jamais se fecharia até que encontrasse com Johnny novamente, mesmo que eu levasse anos para que pudesse vê-lo mais uma vez.

CARTAS DE JOHNOnde histórias criam vida. Descubra agora