MEIO

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Haviam se passado duas semanas e nada de Johnny aparecer. Minha irmã acreditava que o mesmo havia desistido, mas será que ele realmente desistiu? Será que não havia gostado do encontro?

O tempo se passava e nada de obter uma resposta. Era errado estar apaixonada por um estranho?

-Ainda pensando nele? -Tara destruiu minha linha de raciocínio.

-Não. -Menti. -Não estou não.

-Não minta para mim. Eu sou sua quase gêmea, só temos poucos números de diferença. -Tara sorriu pegando as chaves de casa.

-Para onde vai?

-Irei me encontrar com Christiny, a menina quer me levar para um cemitério de aviões.

-Tome cuidado, você sabe que maníacos se escondem nesses locais.

-Fique tranquila, eu irei num pé e voltarei em outro.

Tara saiu pelos fundos bem na porta da cozinha enquanto eu terminava de lavar as louças. Meus pensamentos eram unicamente em Johnny e eu não conseguia esquece-lo de forma alguma, por mais que eu tentasse. Aquilo me matava porque não era algo que eu queria fazer, mas fazia inconscientemente e algumas pessoas jamais entenderiam. Eu sentia choques pequenos em meu corpo quando pensava nele, e sentia pequenas chamas na boca do estômago. Minhas mãos suaram quando peguei um pano para secar meus pratos. Alguém bateu na porta me interrompendo nos meus pensamentos, mas mata-los agora seria um favor.

-Só um instante! -Exclamei largando o pano em cima da ilha da cozinha, seguido de limpanças demãos no meu avental.

-Espero não atrapalhar. -O homem apareceu em minha porta assim que eu a abri.

Johnny havia trago consigo um buquê enorme e lindo de rosas. Meu coração palpitou numa velocidade indescritível. Johnny parou em minha frente ele entregou o buquê. Sentir aquele aroma foi a melhor coisa que senti em anos de vida, e receber aquelas flores teria sido o melhor presente que já ganhei desde o nascimento de Tara.

-Muito obrigada! -Agradeci vermelha. -Cheirei as rosas.

-Percebi que gosta de rosas como sua mãe, então resolvi traze-las para uma beldade tão perfeita quanto.

-Não precisava. -Cheirei as rosas novamente. -Vamos, entre! -Convidei o mesmo.

-Não posso, eu tenho que voltar para base de treinamento e preparar minhas coisas. -Ele explicou. -Foi justamente por isso que não vim ver vossa beleza antes.

Johnny estava fardado, seu corpo estava perfeitamente desenhado com seu uniforme. Seu chapéu era o que dava um charme em seu rosto e aquilo me encantava. Johnny estava com inúmeros broches em seu peito e alguns deles de diversos países ou com símbolos cujo qual eu não seu seus significados. Johnny estendeu sua mão e me puxou para que eu pudesse sentar no banco de minha varanda.

-Eu queria muito que minha mãe te conhecesse. -Ele puxou um colar, e dentro da pequena joia continha uma pequena foto. -Eu tenho certeza que ela te adoraria. -Ele apertou a joia com força.

-Ela deve ser uma mulher incrível.

-Ela era sim.- Johnny segurou em minha mão. -Ela faleceu enquanto eu estava em guerra. Eu só soube quando voltei. Papai sofreu muito com a morte dela e hoje ele vive num asilo, já que não posso cuidar do mesmo.

Johnny deu um suspiro profundo e eu sentia o quão importante aquelas pessoas tinham sido importantes em sua vida. Johnny me olhou no fundo dos olhos e eu sorri, aquela seria minha única forma de confortar o seu coração.

-Meu pai faleceu a alguns anos. Hoje em dia só moramos minha mãe, Tara e eu. Mamãe foi visitar uma pessoa de nossa família que está doente.

-Me desculpe mas... Vosso pai faleceu de que?

-Overdose. Meu pai era um alcoólico assumido. Ele entrou neste mundo quando perdemos nossa fazenda em Atlanta. Ele começou a beber e não parou mais.

-Sinto muito por isso.

-Não tem problema, não vejo a morte como algo ruim, muito pelo contrário- Segurei mais forte a mão de Johnny. -As pessoas que se foram não merecem viver num mundo em que estamos. Vivemos em guerra, não temos paz e pessoas morrem de fome. Seria injusto com essas pobres almas voltarem para terra apenas para sofre, não acha?

-Nunca parei para pensar deste lado da moeda. Pensando assim eu acho que mamãe está feliz e orgulhosa de mim em qualquer lugar que esteja.

-Imagino que sim. -Sorri.

Johnny se aproximou de mim. Nossos rostos estavam próximos e aquilo fazia meu corpo gelar. Seus olhos olhavam muito para os meus lábios, me fazendo tremer. Johnny me deu um beijo, foi calmo e macio, nossas bocas se encontraram e s faíscas aumentavam. Aquilo não era normal. Eu sentia a paz ao beijar Johnny, sentia prazer em ser acariciada pelo mesmo, sentia êxtase em sentir seu cheiro, poder tocar em sua pele macia. Johnny mordiscou meu lábio inferior me fazendo chegar nas nuvens.

-Eu vim hoje como uma despedida. -Johnny me encarou e acariciou meu rosto.

-Não diga a palavra despedida, eu vou te ver novamente. -Olhei para o mesmo enquanto cheirava as flores.

-Nunca sabemos. Em tempos de guerra eu nunca sei e nunca saberei os dias de amanhã.

Johnny levantou-se do banco da varanda e me estendeu a mão para que eu fizesse o mesmo. Ele me deu um abraço, e foi o mais gostoso que recebi na vida. Johnny me olhou e nos beijamos, desta vez um pouco mais lento do que o último.

-Adeus moça! Espero te encontrar um dia e farei questão de passar os restos dos dias que me pertence ao vosso lado. -Johnny sorriu.

Olhei o mesmo saindo de minha varanda e acenei quando via sua silhueta se distanciar de mim. Eu tinha certeza que o veria de novo.

CARTAS DE JOHNOnde histórias criam vida. Descubra agora