E terminou mal

15 5 5
                                    

Sábado, quatro de janeiro de 2020. Oito horas e meia da noite.

  Depois de uma caminhada relativamente curta, haviam chegado à Quinta Delegacia de Polícia, e, ao olhar para a moça, viu que ela estava mais ferida do que aparentava inicialmente. Dava pra perceber um pequeno sangramento na testa e ela estava mancando consideravelmente da perna esquerda, o que o deixava bastante preocupado. Foi uma caminhada lenta, ele basicamente a carregou até lá, para evitar ao máximo que ela fizesse algum esforço e piorasse.

 Chegando lá, foram atendidos por um policial, que ficou chocado ao ver o estado dos dois e rapidamente se propôs a fazer um boletim de ocorrência. Depois de saber por alto a história, ofereceu um pouco de gelo aos dois, ela o colocou na cabeça, e Kiel nos punhos. Depois de conversar com o homem que os atendeu, finalmente tiveram um tempinho para bater um papo.

Kiel, tímido como sempre, não fazia a menor ideia de como começar isso, mas tentou mesmo assim

Olhou para o rosto dela, que permanecia bonito, apesar dos cabelos bagunçados e a bolsa de gelo na cabeça.

- Então... Acho que foi muita sorte eu estar ali, bem naquela hora. - falou, numa tentativa boba de puxar assunto

- É. Eu dei mole, não devia ter ido por ali. Aquele caminho é uma merda.

- Se você não quiser falar tudo bem, mas o que houve ali? - questionou, curioso.

- Eu tava falando com uma amiga no telefone, ele chegou perguntando as horas e quando tirei o celular do ouvido pra falar, ele veio.

- Eu demorei a chegar? Me sinto um pouco mal de não ter impedido ele de te machucar tanto.

- Ahh... acho que foi uns dez segundos, entre ele me derrubar e você chegar.

Ela percebeu que Kiel estava fazendo umas expressões de dor contidas sempre que mexia as mãos.

- O que houve com suas mãos? Parecem inchadas.

- Ainda não sei, mas tá doendo pra caralho. Espero não ter quebrado nada.

- Me desculpa ter te causado problemas. Nós nem nos conhecemos e você fez isso por mim. Você podia ter se ferrado nessa.

- Pra ser sincero, eu não pensei. Quando vi aquele lixo em cima de você, tampando sua boca, não tive opção.

- Eu nem sei onde estaria agora se não fosse por isso.

- Eu meio que imagino, cara... Mas é melhor nem pensar.

- Por falar nisso, eu não sei seu nome. O meu é Carina.

- Kiel. Você parece bem nova. Quantos anos tem?

- Dezenove, e você?

- Faço vinte e um no final do mês.

- Onde você mora? Eu moro aqui perto, no Morro dos Prazeres.

- Sério? Moro no Fallet, bem próximo. E aliás, o meu casaco ficou bem legal em você, viu? - disse, o que conseguiu tirar uma risada agradável da moça.

Antes que pudessem continuar a conversa, o delegado chegou e queria falar com os dois. Era um senhor de uns cinquenta anos, e era nítida a expressão de pena no seu olhar ao ver os jovens tão mal. Suas roupas estavam imundas.

- Jovens, me chamo delegado Silva. Eu consegui ir ao local indicado e prender o sujeito. Vocês deram bastante sorte. Aquele ali era um estuprador em série. Matava as moças depois do ato. O menino aqui merece uma medalha, não é qualquer dia que vemos algo deste tipo. Mas chega disso. Eu consegui uns papéis e vou mandar vocês pro Souza Aguiar. O garoto precisa ver o que deu nas mãos e a moça tem sinais claros de uma concussão. Uma viatura à paisana vai levá-los até lá. Amanhã vocês podem voltar pra prestar depoimento.

Souza Aguiar... Aquele nome lhe trazia memórias horríveis, é um lugar que ele nunca mais queria ter de por os pés. Mas agora parecia não ter muito jeito. Só esperava poder sair de lá o quanto antes, os dedos quebrados ou não.

Maldição da BrevidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora