Saí da casa de Lohan depois de algum tempo e liguei para Melina, dizendo pra que pegasse a chave reserva na mochila de Sophie e me esperassem por lá. Minha amiga concordou e pediu que eu saísse um pouco pra raciocinar sobre o que estava acontecendo enquanto ela cuidava dos gêmeos. Eles perceberiam meu estado com toda certeza.
Entrei no meu carro a caminho do meu apartamento, ignorando a oferta de tirar um tempo para mim e minha mente, mas acabei mudando a rota e indo ao bar Memories, onde eu frequentava mais pela presença de meu melhor amigo que trabalha lá, e talvez por um bom copo de algo que me faça esquecer por momentos sobre tudo isso.
Entrei ali e vi Kyle no balcão, entregando uma taça de vinho tinto a uma mulher bem alta e que logo saiu pra se sentar em uma das mesas, onde pareceu se concentrar em algo no notebook - as pessoas gostam de vir aqui para, como o nome do local já diz, passar momentos, criar memorias - Kyle me viu e logo soltou um sorriso enquanto eu me aproximava e me sentava a sua frente no banquinho do balcão.
- E essa carinha? Aconteceu alguma coisa? - ele disse se debruçando no balcão e colocando o queixo apoiado nas mãos.
- Algumas - falei com um meio sorriso, acompanhado de um suspiro.
- Hoje é por conta da casa, então - ele diz dando sinal a Gael que estava um pouco afastado da gente, mas que logo se aproximou deixando uma taça e uma garrafa de vinho ali. Se afastou e foi atender a uma das mesas que o chamava.- Giovana deve estar me esperando, depois a gente se fala e você me conta tudo, ok? - falou dando a volta e me abraçando enquanto eu confirmava com a cabeça. Ele saiu e fiquei emburrada por algum tempo.
Ótimo, lá se foi minha esperança de ouvir sobre como ele havia se apaixonado por, como ele disse, "a garota das uvas passas e café expresso", ele está me enrolando com isso desde que começaram a namorar.
Fiquei ali por mais algum tempo e minha mente girava e girava procurando por caminhos pra resolver tudo com Adam, afinal, era só eu contar, não é? O que tem de complicado nisso, Eleonor? Essa era a questão, meu medo de contar, e como ele iria reagir. Acabei deitando minha cabeça sobre o balcão e choramingando baixinho.
- Você está bem? - Ouvi a voz de alguém que provavelmente estava no banco ao lado, pude escutar a pessoa deixar seu copo no balcão.
- Não muito. - resmunguei como uma criança fazendo birra.
- Quer conversar sobre isso? - a pessoa diz e eu confirmo com a cabeça.
Por mais que não seja recomendado contar minha vida para um estranho, na minha mente foi a melhor opção que encontrei, talvez porque a pessoa com a qual eu havia reservado o discurso dramático, havia saído para um encontro romântico e me deixado aqui com uma garrafa de vinho por conta da casa.
- Certa pessoa "A" era meu namorado, nós terminamos e ele foi estudar fora. Aconteceram algumas coisas que não vou entrar em detalhes, mas agora ele está de volta e não sei como agir, eu ainda o amo - disse, dessa vez bebericando o resto do líquido da taça e a pessoa se pronunciou.
- E se a pessoa "A" ainda amar você igualmente? - Eu me virei para olhar a pessoa, dizer que não seria possível, que ele com certeza tinha encontrado outra pessoa nos Estados Unidos, mas céus!
Só não saí correndo ou ao menos caí do banco porque tudo girava. Era efeito do álcool ou realmente era ele?
- Adam?! - questionei assustada, talvez um pouco desesperada e ele soltou um sorriso leve.
Eu disse que o amava, eu disse que ainda o amava.
- O que faz aqui?
- Pensar em como agir com minha pessoa "A" também - responde voltando a beber o que quer que seja que estava em seu copo.
- Então estamos na mesma. - Disfarçando o fato de que provavelmente somos a pessoa "A" um do outro. - O que podemos fazer?
- Continuar fingindo sermos desconhecidos? - Brinca como se aquilo fosse o melhor palpite e começamos a rir.
- A melhor opção - falei dessa vez olhando em seus olhos.
Há muito tempo eu não via aquela imensidão azul a minha frente. Sentia tamanha falta que nem consigo expressar.
- Quem sabe dessa vez você não foge, o destino parece estar querendo nos juntar novamente - ele disse sorrindo e passou a mão em seu cabelo, os cachos mais definidos do que há alguns anos.
- Ou está querendo me deixar maluca - pensei alto e ele pareceu não me ouvir, observando a parede de fotos ali.
Kyle teve essa ideia a um tempo, como o nome do bar já dizia, era para criar memórias, então se quiséssemos poderíamos tirar fotos aqui e deixar penduradas no mural.
Eu inclusive coloquei uma minha, na verdade, minha e de Adam, então antes que ele chegasse na nossa foto no mural, corri até lá passando por cima do balcão e arranquei o papel o mais rápido que consegui, a guardando na bolsa. Kyle entenderia meu motivo.
Eu havia deixado uma mensagem escrita na foto, caso ele voltasse, e agora que voltou ele teria que ouvir da minha própria boca, não por um texto em uma foto.
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❥︎ Amor & Dois | Trilogia Amor Em Saint Othon Vol.1 | Degustação
RomanceDisponível físico e e-book. Adam Mallet se formou e se tornou um médico pediatra em Las Vegas, mas para ele a vida havia ficado difícil com vizinhos estranhos, chefes abusivos, a proibição de animais no prédio em que morava. Então tomou uma decisão...