— O que pode me dizer do ocorrido?
— Você não iria acreditar mesmo.
— Não estou dizendo que sou cético.
— É, mas de qualquer maneira você não acreditaria.
— Então, já que acha isso, finja que eu acredito.
— Eu apenas estava voltando do bar, estava assistindo ao jogo ontem à noite, não era nada de mais, estava triste por meu time ter perdido, chegar tarde e ainda ter que acordar cedo, mas tudo isso passou quando passei na frente daquela mangueira assustadora ao lado da praça principal. Dois olhos vermelhos me observavam por trás de alguns galhos caídos, na hora pensei que fosse alguma brincadeira, eu poderia até ir ao local, eu pensava ser alguma coruja, não sei, mas fui até lá sem medo algum, mas quando dei alguns passos os olhos começaram a ganhar altura, ganhavam mais vida e ficavam cada vez mais vermelhos, então eu dei um passo para trás, nessa hora sentir calafrios, pensei em correr, mas eu tinha certeza que era alguma brincadeira dos meus amigos, continuei andando até a árvore, mas aí veio algo, uma mão com unhas, garras enormes, elas cortaram o ar e vieram descendo até mim, conseguir me abaixar, mas ainda assim pegou no meu braço, na hora veio uma dor insuportável, mas eu vi, vi um enorme lobo, bem, foi o que chutei, é a única explicação lógica.
— Mas lobos não têm mãos.
— Realmente, é o que me deixa intrigado, mas é a única coisa em que posso acreditar sobre o fato, acredito que não enxerguei direito.
— Termine a história.
— Não há mais muita coisa, eu apenas me arrastei alguns metros para trás para poder ver se a coisa vinha na minha direção. Quando me virei, apenas corri para casa sem olhar para trás, em casa vi a gravidade do ferimento, olhe, veja:
— Nossa! Isso são 4 garras?
— Sim, porque eu conseguir desviar ainda.
— Vamos ao médico, isso tende a piorar, está borbulhando? Parece que seu sangue está fervendo, como pode?
— Bem, eu não sei, só estou com medo e com essa dor insuportável, o que eu faço? — O traço de preocupação se estendia por todo seu rosto, o seu sangue parecia estar em erupção.
— Tem que tratar isso primeiro e depois... Depois iremos investigar o que realmente houve, posso levar você ao hospital agora mesmo.
— Bom, eu aceito... — O jovem caiu na calçada, gemia de dor, se debatia e seus olhos reviravam, parecia que com o passar do tempo a dor iria se expandindo.
— Venha, se levante... — O rapaz foi posto de pé novamente, agora ele se escorava na parede e tentava respirar da maneira mais calma que podia.
— Vou pegar meu carro, aguente aí, já venho. — Alguns momentos se passaram e o som da buzina entrou por seus ouvidos.
— Zayn! Vamos, cara, eu não sei como você conseguiu aguentar esse ferimento por essa noite toda.
— Acredito que o susto de observar aquela coisa está sendo maior que ver esse sangue borbulhando, a adrenalina continua em mim. Ainda não consigo acreditar numa história dessas, acredita que tenho que procurar a polícia?
— Acha mesmo que vão acreditar em você?
— Não, mas se não formos até eles, então, onde pediremos ajuda?
— Primeiro vamos ao hospital. — O rapaz, cambaleante e com muito esforço, conseguiu adentrar o carro com ajuda e se sentar no banco do carona. O caminho até o hospital foi longo e dolorido, à medida que o carro balançava, o braço de Zayn doía mais. Ao chegar, não precisou de muito para conseguir ser atendido e ser levado às pressas para a UTI.
— Qual seu nome, rapaz? — Uma doutora branca, alta e loira de jaleco branco surge na sala de Zayn, procurando entender mais o que houve.
— Luke! — O rapaz ficou bastante ansioso em ouvir as palavras da médica.
— Prazer, Luke, eu sou a doutora Cole, estou cuidando do paciente Zayn.
— Como ele está, doutora? — Perguntou ansioso.
— Ele está com uma grave infecção no braço, está se expandindo, aplicamos alguns antibióticos, mas receio que tenhamos que amputar.
— Amputar!? É tão grave assim?
— Você viu como está?
— Eu vi por alguns momentos, mas não observei com detalhes.
— O corte foi profundo, em direção ao ombro, provavelmente algo metálico? Ele teve fratura exposta, seu sangue por algum motivo não cai, apenas borbulha. Quando observei seu ombro, percebi que seus nervos também estão se mexendo, não é nada anormal, mas devido ao ferimento, fizemos alguns exames, não sabemos o que é e o que pode acontecer, por isso optamos por amputar. Afinal, como foi esse acidente? — Cole parecia muito curiosa em entender o que houve.
— Bem... Eu não sei direito, quando o encontrei, já estava ferido. Ele não disse nada? — Luke não queria parecer louco de falar o que Zayn o disse alguns minutos atrás.
— Ele apenas informou sobre um acidente, mas não especificou nada. O que você é dele?
— Bom, acredito que somos amigos, ele se mudou recentemente para a rua de casa, o conheço um pouco.
— Certo Luke, você pode ficar na sala para visitantes ou voltar mais tarde, ele ficará em observação durante o dia todo para analisarmos se há uma expansão do ferimento, teremos consequentemente a resposta.
— Tudo bem, voltarei à noite, quando largar do trabalho venho ver como ele estar.
— Certo, até mais tarde. Bom dia!
— Bom trabalho. — Luke se despediu da doutora e saiu em direção à porta, por algum motivo ele se sentia mais tranquilo. — Acredito que agora ele está seguro, só espero que não perca seu braço... — Disse para si mesmo.
As horas se passam e o anoitecer vai acontecendo, o carro é estacionado em uma vaga apertada, Luke tem dificuldade, mas desce e se encaminha para a porta do hospital. Ele se assusta e seu coração acelera quando ouve gritos e um ruído enorme vindo de dentro da Unidade. Na mesma hora ele decide voltar, mas as portas de vidro o permite ver, Zayn estava de pé, seu braço estava completamente curado, mas coberto de pelos, e parecia está crescendo cada vez mais a medida que ele olhava, o seu rosto ainda estava normal, mas o olhar pedia ajuda, sua altura já não era mais a mesma, ele estava corcunda e absurdamente mais alto, garras cresciam por dentro da pele, onde horas atrás eram mãos, nesse momento dois seguranças surgem, não há o que compreender, não há o que perguntar, os corpos dos enfermeiros e da doutora Cole pareciam desacordados, desacordados demais... Isso foi o suficiente para as balas encontrarem seu rosto e o derrubar inconsciente em cima dos outros corpos...
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O Próximo Plenilúnio
WerewolfApós nove anos de um incidente pouco comentado pelos moradores de uma cidade no interior nordestino, um grupo de adolescentes se veem em um círculo de aventura, drama e terror. A noite não precisa cair para ele vir, mas é nela que o horror acontece.