Capítulo 2 - Uma Noite Num Motel

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Levantei rapidamente a cabeça. Tinha dormido mas foi por pouco tempo. Karen estava deitada no sofá, dormindo com a arma nas mãos, o que com certeza não era um boa idéia. Estiquei o braço e assim que fui tocar na arma para afasta-lá da Karen, ela levantou num salto! Assim que ela viu que era apenas eu, abaixou a arma e o deixou no sofá. Nenhuma de nós tinha tido a coragem suficiente de pegar uma noite de sono. Karen abriu a porta da casa lentamente para não fazer barulho e foi lá fora. Estava deserto. Ninguém por perto. Todos tinham saído de Atlanta. Depois ela voltou para dentro.
- Acho que devíamos sair de Atlanta.
- E ir aonde? Nem sabemos em quais partes do mundo esse "zumbis" se manifestam!
Eu disse, olhando para ela sem otimismo e esperança.
- Olha pense bem, em Kennesaw, onde tem muita floresta não tem muita população. Sem muita população, sem muitos zumbis. Podemos ficar na casa do lago dos meus pais enquanto o governo conseguir acertar as coisas. Se eles puderem né...
Olhei para ela e depois de alguns segundos assenti. Ia ser uma longa viagem mas era melhor do que ficar em Atlanta rodeada de zumbis.
- Não devíamos levar muita coisa né? Devíamos viajar...como é que se diz...leve!
Eu disse. Tínhamos uma pouco de comida enlatada na cozinha. Primeiro fiz alguns sanduíches enquanto Karen fazia duas mochilas com apenas as coisas que precisaríamos. Karen tinha uma shotgun escondida debaixo da cama. Ela ganhou do pai quando completou 21 anos. Ela pegou de debaixo da cama e guardou umas 4 caixinhas de munição que deixava na sua gaveta dentro da sua mochila. Andamos até lá fora e assim que chegamos no quintal da frente da casa, Karen me entregou a arma que tinha conseguido na sala do comandante e me ensinou a usar e depois botou munição na arma.
- É só para emergências ok? Um tiro deve atrair muitos zumbis, ainda mais aqui em Atlanta.
Ela falou, desarmando a arma. Ela se virou para mim.
- Vamos ficar tudo bem ok? É só agente ficar junta e chegar em Kennsaw.
Eu assenti em resposta sorrindo tentando parecer menos assustada possível. Kennesaw era bem longe. Muita coisa podia dar errado daqui até lá.
Karen começou a dirigir enquanto eu olhava em volta: estava tudo cinza, sem graça. Sem crianças brincando na rua. Um silêncio que fazia calafrios percorrer minha espinha inúmeras vezes. Sem contar das dezenas vezes que zumbis correram atrás do carro deixando alguns rastros de sangue nas janelas. De repente, a Karen parou o carro.
- Lissa, pega esse cano aí do lado de fora do carro.
Olhei em volta antes de abrir a porta do carro, e como não tinha zumbi nenhum, sai e peguei o cano que estava em frente do carro do chão, como a Karen pediu. Olhei para ela e fiz um sinal de como "o que que agente vai fazer com essa coisa?". Ela abaixou a janela e falou:
- Vê se funciona naquilo dali.
Ela assentiu com a cabeça em direção a um zumbi que estava a alguns metros de mim. Não sei como eu não vi ele ali. Ele estava em um beco, em meio a sacos de lixo e não estava fazendo muito barulho então era meio difícil notá-lo. Estava em meio a um banquete de tripas de uma mulher que parecia que já já, ia virar um morto que andava. As veias pulsando com um líquido verde dentro de si e seus olhos vermelhos que nem sangue. O cheiro era forte e nunca senti cheiro pior. Andei lentamente até o zumbi com o cano já preparado para bate-lo. Virei mais uma vez para olhar para Karen que fez um sinal com a mão de positivo.
Quando eu estava a menos de um metro dele, ele se virou para mim e foi quando o acertei. Não lembro muito bem de seu rosto. Só lembro de ver muito, muito sangue e metade de sua mandíbula rasgada, amostra. E acredito que nunca bati em algo tão forte na minha vida. A ponta do cano estava cheia de sangue e o concreto da rua também. Andei de volta para o carro e entrei.
- Devíamos levar o cano conosco?
Eu perguntei, fazendo uma cara de nojo, por causa do cheiro podre das tripas da moça que ainda estavam presas nas minhas narinas. Ela disse que sim e que viria a calhar em algum momento. Então, joguei o cano no banco de trás do carro. Continuamos a dirigir e teve uma hora que nós duas podíamos escutar nossas barrigas roncando. Então resolvemos comer aqueles sanduíches que eu tinha preparado mais cedo. Paramos o carro e ficamos em total silêncio. Olhei para Karen emquanto ela enfiava o sanduíche inteiro na boca de tanta fome que tinha.
- Você sabe...sabe se a sua irmã está bem?
Eu sinceramente não sei porque eu fiz essa pergunta. Acho que uma das piores coisas em estar entre uma epidemia de zumbis é você, de repente, lembrar que você tem família ou amigos longe de você e como você não tem como se comunicar com eles.
Ela parou de comer o sanduíche por um instante enquanto eu tentava desviar o olhar. Eu SINCERAMENTE não queria ter perguntado aquilo.
- Esquece!
Eu disse o mais rápido possível.
- Ela está bem....ela deve estar bem. Ela sabe se virar.
Ela disse, resitando no meio da resposta.
- Eu não tive chance de falar com ela, antes de voltar pra casa ontem, mas ela sabe se virar. Talvez ela tenha tido a mesma idéia que agente de ir a Kennesaw e ficar na casa do lago.
De repente, um zumbi apareceu na janela da Karen, e mais dois chegando atrás do carro. Eu (cagona que eu sou) levei um susto enorme, soltando um grito e pedi para ela começar a dirigir.

*****

Depois de duas horas de dirigir, Karen e eu achamos um motel que ficava bem perto da ponte de Atlanta, que era onde nós tínhamos que passar para chegar em Kennesaw. Já eram 23:56 da noite então resolvemos passar a noite no motel, para que pudessemos retomar o caminho na ponte amanhã.
Karen parou o carro logo em frente a entrada do motel e desligou o motor. Peguei nossa mochilas e karen pegou sua shotgun. O motel estava em boas condições, mas a porta rangeu um pouco ao ser aberta. Karen entrou primeiro, já segurando a shotgun pronta para atirar. Avistamos o balcão de quartos a alguns metros da gente e andamos até ele.
Olhamos atrás e vimos um zumbi, mas um dos mais feios: era uma moça, que talvez era a atendente dos clientes do motel mas ela estava horrenda. Um pedaço de tras de sua cabeça arrancada o que expelia muito sangue no cabelo tornando-o vermelho, melquento e mau cheiroso. Seus olhos estavam completamente abertos, tipo esbugalhados mas ela parecia inconciente. Seu rosto estava marcado pelas veias que pareciam ter aumentado 10 vezes mais do que os de um ser humano normal. Seu intestino pendurava-se para fora, expelindo um odor que nem o capeta merecia cheirar.
Karen cutucou seu rosto com a ponta da arma e nada. Ela nem sequer deu um piu. Olhamos uma pra outra e demos de ombros. Então eu disse:
- Esta morta.
Foi só eu falar isso que ela levantou a cabeça rapidamente e olhou para nós. Parecia ter acabado de ver um jantar posto a sua frente. Mas, como Karen já estava preparada, ela só puxou o gatilho da arma e acabou com o terror.
- Ainda bem que esse lugar é pequeno, se não teríamos vários zumbis a nossa volta por causa desse seu tiro barulhento.
Não apareceram muito zumbis. Só 3 empregadas, 2 cozinheiros e dois homens que acho que estavam hospedados no motel. Fomos para a cozinha ver se tinham algo para comer, e graças a deus eles tinham. Depois de comer o espaguete com carne moída, levei nossas mochilas para um quarto e acabei indo pra cobertura porque queria ver a cidade lá de cima e a condição da ponte. Era bem alto.

(Karen On)

Ainda não tinha certeza absoluta se estávamos sozinhas naquele motel então dei uma olhada nos outros 15 quartos. Não tinha ninguém, nem um zumbi. Já dava pra saber que esse motel não recebia muitos clientes. Ele não era esse luxo todo e maioria dos quartos pareciam não terem sido usados ah muito tempo. Estava tudo bem impecável. Tirando a recepção lá em baixo que estava um caos. Depois de ver todos os quartos e achar um jeito decente de trancar a porta dos fundos e a porta da frente, resolvi subir até quarto para me lavar e dormir. Entrei no quarto e chamei:
- Lissa? Onde você ta?
- To aqui!
A resposta veio da varanda e segui sua voz. A achei, olhando a cidade e se apoiando na grade da varanda.
- Karen, acho que deveríamos preparar as pernas para amanhã.
- Porquê?
Lissa apontou para a ponte e estava todo parado. Todo engarrafado de carros que foram abandonados em meio á crise. Isso já era de se esperar. Todos estavam tentando sair de Atlanta e óbvio, que tiveram algumas tentativas de fuga por terra e não por ar. Mas, de jeito nenhum tinha como nós passarmos a ponte de carro. Olhei para Lissa e ela olhou de volta para mim.
- E aí? O que faremos?
- O mesmo. Vamos dormir. Temos um longo dia pela frente.

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