A Chegada

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 A comissária entrega-lhe uma xícara de café preto que Meredith adoça em questão de segundos e com tanta prática que ela nem prova para ver se está bom. De repente ela olha para trás, eu sigo seu olhar.

 – É melhor você correr. – digo.

 – O que?

 – Aquela senhora ali – apontei para uma mulher baixa e gorda que estava lutando para sair de seu acento – não está com cara de que vai sair rápido do banheiro.

 Ela riu.

 – Tem razão. Foi uma péssima hora para pedir café.

 – Deixe que eu seguro.

 – Obrigada. Eu não aceitaria se não estivesse tão apertada.

 Eu rio.

 – Tudo bem.

 Meredith levanta-se sem notar que está com o celular no colo, e eu só tenho tempo de ver em câmera lenta quando o celular cai no chão.

 – Droga. – reclama ela baixinho.

 Decido ajudá-la, mas quando tenho a ideia de pegar o celular do chão, ela tem a mesma ideia e nossas cabeças chocam-se no meio do caminho.

 – Ai! – ouço-a reclamar assim que há o choque.

 Ela levanta-se rapidamente com a mão na testa. Minha cabeça também dói. Bastante, pois ela tem uma cabeça dura e tanto. 

 De repente o avião dá um solavanco muito forte e o café que estava em minha mão derrama-se em meu casaco.

 – Ai meu Deus! – exclama Meredith.

 – Está tudo bem. – digo – Não foi nada.

 Tento acalmá-la, mas Meredith se desespera com a cena, provavelmente imaginando que me queimei bastante, mas o fato é que o café estava tão frio que só o senti porque a manga do casaco ficou ligeiramente gelada.

 – Está doendo? Quer que eu chame a comissária?

 – Não, claro que não. O café estava frio.

 – O que? Frio?

 – Sim. – digo, enquanto tiro o casaco. Por sorte o tecido é tão grosso que não chega a sujar meu paletó.  

 Ela senta-se novamente.

 – Desculpe.

 – Pelo quê? Não foi culpa sua.

 Ela permanece em silêncio, olho-a e vejo sua expressão de culpa.

 – Vamos fazer assim: quando chegarmos eu lhe pago um café, ou uma água, ou qualquer outra coisa que você quiser. – ela propõe, e estranhamente ou não, eu gosto da ideia.

 – Tudo bem, então. – digo.

 Ela sorri em satisfação.

 – Você não ia ao banheiro ou algo assim? – pergunto em um tom leve.

 – É mesmo! – ela ri e levante-se mais uma vez, indo em direção do banheiro.

 Quando retorna, com ela também vem a conversa novamente. E desta vez eu participo. É muito estranho para mim conversar com alguém apenas para passar o tempo, mas suas perguntas são perpicazes e minha boca simplesmente recusa-se a ficar calada.

 Conversamos até o momento em que o capitão anuncia a chegada à Nova Iorque.

 Olhei pela janela e vi a cidade iluminada ao longe.

 Nunca fui fã do Natal, jamais comemorei a data ou sequer me senti mal por isto. Mas devo admitir que as luzes da cidade sempre ficam mais bonitas nesta época do ano.

 Quando finalmente sentimos o solavanco do avião pousando, a sensação foi de alívio. O ar parecia mais leve, e muitas pessoas sorriam sem aparentemente nenhum motivo específico além do sentimento de estar em casa.

Aconteceu em DezembroOnde histórias criam vida. Descubra agora