Suas palavras pairam no ar entre nós. Pisco algumas vezes um pouco incrédulo, talvez achando que deve estar imaginando coisas ou que não ouvi direito. Minha amiga não pode ter feito isso! Não sem me preparar para o baque. De repente sinto a necessidade de me abanar, pelo calor inesperado que sinto. Quase uma mistura de alegria e desespero. O ar condicionado não deve estar fazendo o seu trabalho. Respiro profundamente e olho novamente para seu rosto, que carrega toda a ansiedade que possa caber dentro de seu magro e minúsculo corpo. Mari sempre foi assim, compacta. Mas engana - se quem acha que ela não tenha um bom punho para se defender.
- Você fez o que? - recupero minha voz em um grito estridente.
Quase que imediatamente cabeças se erguem com olhares muito interessados. Podem ser todos homens que trabalham aqui mas conseguem ser mais fofoqueiros que minha vizinha. Me recrimino mentalmente sentindo minhas bochechas arderem.
Dou um tchauzinho e vendo que eu os observo, todos voltam para seus afazeres.
- Isso mesmo que você ouviu, pois surdo sei que não é! - responde de forma petulante.
Lhe jogo um lápis, do qual desvia habilmente rindo histericamente de mim.
- Ridícula!
- Sou mesmo! - Joga os dreads coloridos para o lado.
Junto minhas mãos rente ao meu rosto e tento pensar.
- Por que fez isso? - Estou a ponto de começar a puxar meus cabelos. Minha boca está seca.
- Por ser uma amiga muito legal. - entoa orgulhosamente. Reviro meus olhos.
- Mas não é mesmo!
- Claro que sou! - Estala os lábios. - Seja ao menos grato pelo favor que te fiz. - bufo olhando para o lado.
Vendo que está sendo ignorada, joga uma bolinha de papel em mim. Não me movo, ela grunhe e pelo canto do meu olho, vejo - a se inclinar sobre a mesa. Nem dá tempo de desviar. Apertando a ponta do meu nariz, bato em sua mão para me livrar do aperto. A danada ri.
- Me solta! E eu não te pedi nada ok? - digo entre os dentes. Na minha mente cheia de incerteza eu só consigo ver Ruan na minha frente, eu fazendo papel de palhaço por não conseguir dizer um simples "Oi".
Nem minha fala ou o tom de voz que uso a abalam. Na verdade, são poucas as coisas que conseguem abalar minha amiga, a qual conheço desde o jardim de infância, quando roubamos o lanche um do outro.
- Por isso mesmo eu fiz. - Olha para as unhas com esmalte verde gritante lascado.
- Não aguentava mais te ouvir suspirar pelo vizinho bonito pelos cantos.
- Então você foi lá e resolveu se meter na minha vida? - Sarcasmo puro escorre por minhas palavras.
- Claro! - Solta uma risadinha.
Seus olhos claros me invadem a mente. São tão sérios, profundos e constantes. São tão adultos em alguns momentos. Esse aspecto de alguma forma o deixava a uma certa distância de mim e outros adolescentes. É como se ele fosse maduro demais para estar entre nós. Dizem que a dor faz isso com você. Te molda de uma forma que faz com que seja diferente dos outros. Ouvi mamãe comentar que ele perdeu o pai em um trágico acidente de carro.
Mari estala os dedos finos na frente do meu rosto.- E agora? O que vou fazer? - digo para o nada.
- Senta nele! - Se prontifica a responder um pouco alto. Olho para a porta por um momento alarmado. Mesmo fechada, pode - se ouvir algumas coisas através dela. Minha amiga não parece nem um pouco preocupada de que aa doninhas trabalhando lá fora podem nos ouvir.
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QUANDO VOCÊ SORRIR [COMPLETO]
NouvellesPlágio é crime! Capa by: Stephanie Santos Contém gatilhos. Hugo e Ruan tem planos de vidas definidos e diferentes. A única coisa que os liga é a paixão que ambos sentem um pelo outro. No entanto, suas inseguranças os impedem de viver o que sentem...