Okaasan, Kagome

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Moroha POV

Paralisada.

Feito uma pedra, sim, como uma pedra. Até mesmo respirar eu já não me lembrava mais naquele momento. Minha mente ficou completamente vazia, não sentia presença alguma ou cheiro algum, meus sentidos se esvaíram, meu coração que eu pensava ter parado também, foi o único que continuou a bater e a sentir o que meus olhos e ouvidos presenciaram ao ver aquela mulher olhar para mim e dizer o meu nome.

Não me lembrava dela, poucos sonhos ou pesadelos na qual tive com uma moça linda de sorriso enorme e olhos tão profundos, não fazia questão de ficar me remoendo sobre o que seria ou significava, nunca contei para ninguém sobre isso, ninguém.

Como pode surgir e desaparecer tanta coisa assim do nada? Quando encontrei com Setsuna e Towa, e tudo isso veio a tona de que meus pais estariam vivos, porém presos, até mesmo quando encontrei Inuyasha, meu pai aquele dia... até mesmo quando a vi presa naquele maldito castelo, o impacto não foi tão grande como eu sinto agora enquanto ela me encara.

Ela me olha no fundo dos olhos como se pudesse ver minha alma... pudesse ver e sentir todo o sofrimento que guardei para mim todos esses anos que nem me lembrava ou queria aceitar quem eu era, se nem mesmo quando me contavam histórias sobre ela fazia sentido algum.

Kagome.

O nome dela era esse. Uma garota que viaja no tempo, quinhentos anos à frente do que vivo hoje. Como eu poderia entender essa loucura? Eu seria mais velha que minha própria mãe? Ela deixou tudo para trás para ficar aqui sem conforto algum, sem a família ou sonhos que tinha, para viver ao lado de Inuyasha.

Amor?

Seria isso? Sempre pensei como seria esse sentimento, o que significava. Posso ser nova ou considerada já até uma mocinha. Talvez pudesse estar até namorando, no entanto poderia sentir um amor assim como eles? Como eu viveria isso, se não lembrava como era com ela?

E aí... num único olhar e num único sussurro quando essa mulher na minha frente se direciona a mim. Agora eu percebo, entendo e compreendo que aquilo que eu sempre quis a tanto, tanto tempo e me foi tirado, sempre esteve com ela e eu sempre senti por ela.

- Okaasan? – Mamãe. Essa palavra que ouvia sempre os pirralhos chamarem suas progenitoras ou por vezes nem eram. Entretanto, esse laço de amor que os envolvia fazia com que essa palavra se tornasse um símbolo abençoado, eu do contrário, achava que deveria ser privada de tal coisa, já que eu era diferente e não existia ninguém igual a mim. Como eu sonhava em dizer essa palavra nem que fosse uma vez.

- Minha Moroha! - Então quando ela disse meu nome mais uma vez, era como se naquela hora eu que estivesse sido libertada. Senti meus braços e pernas se moverem, meus olhos que não queriam nunca mais se fechar para não perderem sequer um minuto em olhar para ela, se consumiram em minhas lágrimas. Instantemente me lancei sobre ela e naqueles braços abertos que se direcionava a mim.

- Mamãe! Okaasan! Okaasan! – Eu a abracei tão forte que fiquei com medo de machuca-la. Porém não consegui me conter, não consegui me controlar. Comecei a chorar e sentia o cheiro de suas lagrimas sobre mim. Palavras murmuradas e balbuciadas ela dizia, não compreendia o que dizia, mas sabia exatamente o que significavam.

Ah como eu queria que aquele momento parasse. Congelasse. Só para sentir os braços de Kagome, minha okaasan, me envolvendo, me protegendo, me dando carinho, me dando apoio, me dando amor.

Sempre tentei ser forte, não podia deixar ninguém me subestimar, nessa era de youkais e humanos, alguém sendo um quarto youkai do qual ninguém ouvia falar era considerada até em alguns lugares pelos quais já passei como pior que humanos... mais asqueroso e nojento que qualquer youkai.

Mas ela não sentia isso por mim, ela me trouxe a vida e quase perdeu a vida para me proteger. Deixou tudo para viver com meu pai, porém naquele momento eu sentia que ela me tinha como seu maior amor e tesouro precioso. Mais precioso que respirar.

- Moroha, me perdoe! Me perdoe! Me perdoe! – "Perdoar? Porque ela quer que eu a perdoe?"

- O-o q-que a s-senhora es-está di-dizendo? – Eu mal conseguia pronunciar uma palavra corretamente naquele choro todo... não conseguia parar de chorar.

- Eu não estava aqui! Eu não estava aqui para te proteger! Não estava aqui para cuidar de você enquanto crescia! Meu amor eu sinto tanto, que a dor que tenho no meu coração só é comparada ao tamanho do amor que tenho por você! Minha menina, meu bebê, como eu senti sua falta! Você ainda cabia pequenina em meus braços, podia carregar você. Aconchegava você ao meu seio quando estava com medo de raios e trovões. Cantava as canções que minha mãe cantava para você, e mesmo assim você me dizia que amava a que tinha o meu nome! Ainda sinto o calor de seu corpinho a última vez que a tive em meus braços... e agora... e agora...

Ela nos separa por um breve momento, eu já ia reclamar porque eu não queria mais sair daquele abraço, nunca mais! Foi aí que meus olhos foram fitados novamente por aquele poço de amor e doçura que aquela mulher conseguia emanar de si, uma luz tão linda que ainda assim não me sentia digna por estar sentindo seu calor.

Suas mãos suaves seguraram ambos os lados de meu rosto e chegando mais perto de mim continuou. "Céus minhas lágrimas, malditas lágrimas que não permitiam que eu a visse com clareza, ainda deslizavam em correntes como se fossem as nascentes de rios."

- Você está tão crescida, tão linda e perfeita como eu jamais poderia imaginar. Ainda quando estava em meu ventre, me pegava imaginando se você seria parecida comigo ou com seu pai. Se teria as orelhinhas lindas dele ou o cabelo prateado... Meu sorriso ou a cor dos meus olhos. Mas você Moroha, você é a melhor combinação de nós dois. Meu melhor sonho, minha perfeita realidade. Você é tão única e minha alegria da vida! Perdoe-me, perdoe-me por quebrar minha promessa que fiz quando senti você aqui dentro, quando tive você em meus braços pela primeira vez... quando você... naquele incêndio eu não pude... não pude...

- N-não t-t-tem o q-q-q-ue perdo-do-arrr!!! V-v-ocê volt-tou pra mim e isso o que importa!!!! Eu nunca mais quero te perder!!!

- Eu nunca mais vou te deixar!! Nunca!! Nunca mais!!!

E aí, ela me abraçou de novo. Ficamos assim por quanto tempo? Não sei, não me recordo. Só sei que depois de um tempo, lembrei que Inuyasha ainda estava lá vendo tudo. Ele ficou tão estático como eu fiquei. Quando olhei para ele, naqueles olhos dourados, eu sentia nele a mesma coisa que eu passei por anos. Ele também foi um garotinho perdido por muito tempo, sozinho, odiado, sem saber exatamente o que era e se abominando várias e várias vezes por ser diferente.

Percebi que eu, de certa forma, vivi como meu pai havia vivido. Senti aquela tristeza, aquela junção de sentimentos infelizes ao olhar para ele. Era como se naquele, e só naquele exato momento, nós dois finalmente havíamos nos entendido, nos encontrado como pai e filha.

- Otousan, venha! – Relutantemente, tirei um de meus braços da cintura de minha mãe e estendi para meu pai. Sorri para ele, e finalmente ele despertou também de seu transe. Pegou minha mão e veio se juntar a nós em nosso abraço de tanta saudade, de nossa família.

Ele chorava assim como eu, havíamos recuperado nossa família, nosso porto seguro, quem havia trazido a nós dois de volta à vida. Kagome.

**CONTINUA**

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