Capítulo 3

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“So I told her I loved her

She told me she loved me

And I mostly believed her

And she mostly believed me”

Options – Pedro The Lion

 

 

Quando avistei a entrada daquela casa de pedra imponente, estava ofegante. Durante todo o caminho tentei pensar num jeito mais fácil de anunciar o que eu estava prestes a fazer. Terminar com Penélope. Era isso. A solução para todos os meus problemas estava a poucos passos de ser executada. Certamente não era minha primeira opção, mas eu desconhecia um jeito melhor de fazê-la aceitar minhas escolhas voluntariamente.

Toquei a campainha impaciente. Seus pais não estariam em casa naquele horário. Na realidade, eram ocupados demais para estarem presentes em qualquer horário. Não que isso tivesse sido ruim alguma vez. Penny e eu usávamos sua casa como escape nos dias em que queríamos ficar sozinhos, sem sermos incomodados. Era justamente o que eu esperava naquele momento.

Bati na porta com força quando não obtive resposta. Do outro lado, alguém gritou:

- Entre, a porta está aberta!

Era ela, provavelmente do seu quarto. Entrei receoso e subi as escadas com o coração aos pulos. Precisei reunir muita coragem para não me virar e dar meia volta. Quando abri a porta, avistei apenas uma cama vazia. Uma melodia ecoava baixa ao fundo.

- Estou aqui – sua voz veio da outra extremidade do quarto impecavelmente alinhado.

Fechei a porta atrás de mim e engoli em seco. Penélope estava sentada em seu computador, vestindo apenas uma comprida camiseta branca. Mais nada. Forcei meus olhos a se desviarem de suas pernas nuas.

Ela se levantou e veio em minha direção com um sorriso desconfiado nos lábios. Prendi a respiração, sentindo sua beleza despertar cada restinho morto de energia que habitava meu corpo trêmulo.

- Achei que estivesse no ensaio – seus braços rodearam meu pescoço. -  O que foi?

- Você.

Ela riu e se afastou alguns centímetros.

- Isso? – apontou para a barra da camiseta. – Eu não estou pelada, se é o que está pensando.

Com um movimento rápido, levantou a peça de roupa, deixando à mostra um minúsculo short preto, que poderia ser facilmente confundido com uma roupa íntima, não fossem os botões pregados na frente. Meu olhar prontamente subiu para sua barriga, explorando as linhas sinuosas de seu corpo. Um súbito impulso de tocá-la fez meus dedos formigarem. Respirei fundo e recuei as mãos, encarando seus olhos zombeteiros.

- Não era isso que eu estava pensando – menti.

Ela sorriu e seus lábios pareciam imãs, puxando os meus em sua direção. Contive um sorriso e segurei suas mãos, reunindo coragem para dizer aquilo que eu precisava.

- Penélope, eu... Nós...

- Dança comigo? – ela me interrompeu, puxando meus braços e enlaçando minha cintura.

- O que? – e o mínimo vestígio de coragem dentro de mim calou-se.

- Quero que dance comigo. Por favor... – seus olhos tinham o poder de me hipnotizar.

 Sem resistir ou ao menos pensar no que estava fazendo, meus pés começaram a mover-se, unindo-nos como se cada segundo de distância fosse insuportavelmente doloroso. Deixei que ela me conduzisse, apenas admirando seus movimentos graciosos. Penélope era linda. Como uma bailarina. Como uma flor desabrochando diante dos meus olhos. Seus pés moviam-se espontaneamente e seus braços me enlaçavam e envolviam, como uma brisa adocicada de verão. Sua risada ecoava por todo o quarto, preenchendo o silêncio e aquecendo cada membro congelado do meu corpo completamente inadequado para dança. Eu poderia dançar com ela para sempre.

Em contrapartida, eu parecia um bêbado, embriagado com seus olhares desavergonhados que sugavam minha alma para aquele infinito verde. Eu queria me perder neles. Queria me perder em cada canto intocado daquele milagre divino à minha frente. Ela sorriu. Eu sorri. E, trôpegos, rodopiamos até cairmos juntos no tapete felpudo, rindo da nossa combinação de garoto problema e garota perfeita. Calmaria e confusão. Brisa e ventania. Cadu e Penélope.

- Eu adoro seu sorriso – ela entrelaçou suas pernas nas minhas, fazendo meu corpo estremecer outra vez.

- Eu adoro sua boca. Principalmente quando está na minha.

Ela sorriu e passou os dedos quentes em meus lábios.

- Cuidado com a aposta, espertinho...

Sorri em resposta.

- Eu amo seus olhos verdes. E suas sardas – afastei os cabelos de seu rosto, esquadrinhando seus traços e acariciando suas bochechas rosadas.

- Eu amo suas mãos...  – continuou receosa. – Seu toque.

- Eu amo você.

E era isso. E não importava qual seria sua resposta nem o quão doloroso seria dizer qualquer pensamento contrário que me sondou o caminho inteiro até ali. Eu amava Penélope. Mais do que algum dia amei qualquer coisa. Qualquer pessoa. Mais do que eu era capaz de compreender.

- Nunca me disse isso – seus olhos eram um misto de dúvida e satisfação.

- Nunca achei que precisasse – enrolei seus cabelos nos dedos e a trouxe mais para perto, misturando nossos corpos. – Na verdade, nunca soube o que era isso. Até que tentei negar o que sentia – suspirei fundo. – Não achei que fosse ser tão doloroso fazer isso... 

- Está terminando comigo? – seus olhos se estreitaram e suas mãos em meu peito fizeram a dor se irradiar como uma pancada no coração.

Penélope me conhecia melhor do que qualquer um. Talvez por isso fosse ainda mais difícil dizer aquilo. 

- Era o que eu deveria fazer – fui sincero. – Mas não posso. Não consigo.

- Mesmo que isso signifique desistir dos seus sonhos?

Sua pergunta me pegou de surpresa. Era fácil dizer que desistiria de tudo enquanto estava ali, em seus braços, mas e depois? Depois que ela se formasse e escolhesse os próprios caminhos, será que eu ainda teria essa certeza? Fechei os olhos e, quando os abri novamente, ela me encarava apreensiva, como se pudesse ler meus pensamentos.

- Eu não sei, Penny.

Foi tudo o que pude dizer, em meio às dúvidas que gritavam em minha mente.

- Eu também amo você – ela disse e eu tive certeza de que aquilo não era o fim. 

Afundei os dedos em seus cabelos e deixei que meus lábios sufocassem nos seus todas as palavras não ditas de nós dois. Dane-se aquela aposta idiota! Seu beijo era como uma taça de vinho, inebriante e doce, cortando todos os meus sentidos e me levando ao êxtase. Minhas mãos percorreram seu corpo, encaixando-nos como um quebra-cabeça recém-completado, nos fundindo como um único ser, enquanto seu calor irradiava minha pele, arrepiando cada centímetro com um prazer jamais sentido. Não precisávamos ir além daquele beijo. Não precisávamos de explicação ou sentido para nos fazer entender. Aquele era o primeiro despertar de um amor que duraria para sempre.

[...]

Parecia um sonho quando acordei horas depois, ainda em seus braços. Mas por mais que meu coração se recusasse a se esquecer daquele rosto sereno que se escondia em meu peito, meu raciocínio lógico sabia que eu tinha cometido um erro irreversível.

Não, eu não consegui terminar com ela. Não conseguir dar-lhe o adeus necessário e seguir em frente. Até onde levaria aquilo? Era difícil saber, mas ela provavelmente jamais me perdoaria quando eu lhe contasse que estava indo embora. Faltavam poucos meses para isso, mas como eu poderia olhar em seus olhos e mentir, como se nada tivesse mudado?

Suspirei fundo e a tomei em meus braços, deitando-a em sua cama e saindo dali o mais rápido possível, antes que ela despertasse e me atingisse com perguntas das quais eu não teria respostas.

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⏰ Última atualização: Mar 03, 2015 ⏰

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