Tarde

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Os dias correram e minhas noites de sono foram ficando cada vez mais curtas, o dia da entrega final foi acalorado, movimentado e cheio de mudanças repentinas como em qualquer projeto. Mas, concluímos com sucesso todas as peças, acabou que fiz um networking incrível com gente de tudo que é canto do Brasil. Não socializamos muito, mas a dinâmica do grupo foi maravilhosa, todos muito dedicados e parceiros.

No ultimo dia como previso teve um bruch no final da tarde. E após apresentarem o trabalho que foi feito e a data de lançamento a diretora de arte decidiu fazer um discurso de agradecimento , os sorrisos com os olhos e as palmas entusiasmadas preenchiam meu coração, é muito bom poder colaborar pro sucesso de alguém tão maravilhoso, nossos olhares se cruzaram. O sol estava se pondo, o amarelo alaranjado coloriu o jardim, a piscina e a pele dela que brilhava com um suor mínimo, mesmo quando estávamos todos pingando de calor, eu não queria desviar o olhar, mas alguém sempre roubava a atenção dela. 

Enquanto as pessoas se serviam eu fui pro meu cantinho, pra sentar pela última vez onde eu tinha realizado um sonho. Eu me apego fácil a rotinas, queria manter essa que por mais cansativa que tenha sido, foi absurdamente recompensadora.

Parei por um minuto de costas pra multidão, em frente a mesa que eu sentava diariamente, o clima era descontraído todos dançavam timidamente ao som da cumbia, quando me virei vi que ela dançava do outro lado da piscina e parecia olhar pra mim, não tenho certeza porque minha miopia não me permite confirmar, mas acho que era.

A playlist favorecia minha dor de cotovelo prematura, e ao som de "bem melhor" ela deu a volta na piscina e se aproximou. Os versos carregavam uma saudade enorme de festa, de dançar agarradinho, e enquanto ela cantava

" Esse jeito de criança me encanta
Quando vejo o teu sorriso
Chega perto que eu te escuto
Quando quiser falar
você vai ver, oh! mulher
Não estarás mais só ",

eu dançava de longe com os ombrinhos mexendo, no mesmo ritmo que ela. Foi breve a passada, logo chamaram ela pra uma conversa. Olhando pra ela daquele jeito eu não queria conversar, ela sabia que eu não queria, era impossível puxar papo com ela quando eu só pensava em beijá-la.

Nossos olhos se cruzaram diversas vezes, enquanto ela pulava de rodinha em rodinha pra conversar. Eu estava exausta, deu 21 horas e eu bocejava incessantemente até que aceitei o meu limite, eu queria MUITO ficar até o final mas eu tava morta de sono foram semanas exaustivas. Me despedi das pessoas, agradeci pelo aprendizado compartilhado e ao passar por ela dei um tchauzinho de longe enquanto ela falava incansavelmente, entusiasmada com alguma coisa que eu não conseguia entender. Alguns segundos ela percebeu que eu estava me despedindo e me alcançou na porta, me puxou no cantinho e sussurrou:

Amanhã o moço vai lhe buscar no hotel, 19 horas esteja pronta visse? Bem bonita. Vão estar só as pessoas que estão na casa mesmo comigo, só os mais próximos. Não conte pra ninguém pelo amor de deus que eu to confiando em você não quero ninguém te seguindo.

E segurei na mão dela, que dessa vez estava quentinha, olhei bem fundo dos olhos dela e disse:

- Não se avexe não. Meu único interesse é te ver, não vou contar pra ninguém.

Ela piscou pra mim e apertou minha mão como quem confirma. E falou:

Pois até amanhã então ! Um cheiro.

Beijo, Ju.

No dia seguinte eu acordei meio dia, com mensagem no whatsapp de um número desconhecido:

E ai gatinha?! ;) Salva aí o contatinho, Juliette a bonita. 

Diário de uma sapatão (Juliette's Fanfiction) [ON HOLD]Onde histórias criam vida. Descubra agora