Uma short fic para o dia dos namorados.
--
Eu amo café. Se eu não tomar meu café e comer meu croissant pela manhã, todos os dias, o meu dia se torna, em questão de minutos, um inferno. Veja bem, eu trabalho, empresária de mim mesma, tenho uma equipe, mas eu amo sair pela manhã e comprar o meu próprio café. O problema é que eu tropeço em mim mesma, não precisa ter uma pedra no chão ou algo para me fazer tropeçar, eu tropeço com o vento. E hoje foi esse dia macabro que ia dar errado. Eu comprei meu café e meu croissant, não sei o que me fez tropeçar dessa vez, mas eu sei que o meu café voou da minha mão indo diretamente para o chão o croissant teve o mesmo caminho e eu só não tive o mesmo fim porque senti mãos e braços fortes segurando ao redor da minha cintura em uma destreza incrível. Muito rápido, eu diria. Uma mulher, eu soube pelo toque e pelo perfume. Chanel n° 5. Quando você é a editora chefe de uma das maiores revistas conceitual de moda, você passa a saber quais são os perfumes mais caros e vendidos para a alta cúpula do mundo.
-- Cuidado. Está tudo bem? - Me ergui e levantei o rosto para saber de quem era a voz rouca e eu nunca vi olhos tão lindos em toda a minha vida. Suas mãos ainda segurava minha cintura, não com a firmeza de antes, mas segurava. Cabelos loiros cumpridos, olhos verdes, rosto totalmente simétrico. Linda. Seria eufemismo dizer que eu nunca tinha trombado ou visto mulheres lindas, mas ela é diferente. A aura que nos envolve, o olhar direto - mesmo eu suspeitando que ela sabia quem eu era mas a pergunta seria quem ela é?
-- Obrigada. Acho que eu tropecei com o vento. - senti suas mãos se distanciarem da minha cintura - Mas estou bem, ao menos eu não fui ao chão dessa vez.
-- Para uma mulher como você, tropeçar devia ser proibido. - riu - não me leve a mal, tropeço e saltos altos não é confortável.
-- Bem, ósseos do ofício. - sorri contida e educada - Presumo que meu dia não será bom, mas não tenho mais tempo para comprar outro café, mais uma vez, obrigada por me segurar.
-- Se cuide, senhorita Freire.
Oh sim, ela sabia quem eu era, mas não tive tempo de saber sobre ela. Uma reunião importante estava a minha espera e eu não tinha muito tempo. Não gosto de atrasos, por fim, a única coisa que ficará para saborear, além do único gole de café que eu consegui ter, é a sensação de ser segurada e olhada pela loira misteriosa. Com certeza, se eu der a descrição dela para Camilla ela me ajudaria a saber quem podia ser. Mas eu não queria então eu ficaria apenas com as minhas memórias e sensações. O dia seria de cão e eu não teria tempo para pensar em outras coisas ou pessoas.
Cheguei no prédio onde trabalhava e cumprimentei quem estava no hall. Eu não sou o tipo de chefe que tolera os excessos mas não sou aquela que mata na unha. Os barulhos dos meus saltos são audíveis mas dessa vez não há tropeços, graças a Deus. A questão aqui é que, sim, eu sou temida por ser a chefe, mas eu também sou respeitada. A junção dos dois faz com que eu respeite os limites e explore dos meus companheiros de trabalhos caminhos que eles ainda não sabem que são capazes de fazer. Todos aqui são inteligentíssimos e criativos, então, por um lado eu exploro esse talento que eles nem mesmo sabem que tem; não é porque a revista é do universo da moda que todos que trabalham aqui são fúteis, oh não, não tem ninguém fútil aqui. A moda não é fútil e nem as pessoas que trabalham com esse estilo. Sou empática e paciente o suficiente para não surtar ou cobrar em excesso dos meus subordinados. Dizem que eu sou uma chefe diferente. Eu não gosto desse título. Chefe manda e não aceita nenhum tipo troca. Faça o que foi mandado e garanta o seu emprego, no meu caso eu me vejo como uma líder. Eu lidero pessoas, eu sou que diz sim ou não, eu aprovo e desaprovo. Mas eu justifico o motivo de cada decisão. Escuto todos, em todas as reuniões, no final das contas a decisão final será única e exclusivamente minha. Cada um sabe o que tem que fazer e priorizar. O trabalho por si só já é tenso. Algo errado e o nome da revista e dos criadores e de uma gama enorme de estilistas pode virar chacota e não queremos isso. Jamais.