Eu detestava viajar de noite, odiava. Aqueles faróis altos atrapalhavam minha vista. Eu sempre respirava aliviada quando eu percebia que eu era a única na estrada, por minutos ou horas, eu não precisava me preocupar em desviar os olhos para a faixa contínua da pista. O som tocava uma das inúmeras playlists salva no meu Spotify, já passava das nove da noite e eu não tinha parado nem para tomar café, contabilizei mentalmente, desde a última parada, quatro horas dirigindo sem parar. Tamborilava os dedos no volante no ritmo da música, era alguma internacional, não me recordava da letra, parecia ser nova ou que eu nunca tinha escutado - tenho minhas músicas de estimação - se estivéssemos na era do CD e não do digital, diria que o CD ia furar de tanto que eu o colocaria para tocar.
Mais alguns minutos e uma chuva forte começou. Era só o que me faltava. Olhei para o painel e pude ver que eu ainda tinha meio tanque de gasolina, o GPS do carro indicava que, há um quilômetro e meio tinha um hotel e restaurante. Bem, definitivamente era hora de parar.
Ainda refletindo algumas coisas da minha vida, a única certeza que eu tenho é o sucesso na minha carreira profissional, fora isso, o lado pessoal é totalmente desastroso. Na conta um namoro tóxico que graças a Deus e aos meus amigos eu pude me libertar do encosto, mas ainda não me libertei dos traumas. Não me trato como uma vítima para sempre, a questão é que você fica totalmente desconfiado e desacreditado que alguém pode vir realmente a te amar sem querer te arrancar a alma em troca. O namoro com o Lucas de início era uma maravilha, mas todos viam uma problemática e eu não quis ver. Quando comecei a reparar no que meus amigos falavam, eu já não os via com mais frequência, não vivia mais como vivia antes dele, o brilho nos olhos há muito já tinha se apagado e eu não tive a capacidade cognitiva de perceber isso.
Aproximando do local eu vi a fachada do hotel, não era de luxo, mas era o suficiente para uma noite. Dei a seta para o lado direito, e diminuiu a velocidade, entrando com calma na pista de saída da estrada. Parei o carro na única vaga coberta disponível, tive sorte de deixar a bolsa de mão no banco de trás do carro, assim, não precisaria me molhar. Respirei fundo assim que saí do carro e pude sentir a tensão da pista. Dirigir era muito bom, mas ao mesmo tempo, tenso. Estiquei os braços e peguei a bolsa no banco de trás. O restaurante era ao lado, eu só queria um banho quente, jantar e uma cama confortável para deitar e tentar descansar a mente e o corpo.
Quando entrei no hall do hotel, um perfume maravilhoso surgiu. Me estremeci e arrepiei somente com o cheiro de um perfume cítrico, totalmente feminino. Eu só podia estar louca, mas meus olhos estava a procura de quem estava com aquele cheiro delicioso, que invadiu o espaço daquele lugar.
-- Boa noite, tudo bem? Em que posso ajudá-la?
-- Boa noite. Tudo bem e você? Eu gostaria de um quarto. Cama de casal ou solteiro. Só preciso descansar.
-- Claro, eu vou checar. Um momento, por favor.
Enquanto eu esperava, olhava o local. Era aconchegante, embora não muito grande. Tinha quadros de fotos ao redor do hotel, os pontos turísticos daquela cidade - que eu não sabia o nome, pois a estrada passava por fora da área povoada. Uma mulher estava de costas para mim, estatura mediana e longos cabelos pretos, estava de cabeça um pouco baixa, percebi que falava algo no celular, digitando. O cheiro realçou quando ela mexeu no cabelo, então, aquele cheiro maravilhoso era dela? Bem, ela era muito cheirosa, estava prestando atenção em tudo e vez ou outra olhava para ela, eu não entendia o que estava acontecendo comigo.
-- Senhora?
-- Oi, pode me chamar de Sarah. Sem senhora, por favor - sorri
-- Claro. Sarah eu estava procurando e o único quarto com casal foi alugado agora, há cinco minutos antes de você chegar. E quanto aos de solteiro, todos estão cheios. Eu realmente sinto muito.