Debaixo do Alçapão

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Com o rosto corado pelo vinho - mais especificamente doze caneconas de vinho - Hagrid assoava o nariz com um pano imundo enquanto se debulhava em lágrimas pela partida de Norberto. Tudo havia corrido bem. Sherlock e John chegaram bem a tempo de ver Hagrid relutando pra entregar o ovo, até finalmente conseguirem convencê-lo.

Agora o guarda-caças estava inconsolável.

— Ele vai ficar bem — John dava-lhe tapinhas no braço (já que não conseguia alcançar as costas) — Vai conhecer outros dragões.

— Mas e se os outros não gostarem dele? E se ele ficar sozinho?

— Isso não vai acontecer. Ele é um dragão bem bonitão, sabe? Vai fazer amizade fácil fácil. Até pode arranjar uma namorada...

Sherlock olhava para a lareira, concentrado em seus pensamentos. Precisava aproveitar o momento e achar uma abertura pra fazer as perguntas que queria. "Você já ouviu falar da pedra filosofal?", não, Hagrid provavelmente o expulsaria da cabana. Teria que fazer o assunto surgir da forma mais natural possível.

Tirou as mãos dos bolsos antes de olhar novamente para Hagrid, cujo rosto estava encarnado. Nem mesmo a solicitude de John era capaz de fazê-lo suportar a perda. Mas o que aquele meio-gigante queria? Não era óbvio que não conseguiria guardar um dragão por muito tempo?

De repente a mente de Sherlock deu um estalo.

— Hagrid?

— Oi. — O guarda-caças assoou o nariz mais uma vez.

— Por que um cara daria um ovo de dragão pra você?

— Ele confiou em mim, claro! Quantas pessoas você acha que iam saber cuidar de um dragão?

— Mas ele não lhe conhecia e mesmo assim confiou o ovo a você. Por que um completo estranho faria isso?

— Ele deve ter contrabandeado o pobrezinho.

— Disso eu tenho certeza. Mas por que daria a você?

— Porque ele queria se livrar logo do ovo, ora! Mas não podia ser qualquer um, ele me disse. — Bebeu mais um gole de vinho — Perguntou se eu saberia cuidar de um dragão. Eu falei que todas as criaturas ferozes podem ser amigáveis. Olhem só o Fofo... É só tocar uma música que ele dorm...

Mas não terminou de falar, ainda mais porque Sherlock não conseguiu disfarçar os grandes olhos claros cobiçosos diante daquela informação.

Por um instante Hagrid pareceu ter recuperado a seriedade e a sobriedade.

— Esqueçam que eu disse isso, ta bom? Já está tarde! Vão, vão embora! Se pegarem vocês fora da cama, vão perder pontos!

Hagrid os enxotou, e quando fechou a porta num baque seco, Sherlock imediatamente cobriu a si e ao amigo com a capa da invisibilidade.

— Isso é péssimo, John.

— Acha que a pessoa que deu o ovo pra ele está atrás da pedra filosofal?

— Claro! E agora as suspeitas sob Snape ficam ainda maiores!

— Por que?

— Só um professor pode conhecer Hagrid tão bem a ponto de saber que ele diria qualquer coisa pra ganhar um ovo de dragão, e só um professor sabe o que tem atrás daquela porta. Snape é um professor!

— Sim, mas tem outros professores na escola.

— Mas nenhum mais suspeito que ele. Todo o mundo bruxo sabe que ele já foi seguidor de... - E de repente parou de falar - ...

Potterlock - A Pedra FilosofalOnde histórias criam vida. Descubra agora