Prólogo

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— Tá demorando muito, papai! — Amanda reclamou de braços cruzados.

— Eu sei, Amanda, já estamos saindo desse trânsito.

— Tô com fome.

— Quando não está, pimentinha? — Eu brinquei.

Amanda mostrou a língua para mim, de brincadeira, e depois voltamos a brincar de adivinhar. Ela nunca foi muito paciente em trânsitos lentos, sua ansiedade batia com força e eu, como irmão mais velho, tinha que acalmá-la. Ela sempre foi tudo pra mim. Quando os nossos pais me contaram que eu seria irmão mais velho, tinha apenas 6 anos de idade, mas, mesmo assim, mesmo sendo apenas uma criança, eu a amei e cuidei desde quando ainda estava na barriga da nossa mãe. Ela era espoleta desde então, daí o meu apelido carinho: pimentinha. Seria pipoquinha, mas alguns me disseram que parecia nome de cachorro... e confesso que não gostei do comentário na época, mas deixa pra lá, estou divagando...

Os carros finalmente começaram a andar mais rápido e isso animou a minha pequena irmã. Ela conhecia o caminho e que em algum momento chegaríamos no BeyKa, nosso fastfood favorito.

Meia hora depois de comprar o nosso lanche e voltarmos para a estrada, começou a cair um temporal monstruoso.

Ah, não... Amanda tem medo de relâmpagos...

Ela começou a tremer suavemente do meu lado, olhando pra janela, com medo. Eu toquei em sua mão e ela me olhou, dando um sorriso fraco e se aproximando de mim para se aconchegar no meu abraço.

— Não fique com medo, pimentinha, é só uma chuva.

— Não gosto do barulho que a chuva faz quando bate no vidro... e do relâmpago tremendo tudo... e não dá pra ver nada! — Amanda sussurrou com o rosto pressionado no meu peito.

— Sempre que sentir medo, lembre-se: eu estou aqui e sempre estarei aqui, não importa quando ou como.

Eu não fazia ideia do quanto aquela promessa pesaria na minha vida.

Bem, vocês sabem o que acontece agora, né?

Um carro atrás de nós não conseguiu frear a tempo e bateu na traseira do carro, fazendo com que derrapássemos para frente e para o lado. Nosso pai tentou controlar o carro, mas não conseguiu impedir que derrapasse para o lado.

Eu não sei se vocês acreditam em forças espirituais, mas posso dizer que foi praticamente isso que sussurrou em minha mente: "salve-a! Salve a sua irmã". E depois disso, tudo aconteceu muito rápido, em questão de segundos. Eu não pensei, só pulei em cima da Amanda, cobrindo o seu corpo... enquanto o meu foi esmagado pela lataria do nosso carro, quebrando a minha costela e perfurando o meu pulmão.

Morri na hora. Eu tinha apenas 17 anos quando isso aconteceu.

Mas tudo bem! Amanda estava viva. Dolorida, com alguns arranhões e falta de ar, mas viva, e era isso que importava. A minha missão na terra estava concluída e agora eu poderia descansar... ou pelo menos foi o que eu pensei. 

Eternamente, Dudu - Conto 2 (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora