Eternamente, Dudu - Conto 2 (EM ANDAMENTO)

Capítulo 1 - Entendimento

Há momentos que é um livramento dizer adeus... e há momentos que é angustiante, principalmente de uma maneira tão precoce, e é assim que o ser humano pensa quando se depara com uma perda, seja ela própria ou de algum conhecido.

Uma coisa que todos precisam entender é que despedida é apenas uma forma do nosso psicológico entender e aceitar que não veremos mais um determinado ser, seja humano, animal, ou, até mesmo, inanimado. Mas e o outro lado? E quem está partindo... também se despede? Esse é o x da questão e que gostaria de responder para vocês: não, mas em partes.

Nós, que partimos, passamos por diversos níveis e testes até realmente nos fixarmos no Céu... ou no Inferno. Enquanto estamos sendo testados, temos permissão de vagarmos pela Terra. Alguns de nós já partem com as correntes que nos prendem da vida mundana partidas, outros ainda precisam aceitar a sua nova "vida" e se despedir em seu tempo, por isso a permissão de vagarmos por aí, porém há uma regra que deve ser cumprida: não deverás interagir, apenas visitar e se despedir. Ou seja, mesmo se alguém nos chamar, querer conversar conosco, deveremos ficar na nossa, pelo menos até essa fase passar.

Após esse período, nós somos levados para o nosso novo lar (Céu ou Inferno) e lá recebemos trabalhos e treinamentos para ajudar na caminhada espiritual de nossos parentes e amigos que escolhemos acompanhar, e também de outros que somos incumbidos a auxiliar. E é por isso que na verdade não nos despedimos completamente. Nós continuamos ali, com todos, só não nos veem ou sentem (a não ser que tenha pré-disposição para tal coisa, mas isso é outro assunto para mais tarde).

Não preciso dizer que até entender e aceitar tudo isso, eu só entrei em pânico, né? Imaginem: uma hora eu estou em um carro brincando com a minha irmã mais nova, no outro... eu estou desacordado, sem saber onde estou, o que aconteceu, se a Amanda estava bem, se consegui salvá-la, ou se ela partiu junto comigo... entendam, é desesperador!

Confesso que até apagar completamente, eu ainda consegui ouvir os gritos de Amanda quando me joguei em cima dela... e depois apenas falta de ar, uma escuridão, e mais nada... como se eu não existisse, como se eu fosse o nada. Segundos (foi o que pareceu) depois lembro de ter me sentido flutuar, mas ainda era escuro... eu queria enxergar, queria saber onde estava, e como num passe de mágica, o que estava na minha frente começou a aparecer, como se eu estivesse abrindo os olhos lentamente. No início estava desfocado, mas também começou a se reajustar, até entender onde eu estava e o que eu estava vendo: estava no carro e na minha frente era Amanda deitada e desacordada, mas de alguma forma eu sabia que estava viva... eu ouvia o seu coração bater. E então eu vi o corpo em cima dela... o meu corpo... ensanguentado e sem vida.

"Não... não pode ser...", eu pensei na hora. E então o pânico começou a tomar conta de mim. "Amanda!", eu quis gritar – e para mim eu gritei sim, tanto que senti Amanda se mexer, como se tivesse levado um susto. Em seguida, senti que estava sendo puxado de lá, tudo ficando desfocado novamente, até a escuridão tomar conta de mim mais uma vez, mas dessa vez por um pouco mais de tempo.

Quando acordei (seria esse o termo correto?), encontrei-me deitado, olhando para cima, mais perdido do que possa imaginar. Olhei para o lado e não havia ninguém, apenas uma marca de freada, cacos de vidro, mas nenhum carro. Olhei para baixo, para mim, e percebi que eu estava... transparente? Acho a melhor analogia para que possam entender é essa. Eu estava transparente e com um contorno azul cristalino, mas bem claro, envolta de mim. Por força do hábito, afinal fui um mundano antes, levantei e fiquei de pé. Ao fazer isso, percebi que tudo que estava acontecendo em minha volta estava em câmera lenta... quase parando. "Eu virei o 'The Flash'?", pensei. "Eles estão lentos, ou eu estou mais rápido do que eles?".

— Nem uma coisa, nem outra, meu caro — ouvi dizerem atrás de mim.