CAPÍTULO DOIS

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Todos se reúnem na mesa da sala e reviram os grimórios em busca de alguma coisa que nos ajude a salvar Elise, sem sucesso. Eu prefiro me afastar. Sozinho consigo pensar melhor, deito-me embaixo de uma árvore, sinto a grama macia do campo que há alguns dias vi em chamas devido ao descontrole de Elise, hoje estava intacto, como se nada tivesse acontecido, deixo o ar invadir meus pulmões e fecho os olhos, deslizando meus dedos sobre a cicatriz que os dedos de Elise deixaram em meu peito.

            Era insuportável a falta que ela me fazia, doía mais ainda imaginá-la suportando as atrocidades de Izobel, que devia estar descontando toda a sua ira contida nos primeiros que se colocassem em seu caminho. Sei que ela não desiste fácil, sei que ela lutaria por Enrico, Elena, por Russel, Lizzie, e por mim... Afinal, ela disse que me amava, certo? E era recíproco, eu a amava tanto que encravei meus dedos em seu coração na tentativa de salvá-la de Izobel, mas era tarde demais.

            Ela é forte, sei disso. Era encantador observá-la sendo confrontada, a doçura e a fragilidade davam lugar a segurança e a voracidade, o que era extremamente engraçado, era como tentar enxergar brutalidade em um gatinho. Mas ela era feroz, mais do que isso, era letal.

            Eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que sequer tive tempo de digerir a idéia de que meus pais estavam mortos. Eles eram desprezíveis e ambiciosos, mas ainda assim eram meus pais, e eu os amei, vê-los morrer diante de mim me causou angustia, principalmente porque tudo isso podia ser evitado se minha mãe fosse menos egoísta. Meu pai era ainda pior, sempre me desprezou, e ainda tentou me matar, mas o que mais me doeu foi a expressão de nada de minha mãe enquanto ele apertava meu pescoço. Se não fosse por Elise, eu estaria morto. Eu deveria odiá-los, mas a única coisa que desejo, é que descansem em paz

            Sou retirado de meus pensamentos ao som do crepitar de folhas secas sendo pisadas e abro os olhos para tentar ver quem se aproximava, uma menina esguia dos cabelos castanhos marchava distraída em minha direção, parecia aborrecida e pestanejava enquanto caminhava, chutando as pedras que estavam em seu caminho, até que uma delas veio em minha direção.

            -Calma aí, moça. –Disse com um dos braços em meu rosto para evitar que a pedra me atingisse. A menina parou e encarou-me piscando, provavelmente não tinha notado minha presença até o momento. –Tudo bem com você?

            -Me desculpe. –Disse ela, preocupada. – Estou um pouco aborrecida, você se machucou?

            -Isso eu pude perceber. –Digo, sorrindo. –Estou bem, não se preocupe.

            Ela sorriu e sentou-se na grama ao meu lado, com os braços cruzados, os cabelos longos esvoaçantes e roçando em seu rosto.

            -É. – Ela pausa e resfolega. –Hoje é um daqueles dias que dá vontade de sumir, sabe? Deixar tudo para trás.

            -Compartilho da mesma sensação. –Digo, e dou um meio sorriso.

            -Do que você quer fugir? –Questiona.

            -A pergunta deveria ser do que eu não quero fugir. –Respondo. – A vida tem estado difícil. – Ela permanece encarando-me, pisca delicadamente como se estivesse processando minha resposta, e então sorri.

            -Prazer, me chamo Prya. –Diz calmamente, estendendo a mão para mim.

            -Gerard. – Aperto sua mão e sorrio. –Então Prya, o que te traz aqui?

            -Descobri a pouco tempo que sou uma bruxa, que loucura. –Diz ela em deboche. –Logo eu, que sempre odiei e desprezei essas histórias de seres mágicos e blá blá blá.

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⏰ Last updated: Apr 06, 2015 ⏰

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Phentions: O confronto finalWhere stories live. Discover now