"Temos nossas cabeças decapitadas. Todos os dias somos mutiladas. Somos jogadas na fogueira com apenas um intuito: queimar nossas almas. Somos crucificadas ao expor nossas feridas. Nossos corpos são expostos. Somos assediadas. Somos abusadas. Somos estupradas. Somos mulheres. As marcas por todo corpo reflete as dores do peito. Você não escuta os meus gritos por socorro, mas escutou todas as juras dele por arrependimento. Tua mão não tem direito de percorrer o meu corpo. Não nasci para te dar prazer. Meu batom vermelho não te convida a beijá-lo, mas você não aceita que o consentimento tem que vir dos dois lados. Me jogou na parede e me beijou mesmo assim. Eu disse não. Corri. Gritei. Chorei enquanto um sorriso sádico tomava conta do seu rosto por ter a certeza que o medo já tomava conta do meu corpo por inteiro. Boa noite, Cinderela! Mais uma menina estuprada na favela. Mais uma mulher estuprada no Neblon. Colocaram a culpa nela. Sentada na janela do ônibus, um cara ejacula em Manuella. Na festinha da empresa , Flavinho passa a mão por de baixo da saia de Maria Teresa. Uma mulher é morta a cada 7 horas no Brasil. Não me entregue flores para na manhã seguinte utilizá-las para enfeitar a minha lápide quando cortar a minha garganta até sentir a última gota do meu sangue jorrar no chão de sua sala de jantar. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. Emanulle pelo namorado. Gabrielle pelo vizinho. Fracine pelo tio. Maria Cláudia pelo próprio pai. Nossa dor é silenciada. Não tem quem peça justiça nos jornais. Não tem família que nos proteja. Apenas 1% deles são condenados. Enquanto eles continuam caminhando em liberdade, seguimos em cárcere. Desde pequena somos molestadas, por quem, aos teus olhos, está acima de qualquer suspeita. O primo mais velho. O tio brincalhão. O amigo do trabalho da mamãe. Quando você decide tampar os seus ouvidos para não escutar o meu grito por socorro, as gotas do meu sangue continuam sujando o tapete da sala de jantar. Eu continuo visitando o inferno, mesmo sabendo que eu não mereço estar la." -Eduarda Alves
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