7 • meu melhor amigo

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Eu venho me sentindo muito sozinho recentemente. Meu melhor amigo está distante de mim, e não sei o que fazer.

No início desse verão, minha mãe me mandou para a casa do meu pai — que fica do outro lado da cidade em que moramos, Novo Cruzeiro —, para que eu passasse as minhas férias ao seu lado. Acho que ela precisava desesperadamente de uma folga de mim. Eu sou um garoto atentado, nada inteligente e que dá muito trabalho. Certeza que ela se enjoou de mim, e me quis longe por um tempo.

Estar naquele lugar, longe dela e um pouco afastado de meus amigos, me fez refletir sobre as diversas situações da minha vida, especialmente em relação aos meus relacionamentos, e também ao que aconteceu hoje. Eu sou um garoto de 17 anos que até a própria mãe se cansou, e que seus colegas lhe chamaram de insuportável após a partida de futebol que teve hoje de manhã. Sinto que ninguém me tolera, ninguém gosta de mim. Inclusive o meu melhor amigo, que já não sei mais se tem qualquer afeto por mim.

Estive pensando sobre a minha infância, e dos momentos ao seu lado. Ele era bem mais alto do que eu, e eu costumava ficar de cavalinho nas suas costas. Estávamos sempre brincando e se divertindo, e eu gastava minha mesada com novos jogos de tabuleiro para que pudéssemos passar mais tempo juntos. Ele sempre me dava os melhores presentes no meu aniversário.

Nosso relacionamento era incrível, e era como se pudéssemos contar qualquer coisa um para o outro. Minha mãe estava sempre gritando e reclamando comigo, então corria até sua companhia, e tínhamos os melhores momentos juntos. Ele era um verdadeiro amigo. Meu melhor amigo.

E não se dá esse rótulo para qualquer um.

Nesse momento estou sentado na grama verde de um morro, recebendo uma forte iluminação solar, enquanto tento ponderar quando tudo começou a dar errado.

Ele sempre foi bem mais inteligente do que eu, e minha mãe adorava nos comparar, especialmente na pré-adolescência. Ele também é bem mais bonito e engraçado, e isso fazia com que sempre estivesse sempre com outras companhias, ganhando atenção, flertes e elogios. Todos diziam que ele era o mais bonito da cidade.

Foi difícil para mim processar que ele estava me deixando de lado. Ninguém me avisou que quando crescemos as coisas se tornam dessa maneira. Eu ainda queria a quantidade de atenção que ele me dava quando éramos apenas crianças. Sentia falta de quando éramos apenas nós dois.

Mas ele ainda me escolhia entre todos, e isso me dava esperanças.

Foi então que as situações se tornaram um pouco confusas, e começamos a nos distanciar. Posso me culpar por isso. Minha mãe me contou que ele estava envolvido em besteiras, e isso me entristeceu. Ele estava deixando de passar tempo comigo para estar com aquelas outras pessoas, cometendo erros atrás de erros.

Me afastei, me distanciei. Senti que era aquilo que eu deveria fazer. Minha mãe sempre diz que quem ama sempre corre atrás de você. Acho que minha falta de inteligência foi herdada dela.

Quando pisquei os olhos, meu relacionamento com meu melhor amigo havia se esfriado completamente. Tudo se tornou pior quando ele apareceu com uma namorada. Senti ciúmes da atenção que ele lhe dava, e então começamos a passar cada vez menos tempo juntos.

Estou me perguntando a mim mesmo nesse momento, com o sol queimando a minha pele, se meu comportamento contribui para que agora ele esteja a milhares de kilometros longe de mim, mesmo quando está ao meu lado.

Talvez eu não deveria ter me afastado. Não deveria ter agido como uma criança. Não deveria ter sido tão carente.

Foi minha culpa que tudo chegou a esse triste ponto?

Por muito tempo eu acreditei que sim, e muito provavelmente ele também afirmará isso se o perguntarem. Mas está errado. Vejo isso nesse momento. A culpa não é minha. Nunca foi.

Ele era o meu melhor amigo, mas agora somos estranhos.

Tudo que eu queria era ele. Seu amor, seu carinho, sua atenção. Sua amizade. Mas ele apenas me suportou. Poderíamos ter algo incrível e genuíno, mas ele acabou se tornando apenas como mais uma das pessoas que me achavam inconveniente.

Ele era o meu melhor amigo, o que me dava os melhores presentes, mas ele se esqueceu do meu aniversário. Hoje, no caso, o motivo dessa reflexão.

Na verdade, ele acabou de chegar aqui. Olhou na minha direção, percebendo que eu estava sentado ouvindo músicas depressivas no volume mais alto possível, mas não veio em minha direção. Ele não se importa comigo. Apenas com a namorada, com quem acabou de adentrar a casa, certamente procurando guloseimas.

Ele era tudo para mim. Enxergava ele como um protetor, um porto seguro. Um super-herói. Agora eu choro, querendo que as coisas voltassem a ser como antes. Mas um papel amassado jamais voltará a ser liso como antes.

E ele irá colocar a culpa em mim. Porque eu me afastei. Porque eu me silenciei. Porque eu não aceitei o mínimo que ele quis oferecer a mim.

Você era o meu melhor amigo, pai.
E agora eu tenho certeza que nunca mais virei até aqui para o verão.
Você não se importa comigo.
Você não merece mais esse rótulo.

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