Dominique

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Arthur nunca pensou que poderia se sentir tão... Avó.

Apesar de tudo, Victoire e Molly, ao longo dos anos, desenvolveram uma tendência a se abrirem mais com a avó do que com ele. Então, era comum que ele não soubesse sobre as "coisas de garotas" que aconteciam com elas, embora Molly tivesse a onipotência de saber tanto das netas quanto dos netos. Isso não incomodava Arthur, de forma alguma, mas foi surpreendente quando se deu por conta que, com Dominique, as coisas eram diferentes. Cartas enormes, horas a fio de tagarelice, fofocas sem fim; desde pequena, Arthur sabia de tudo que acontecia com ela e com as pessoas em sua volta.

Com o passar dos anos, transitaram sobre os mais diversos assuntos: brigas com Victoires, desentendimentos com Fleur, amizades trouxas, preferências musicais, livros, Hogwarts, feitiços, quadribol, e... Garotos.

— Ele me chamou para um encontro no dia dos namorados — contou enquanto mordiscava os cantos das unhas cor de rosa. Estavam no recesso de inverno e a maior dúvida existencial de Dominique era se deveria ou não ir com Brad Goldstein na Madame Puddifoot.

— E você quer ir?

— Não sei. Ele é legal.

— Por que isso parece algo ruim?

— Porque ele só é legal. E bonito.

— Ainda não entendo como isso pode ser ruim. Você gosta dele?

— Depende.

— De quê?

— Do ponto de vista.

— Como é que pode depender do ponto de vista? — ele sorriu, escorando o rosto no punho. Dominique meneou a cabeça. — Gosta ou não gosta?

— Depende. Se eu pensar só nele, sim. Se não, não.

— Você gosta de outro, então? Pensei que tinha dito que o Logan era águas passadas.

— E ele é. Não posso dizer que gosto de outro menino porque é só um crush.

— Um crush — replicou, assentindo. — Isso é ruim?

— Você não entende nada de garotas, vô — grunhiu desolada, relaxando os ombros. Era uma verdade. — Ele é um crush impossível.

— Impossível? Ninguém é impossível, querida, nada e nem ninguém.

— Mas ele é.

— Por quê?

— Pelas circunstâncias — Arthur arqueou a sobrancelha, inclinando-se em direção a ela.

— Ele namora?

— Não.

— Então por que diabos é impossível, Dominique? Você é uma garota linda, gentil, maravilhosa, muito inteligente. Se ele não vê isso é porque não te merece!

— Ele vê.

— Ele vê? Não estou entendendo as circunstâncias que você mencionou, então. Vocês já conversaram?

— Já.

— Hm... Vocês já... Se beijaram?

— Ficaram, vô! Adolescentes ficam!

— 'Tá legal. Vocês já ficaram?

— Talvez.

— E ele não quer nada com você?

— Não é isso... São as circunstâncias.

— Quão apocalípticas são essas circunstâncias?

— Muito.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Hm — coçando a nuca, Arthur esmoreceu. Não sabia como ajudar Dominique e nem sabia do que diabos ela estava falando, talvez tivesse que recorrer à sabedoria da esposa.

Ficaram em silêncio por alguns minutos, ambos tentando achar soluções para aquele problema. Pensando que poderia ajudar em algo, Arthur foi pegar um pedaço de bolo de chocolate na cozinha para que eles comessem; Dominique sempre ficava mais confusa quando estava com fome. Ao retornar para a mesa, porém, teve que dar meia volta para pegar mais um prato para James Sirius, que ocupara um lugar ao lado dela.

Você está fedendo — Arthur ouviu ela dizer e teve que concordar. — Sai, James, que nojo!

Voltando para o seu lugar, Arthur deu risada com a tentativa de James em abraçá-la enquanto cortava três pedaços do bolo.

— Por que estão aqui isolados do mundo? — o Potter perguntou dando a primeira garfada.

— Estamos numa conversa importante que não lhe diz respeito — Dominique explicou com um sorriso cínico, causando uma careta no rapaz.

— Goldstein de novo? O cara é um babaca e, segundo os meus cálculos, não vai nem lembrar da sua existência depois do recesso.

— James! — Arthur repreendeu.

— É sério, vô.

— E como pode ter tanta certeza disso? — Dominique perguntou com a pior das expressões, fazendo-o sorrir abertamente.

— Talvez alguém tenha convencido ele a isso de uma forma bem amigável.

— Eu vou matar você — com a ameaça declarada, ela não perdeu tempo em sair correndo atrás de James para tentar lhe dar uns tapas.

Arthur, que até então tentava extrair alguma informação do diálogo dos dois, ficou boquiaberto ao ter um grande insight. Subitamente, as circunstâncias ficaram bem esclarecidas, assim como a identidade do crush de Dominique.  

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