Em uma noite de domingo, peguei minha guitarra e respirei fundo antes de tocar calmamente aquelas seis cordas. O apartamento estava vazio. Minha tia estava trabalhando de plantão no hospital geral da cidade, então eu finalmente poderia tocar guitarra em paz hoje. Porém, assim que toquei o primeiro acorde, senti um enorme vazio por dentro. Era como se meu coração tivesse sido apertado por alguém. Soltei as cordas e, consequentemente a guitarra, sorrindo ao sentir as lágrimas caírem sob minha bochecha.
— Não deveria ter deixado aquela maldita cidade novamente — Falei para mim mesmo enquanto mordia os lábios inferiores.
Tentei ao máximo não chorar por isso durante esses anos, mas assim que olhava para minha guitarra, lembrava automaticamente dele. Ainda lembro do dia que ganhei esta guitarra dos meus pais. A primeira coisa que fiz quando estava com ela nas minhas mãos foi correr até ele e lhe mostrar o instrumento que tanto queria. Essas memórias estão voltando gradualmente. Eu e ele brincando naquela praça ou apenas jogando videogame no meu quarto depois da escola. As lembranças dos melhores momentos da minha vida que agora só servem para abrir ainda mais o buraco imenso do meu coração.
Queria apenas amenizar a dor que estou sentindo desde aquele dia.
Todas as minhas músicas são feitas para ele, todos os meus acordes me lembram das nossas tardes, das nossas brigas sem sentido, das suas piadas, do seu sorriso, de tudo. Às vezes, gostaria de voltar no tempo e aproveitar mais daquelas tardes. Eu sempre fui inseguro, sempre tive medo dele ir embora e me deixar sozinho naquela pequena cidade do interior e no final, aconteceu o que eu mais temia. No momento em que ele mais precisava de mim, o levaram para longe e ele nunca mais voltou. Tenho vontade de socar aquele filho da puta do pai dele por ter feito isso.
Passei lentamente a mão pelos meus olhos, limpando as lágrimas que insistiam em cair. Quando estava em Jolies Fleurs, a esperança de vê-lo novamente naquela maldita praça era a única coisa que me impedia de chorar, mas agora que fui forçado a vir estudar em uma nova cidade, tudo aquilo voltou. Esta é a segunda vez que meus pais me mandam para outro lugar com a simples desculpas dos estudos. Primeiro foi a cidade natal do meu pai, na Itália, agora é a famosa capital desse país: Nouveau Port. É impressionante como eles conseguem uma bolsa de estudos para mim nesses lugares.
Quando estudei na Itália, mais especificamente em Florença, fiquei na casa da minha avó. Não durou menos de seis meses e fui "expulso" do colégio. Lembro que meu pai teve que vir correndo ao país para me levar de volta para casa. Acredite, eu não sou um péssimo aluno, minhas notas são maravilhosas em todas as disciplinas. Eu apenas não queria ficar longe de Jolies Fleurs naquele momento, afinal eu decidi, com apenas treze anos de idade, que iria esperá-lo. Mesmo que demorasse anos para ele voltar, eu iria ficar naquela cidade.
Amar alguém é realmente difícil. Principalmente quando se é um pré-adolescente sem noção. Não que agora, com dezessete anos, eu tenha evoluído muito.
Acho que tudo teria ficado bem se eu tivesse apenas ido até a Itália e voltado sem que nada tivesse acontecido. Mas nesses malditos seis meses em outro país, ele havia voltado a Jolies Fleurs. Um ano após sua partida, ele tinha ido até minha antiga casa e deixado ali uma carta. Quis morrer quando soube que poderia ter o reencontrado mas estava "estudando" na Itália.
Apenas em pensar que isso pode acontecer novamente meu estômago dói, meu coração aperta e eu relembro que fui forçado a vir estudar na capital. "Lá você poderá terminar o seu ensino médio em um ótimo colégio" foi o que minha mãe disse enquanto pegava em minha mão. "Poderá até mesmo encontrar o Andrew, afinal o colégio que você irá é um dos melhores do país!" meu pai disse em seguida, atacando o meu ponto fraco. Não se engane, eu não vim para cá realmente acreditando nisso, apesar de querer muito encontrá-lo lá. Há uma pequena chance disso acontecer, mas o colégio que meu pai escolheu é simplesmente enorme, procurar por uma pessoa que sequer sei que realmente está lá é impossível.
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Sunlight: O Encontro do Sol e da Lua
عاطفيةHá seis anos, em uma pequena cidade do interior, havia dois melhores amigos correndo um atrás do outro pela praça central do bairro. Pietro tinha cabelos ruivos, e normalmente era o que corria atrás do outro garoto, Andrew, um pouco mais velho de ca...