Capítulo 2: Uma gota no oceano

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Notas iniciais

Oie, tudo bom?
Vim trazer o segundo capítulo dessa short-fic que é o meu bebê kkkk
Espero que gostem
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Naruto Uzumaki

Minha vontade é pegar aquele maldito cliente e enterra-lo vivo. Hoje de manhã, enquanto eu estava quebrando a cabeça para fazer o projeto, a secretaria do infeliz ligou novamente pedindo para acrescentar algumas coisas, e eu claro, que concordei. Minha maior vontade nesse momento, enquanto dou boa tarde para o síndico e me dirijo ao elevador do meu prédio, é concluir o projeto "Mais Humano" e voltar com minha sanidade nos eixos. Ou eu vou mandar tudo a merda e virar mais um desempregado.
Sinto o aconchego do meu apartamento quando adentro o mesmo, meu refúgio, meu mundo. Coloco minha bolsa em cima da mesa e tiro os sapatos com o calcanhar dos pés, junto com as minhas roupas que ficam no chão mesmo, tenho que me lembrar de colocá-las para lavar. Vou para a cozinha procurar algo para comer, já são duas e meia da tarde e eu estou com o estômago colando nas costelas de tanta fome, por fim, encontro um miojo e preparo ele mesmo, é o que tenho para hoje.
Ando até meu quarto tentando pensar em algo que una as pessoas, eu já tinha feito milhares de modelos hoje de manhã e todos saíram horríveis, sem sal e sem açúcar.
Meu problema estava se tornando cada vez mais pessoal, eu conseguia sentir ele fincando na minha alma como um aviso de que eu não conseguiria. Já tinha passado de ser uma nova adição da empresa de comunicação, minha criatividade estava sendo questionada e cada vez que eu excluía um modelo que levei horas para criar, eu me sentia mais inútil. Minha única solução foi implorar por uma salvação, mas acho que não serei atendido.
O tempo estava rodando, o prazo acabando e minha mente continuava em branco. Pego a blusa branca em cima da cama e a visto junto com meu calção do Pikachu, bagunço meu cabelo na tentativa de fazer meu cérebro funcionar. Olho para a parede azul e ela continua tão atrativa como ontem.
- Eu vou ter um treco! - digo para mim mesmo aceitando a merda que estava a minha vida. Eu poderia ir a algum bar para relaxar mas não podia, estávamos em lockdown.
Pandemia desgraçada e cliente maldito!
Decido voltar para a cozinha e terminar meu miojo ou sei lá, bater minha cabeça na parede com toda minha força.
Tempero meu macarrão com o seu sachê, boto um pano no fundo da panela, sento no sofá, ajeito uma almofada no meu colo e coloco a panela em cima. Alcanço o controle na mesinha e ligo a TV, acabo por parar em um canal de sobrevivência, pelo menos eles estão piores do que eu.
Talvez seja errado comparar uma situação de merda com outra mais merda ainda, mas isso me dá um pouquinho de consolo. Cada garfada que eu enfio na boca era um pedaço do meu orgulho indo embora e tinha um gosto muito amargo. Estou me sentindo igual ao casal do programa, sem direção, sem expectativas... Apenas sobrevivendo, ou tentando sobreviver.
Olhei para a panela de miojo em meu colo, não estávamos em uma época para fazer regimes ou comer mal. Precisávamos estar o mais saudáveis possível e vendo essas pessoas da TV terem tanta dificuldade para conseguirem comer, só piorava tudo. Eu sei que tenho que me cuidar, não vacilar diante da morte certa que esse vírus trouxe, mas estava sendo difícil continuar de cabeça erguida, sorriso no rosto e bom humor invejável. Minha maior virtude, da qual sempre me orgulhei pois foi com ela que cheguei onde cheguei, estava sendo colocada em jogo e o sentimento de insuficiência estava me consumindo. Talvez eu estivesse mesmo enlouquecendo, assim como o casal da televisão.
Tirei a almofada juntamente com a panela do meu colo e olhei para o teto, ainda conseguia ouvir o cara na TV mas era como se as palavras dele não entrassem na minha mente, nada estava entrando na minha mente e isso estava me deixando maluco. Eu precisava de ajuda, mas para quem eu pediria?
Resolvi levar a panela para a cozinha e depois ir até meu quarto pegar meu bloco de notas, talvez eu tenha alguma ideia enquanto assisto algum canal. Assim que minha mão foi em direção a caneta preta me dou conta de que tinha algo ali que não havia sido eu que tinha feito, vejo um aviãozinho na minha mesa, isso é estranho pois eu não sei fazer aviões de papel. Pego o origami e o abro com todo o cuidado, era a minha letra rabiscada no papel junto com uma outra em tinta rosa, muito bonita por sinal. Espera, aquela era a minha folha!
Meu pensamento é interrompido por batidas que ecoam por todo o apartamento, caminho cautelosamente até a porta como se a qualquer segundo ela fosse cair e um policial fardado entrasse na minha sala dizendo "Mãos na cabeça". Era loucura mas eu tava cogitando seriamente que alguém tinha entrado no meu apartamento e deixado aquele papel, vou até fazer uma revisão de tudo que tem aqui. Minha vida já estava de cabeça para baixo e agora um ladrão?
O universo não gostava de mim.
- Boa tarde, Naruto. Esqueci de te entregar essas correspondências - era o porteiro.
Pego todos os papéis e vejo que são contas, luz, água e etc. Eu até pensei em perguntar para ele se tinha algum morador novo ou coisa do tipo, mas ele já tinha sumido. Fechei a porta e joguei as contas em cima do sofá, olhei para o papel amassado com a letra rosa e por alguma razão, eu sabia que já tinha ouvido aquele refrão mas não fazia ideia de onde. Abri minha bolsa com pressa e de lá tirei meu celular, entrei no aplicativo de música, joguei o início do verso e imediatamente o ritmo contagiante chegou aos meus ouvidos.
A letra era linda, me fazia lembrar da praia, da areia quentinha, a brisa salgada, água gelada, o som das ondas se desfazendo e voltando para o mar com tranquilidade. Eu estava ficando louco por pensar em nadar no mar quando tinha um cronômetro na minha cabeça. No entanto, continuei escutando a música enquanto voltava para o quarto, coloquei o papel em minha mesa e li a letra redonda em tinta rosa junto com a música. Instintivamente olhei para a janela, andei até ela e observei as sacadas do prédio em frente, algumas estavam fechadas, mas a maioria estavam abertas. Seria muita loucura eu gritar para ver se alguém responde?
Essa pergunta está rodando a minha mente e a cada segundo ela ganha mais força, mas o que eu diria?
Olhei para o celular procurando o nome da cantora, talvez eu possa usá-lo para chamar a atenção de quem escreveu essa letra. Enchi os pulmões de ar e gritei.
- ANAVITÓRIA - esperei que alguém aparecesse mas... Nada.
Talvez eu devesse tentar com outro nome. Olhei o nome da música e tomei coragem para gritar mais uma vez.
- AMARELO, AZUL E BRANCO - assim como da outra vez, esperei, esperei e ninguém apareceu. Para não dizer "ninguém", uma velhinha saiu na sacada com a cara fechada, e eu como um bom moço, botei a cabeça para fora da janela e sorri para ela. Como resposta ela me deu o dedo no meio e voltou para dentro.
Antes de tirar minha cabeça da janela, fiquei observando as sacadas e tentando calcular de qual apartamento teria vindo aquele avião. Ambos os prédios possuíam quatro andares, então devem possuir o mesmo número e se o número do meu apartamento é trinta e cinco, o do apartamento vizinho também seria o mesmo. Afinal, o mais provável seria o que ficava de frente para o meu, mas será que mora alguém ali? Pois o mesmo estava fechado.
Como dizia minha finada avó, eu só descobriria se tentasse.
Em uma súbita coragem desconhecida por mim, calcei meus chinelos, peguei minha máscara e corri até o elevador enquanto a colocava. Eu precisava descobrir se alguém do outro prédio teria me enviado aquele avião e, principalmente, se tinha alguém morando lá. Passei pela portaria não me incomodando em responder as duas senhoras que me deram boa tarde, eu tinha um assunto mais sério para resolver. Descobrir se eu estava ficando louco.
Andei pela calçada como se estivesse fugindo da polícia, apressado e desesperando. Eu precisava manter aquela chama de coragem intacta, ou pelo menos, agir enquanto ela ainda me dominava, pois eu sabia que quando ela passasse e a minha consciência retornasse, eu estaria ferrado. Afastei o pensamento desencorajador da minha mente e observei o porteiro do prédio vim até mim. Ainda dava tempo de desistir, era o que a voz na minha cabeça dizia, mas se eu não fizesse aquilo, se eu não descobrisse a verdade, eu iria ficar completamente maluco.
- Em que posso ajudar jovem? - o homem ruivo me perguntou, ele parecia possuir uns quarenta e oito anos, no mínimo.
Mas a pergunta ficou fixada na minha cabeça, o que eu falaria para ele? Eu não podia simplesmente pedir para ele me deixar subir, pois ele não deixaria, então que mentira eu devo contar?
- Olha moço, eu recebi um bilhete da Empresa em que eu trabalho pedindo para que eu viesse nesse prédio, e fosse até o apartamento trinta e cinco - era a pior mentira que eu já tinha contado na minha vida, Naruto você já foi melhor!
Tentei ser o mais convincente possível, vai que ele cai?. Só que eu duvido muito, já que ele me olhou com uma cara nada boa. Ele não tinha acreditado.
- Você acha que eu tenho cara de palhaço? - ele falou revirando os olhos e me dando as costas. Em um momento de desespero segurei as grades de ferro como se elas fossem entender ou ajudar.
- Moço, eu tô falando sério! - Eu tenho certeza que minha voz saiu esganiçada e desesperada, mas ele se virou e eu olhei o nome bordado no bolso de seu uniforme - Juugo, meu emprego depende disso. Eu não sei a razão de ter que ir até esse apartamento mas se eu não for, eu vou ser demitido - eu sabia a razão sim, mas dizer que eu estava atrás de uma pessoa que encontrou meu papel rabiscado com uma estrofe de uma música e talvez tenha respondido com outra estrofe no papel que eu tinha escrito, e que por ventura ele tinha sido levado pelo vento e que talvez a tal pessoa morasse no apartamento trinta e cinco, ele ligaria para o hospício e eu dava total razão.
- Você simplesmente foi mandado aqui? Sem mais nem menos? - a sobrancelha ruiva foi arqueada em descrença.
- Juugo, olha como está a situação dos trabalhadores com essa pandemia, milhares de desempregados. Você quer carregar nas costas o fardo de ter desempregado um trabalhador honesto? - forcei meus olhos a lacrimejarem dando a visão de que eu estava perto de chorar e deu certo, pois o porteiro foi até o balcão da recepção e se abaixou procurando alguma coisa.
- Eu vou checar - Juugo pegou o telefone de fio e se voltou para mim.
- Valeu chefia - fiz sinal de jóia com as mãos.
- Qual é o número do apartamento? - perguntou e meu sorriso foi instantâneo.
- Trinta e cinco! - parecia que tinha se passado uma eternidade desde o momento em que ele discou o número uma, duas e três vezes.
Meu coração já estava saindo pela boca com tanta ansiedade, principalmente quando o ruivo voltou com o telefone pro lugar dele e se abaixou, pegou um grosso caderno e o jogou em cima da mesa marrom. Minhas mãos estavam suando e em uma tentativa de seca-las às passei em minha blusa, mas parece que não adiantou pois continuaram molhadas.
- Olha garoto, não mora ninguém nesse apartamento não - Juugo disse com uma tranquilidade que me fez ter inveja.
- Como? - meu coração tinha parado de bater, eu tinha certeza disso.
- Esse apartamento está desocupado desde o começo do ano passado - o porteiro pegou o grosso caderno verde e veio até as grades de ferro, onde me mostrou a ficha do número do apartamento e lá estava escrito "vazio".
- Me desculpe por ter gasto seu tempo e valeu por ter ajudado - não esperei nenhuma resposta dele, apenas saí de lá com o sentimento de fracasso e desilusão. Eu desejava que existisse alguém naquele apartamento e que essa pessoa tinha me enviado aquele avião.
No fim, meu esforço não valeu de nada.
Enquanto fazia meu caminho de volta para o meu apartamento fiquei chutando pedrinhas na calçada cogitando que de fato, tinha entrado um ladrão na minha casa. Ou uma ladra, já que a letra parecia ser mais feminina do que masculina e eu sei que existem homens que possuem a letra magnífica, como se ficassem horas as desenhado. Mas qual era o sentido de alguém entrar para roubar e deixar um origami?
Eu me perguntei isso quando entrei no meu apartamento e percebo que deixei a televisão ligada, a desligo e sigo para o meu quarto. Peguei meu telefone e me joguei na cama, liguei o aparelho e programei o aplicativo para repetir a música. Amarelo, azul e branco. Essas cores eram lindas mas o azul se destacava, amassei a folha e mirei para que acertasse a lixeira mas acabou caído em cima da minha mesa. Eu precisava trabalhar!
Pulei da cama com meu celular em mãos, puxei a cadeira e me sentei. O bloco de notas estava na minha frente intacto, apertei a ponta da caneta repetidas vezes enquanto mordia meu lábio inferior. Por fim, resolvi reproduzir uma das minhas playlists, vai que eu entrava no clima e surgia algo. O rock nacional ecoou pelo quarto e logo eu estava batendo as mãos na mesa, acompanhado o ritmo da música. Puxei a bola amassada e a abrir, com a caneta preta escrevi a parte da música que estava tocando.
- "O tempo não dá nó, tudo é uma lição" - olhei a mistura de letras e palavras, as recitei como um poema e até que faziam sentido.

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