Capítulo 4: Sei lá

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Naruto Uzumaki

 Droga. Droga. Droga. Mil vezes droga!
 Já não bastava eu estar exatamente atrasado para o trabalho pois, pela graça divina, eu joguei meu celular no chão enquanto dormia e por isso, meu despertador não tocou. Óbvio, né? Se o celular quebrar, então é lógico que o despertador não vai tocar. Agora, como eu consegui fazer a proeza de tacar meu aparelho no chão é incrível, principalmente por ser a terceira vez que isso acontece. 
— Respira, Naruto, respira — digo a mim mesmo como uma forma de me manter no controle e não surtar às oito da manhã.
 Agora eu tenho que levar meu celular para o concerto e depois ir para o trabalho, seria fácil fazer isso. Olho para o aparelho com a tela negra e toda espatifada em mãos, deve ter, no mínimo, umas vinte ligações do meu chefe e ele já deve ter cavado minha cova. É melhor eu parar de divagar no meio da minha sala e correr, pois ainda tenho que passar no Zabuza, estou rezando para que ele esteja com a loja aberta.
 Enfiei o celular no bolso da minha calça, peguei minha pasta, a máscara e as chaves do aperto, dessa vez me certifiquei de trancá-lo muito bem quando sai. Enquanto descia as escadas aproveitei para colocar a máscara e enfiar minha blusa por dentro do cós da calça, o que eu não precisava era encontrar meu chefe com a aparência toda desarrumada.
 Passei pelo porteiro e desejei-o bom dia, assim que botei os pés na calçada me senti naqueles filmes de faroeste, não tinha uma alma viva na rua. Se eu esperasse mais uns segundos tenho certeza que eu conseguiria ver uma bola de feno rolando pela rua deserta. Nunca imaginei ver algo assim nas ruas de São Paulo e isso é muito assustador, pois sinto que estou no meio de um tiroteio entre dois cangaceiros, onde os caras se preparam para sacarem as pistolas e o primeiro que aperta o gatilho ganha. Isso é influência do filme que eu assisti ontem antes de dormir, "O Auto da Compadecida" é um dos meus filmes preferidos e já perdi a conta de quantas vezes eu revi ele. O som de uma buzina me despertou do cenário do pequeno vilarejo no sertão da Paraíba, aliás, eu nunca fui à Paraíba, como deve ser? 
 Anotei mentalmente essa provável futura viagem para quando a pandemia acabasse, mas primeiro eu tinha outras preocupações e a que ocupava o topo da lista era levar o meu celular para o concerto. A minha sorte é que a loja de eletrônicos de Zabuza fica no caminho para o meu trabalho, então eu não precisaria ir muito logo. Apressei o passo e logo eu já estava correndo pelas ruas vazias, afinal, eu estava extremamente atrasado.
 Quando finalmente parei em frente a loja azul com sombras pretas senti minhas bochechas doerem com o sorriso que abriu em meu rosto, a loja estava aberta, meio aberta mas o importante é que estava atendendo.
— Zabuza?! — andei até o balcão e chamei por ele que imediatamente se virou e veio me atender.
— Naruto, quanto tempo — o moreno me estendeu o punho e eu bati o meu no dele, nossa nova forma de comprimento — Celular de novo? — nem precisei responder, só peguei o aparelho do meu bolso e botei em cima do balcão, Zabuza me olhou desconfiado — O que você arrumou dessa vez? Você tacou ele no chão quando dormia?
— Se você sabe a resposta, por que pergunta? 
— Vai que a resposta é diferente? — o Momochi deu de ombros e pegou meu celular levando-o para o fundo da loja — Quer ele para quando?
— Hoje — os olhos castanhos se viraram para mim com surpresa e sua sobrancelha foi arqueada, lá vinha coisa.
— Você acha que eu sou algum Deus  para fazer milagres? — o sarcasmo era destilado na voz dele e eu tive que revirar os olhos.
— Eu sei que você consegue! — foi o que eu respondi e, o mais estranho foi que quando eu fui notificado sobre a mudança no projeto da Telegram e fui até meu chefe buscar alguma explicação mais plausível, tivemos esse mesmo diálogo. Só que eu era a pessoa que fazia a pergunta e ele respondia — Eu preciso deste celular vivo para ontem, minha vida depende desse negócio — disse cada palavra com desespero, ultimamente eu estou vivendo por um fio. Zabuza olhou para sua mesa cheia de serviço, acompanhei sua visão até o relógio de parede e depois voltou seu olhar para mim.
— Pode pegar daqui a duas horas.
— Valeu cara! — tenho certeza que o preço vai ficar um pouco salgado, mas está tudo bem.
— Naruto?! — eu já tinha me virado para seguir meu caminho quando escutei a voz dele e me virei, balancei a cabeça em sinal para que ele continuasse — Estou precisando de um favor seu. Eu te mandei mensagem ontem à noite mas já dá para saber o motivo do porquê você não ter respondido.
— O que precisa? — Zabuza ficou meio sem jeito para responder e minha curiosidade aumentou, aí tinha coisa!
— Eu estou querendo pedir Haku em casamento já faz um tempo, mas aí veio esse vírus e atrapalhou tudo — o Momochi respondeu não cruzando seus olhos com os meus e eu achei isso muito interessante — Então, o que eu queria era um vídeo com a nossa história, todo cheio de fru-fru e que no final tivesse a pergunta "Aceita casar comigo?", ou algo do tipo. Mas tem que ser bem clichê.
— Que lindo — encostei o cotovelo no balcão para tirar uma com a cara dele.
 Zabuza assumiu seu relacionamento com Haku a pouco mais de três anos e os dois eram completos opostos. Enquanto Zabuza fazia a linha do cara fechado e pragmático, Haku era sonhador e alegre, era um belo contraste.
— Vai fazer ou não? — a voz dele saiu mais grossa e ameaçadora que o normal.
— Claro que vou. Mande para o meu e-mail todas as fotos e vídeos que você tiver — botei as mãos nos bolsos da calça e me afastei do balcão. Foi nesse instante que senti um papel roçar minha palma esquerda, puxei-o para fora e vi que era o origami do avião. Olhei para o Momochi — Se tiver algumas músicas que signifique muito para vocês, manda também. 
— Beleza. Vi nos seus stories que você está trabalhando com a Telegram, como está sendo esse projeto?
— O cão! — minha resposta foi instantânea e ambos acabamos rindo.
— Você está de folga hoje? — Zabuza olhou para minhas roupas e depois vi sua sobrancelha se arquear novamente.
— Quem me dera.
— Já são oito e meia — ele me respondeu olhando para o relógio e eu senti meu coração na garganta, é hoje que eu vou ser demitido.
— Eu tô ferrado! — enfiei minha cabeça dentro da loja para ter uma melhor visão do relógio e os ponteiros marcavam oito e meia, me desesperei imediatamente — Passo aqui mais tarde.
 Foi o que eu disse antes de começar a correr como se a minha vida dependesse dos próximos minutos e dependiam, meu trabalho dependia. Meu coração disparava em minha caixa torácica como um louco,  eu corria pelas ruas vazias como o próprio "Flash", parecia até que eu estava em um filme de ação onde o objetivo era salvar o meu salário. Eu nunca corri tanto na minha vida como agora, pois quando virei a esquina e avistei o prédio de dois andares onde trabalho senti meus músculos relaxarem. No entanto, esse sentimento de alívio foi rapidamente sobrepujado pelo temor, o prédio estava totalmente fechado e meus colegas de trabalho que faziam o turno da manhã comigo, estavam sentados na calçada com a cabeça baixa.
 O que estava acontecendo? Fomos todos mandados embora? 
— Mabui?! — me aproximei da platinada que estava em pé e chamei seu nome, no mesmo instante ela largou o celular e olhou para mim — O que aconteceu?
— Bom dia para você também, Naruto — ela me comprimento com sarcasmo e continuou, respondendo minha pergunta — Não sabemos ainda, quando chegamos as portas ainda estavam fechadas e nada do chefe. Já liguei para ele mas caí direto na caixa postal.
— Isso é muito estranho — Mabui acena positivamente, concordando comigo.
 Alguma coisa muito séria tinha acontecido, Kakuzu, nosso chefe, sempre se certificou de chegar antes de qualquer funcionário e sair depois de todos já terem ido embora, ou seja, ele abria e fechava o prédio. Em minha mente tentei encontrar alguma explicação plausível para aquele sumiço, mas por mais que eu tivesse levantado diversas hipóteses com respostas, nenhuma delas me agradava.
 Meu braço foi cutucado por Mabui e minha atenção foi voltada para ela, a platinada apontou com a cabeça para algo atrás de mim e virei para ver o que era. Um Porsche prata parou no estacionamento do prédio, olhei para a mulher ao meu lado buscando alguma resposta.
— É o Hidan, o filho do Kakuzu — ela sussurrou quando um cara de cabelos platinados como os dela saiu do carro e andou até a gente com toda a elegância.
 Eu nem sabia que meu chefe tinha um filho, ainda mais da minha idade pois Hidan não parece ser mais velho do que eu.
— Bom dia — o sujeito nos comprimetou enquato ajeitava o óculos de sol em cima da máscara, por alguma razão não gostei dele — Peço desculpas por tê-los deixando esperando e sem notícias, mas meu pai pegou o coronavírus e por essa razão não veio trabalhar e nem virá nos próximos dias.
— Então, o que irá acontecer daqui para frente? — Utakata perguntou atrás de mim, na verdade ele fez a pergunta que todos nós queríamos fazer, mas o medo da resposta era maior.
— Hoje vocês trabalharão metade do horário, mas amanhã vou assumir o trabalho do meu pai e tudo voltará ao normal — o nariz em pé dele me deu ódio. Pelo menos não seríamos despedidos.
 Hidan abriu as portas brancas e cada um seguiu seu rumo, achei melhor segurar minha antipatia e me concentrar em terminar o trabalho, pois a corda já estava dando um nó no meu pescoço. Fora que eu estava extremamente curioso para saber se os meus stories tinham dado bons resultados, mas pelo jeito eu vou ter que esperar algumas horas.

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⏰ Última atualização: Jun 27, 2021 ⏰

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