Pra quem quiser ir carregando para entrar no clima do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=ruVL3pw0ECk
– Onde? – Debra perguntou.
– Um lugar assim como posso dizer amiga – Juliette fez uma pequena pausa para encontrar as palavras certas e continuou – um lugar espiritual.
– Então Ju – disse, preocupada – eu realmente acho que essa sua terapia não está dando muito certo e melhor procurarmos outra.
– Oxe, tu está me chamando de louca?
– Olha – falou – eu também acredito muito em Deus, mas – continuou – vamos trocar o terapeuta.
– Não – disse, contrariada – eu quero ir em um, aí como é o nome – disse – centro espírita!
– Mas, por que?
– Porque eu preciso muito saber de uma coisa que está dando volta na minha cabeça e tu me conhece que só vou sossegar quando tirar essa história a limpo.
– Além do terapeuta, mudar os remédios – murmurou baixinho e fez anotações no celular.
– O que tu disse oh buchuda?
– Nada – ela esboçou um sorriso amarelo e guardou o aparelho no bolso da calça e perguntou – mas onde você quer ir?
– Eu ainda não sei – disse, pensativa – eu vou ver alguns lugares.
– Eu vou pedir para a – antes que ela pudesse concluir a frase, Juliette interrompeu sua fala.
– Não, eu mesma prefiro ver e tu trata de cuidar do nenê da sua barriga que é mais importante que tudo!
A paraibana passou a procurar nomes e endereços de alguns centros espíritas em São Paulo já que os lugares onde ela conhece ficam grande parte em Campina Grande enquanto sua amiga foi pedir comes e bebes para elas e todos da equipe. Achou um acervo enorme na internet e listou dos mais populares a menos conhecidos como os locais escondidos em bairros longe do centro da cidade em casas simples que nem pareciam centros. Clicou em alguns sites mostrando fotos de estruturas lindas e suntuosas como o Templo de Salomão e parou o dedo em um grupo chamado Mensageiros de Luz.
Quis conhecer melhor sobre esse grupo desconhecido e leu as recomendações do Google com notas muito boas antes de acessar a página. Ficou encantada com o tanto de oração publicada uma mais tocante que a outra e recitou algumas mentalmente para sentir aquelas belas palavras na alma. Fechou os olhos pedindo orientação e sentiu um calor gostoso renovar suas energias e resolveu seguir sua intuição e pegar o telefone e WhatsApp para mais informações sobre as reuniões espirituais. Ignorou as mensagens dos seus affairs como o Bil e Selton e enviou uma mensagem de texto ao número do centro espírita e não recebeu resposta. Ligou ansiosa e atendeu uma mulher no outro lado.
– Por favô amiga, vocês tem orientação espiritual ou coisa do tipo? – Juliette perguntou.
– Sim, temos as sextas-feiras – a atendente perguntou – você gostaria de agendar?
– Sim claro.
– Qual o seu nome?
– Eh… Juliana Costa – disse.
– Certo está agendado – ela explicou – no dia pedimos para trazer um alimento de cesta básica e estar aqui às vinte horas que começamos os estudos dos livros e vamos até as vinte e duas horas e durante esse tempo vamos chamando pelo nome pela ordem de chegada.
Juliette agradeceu a atenção da atendente, desligou o chamado e programou o alarme do seu celular para não esquecer a consulta embora fosse difícil tirar da cabeça aquele sonho sem beira nem eira. Lembrou-se de uma época que era muito apegada a missas, cultos, benzedeiras e afins. Afinal de contas, ganhou o programa de confinamento pela sua intensa fé e devoção ao bem.
Entrou na conta oficial do Pássaro Azul e passou pelo tópico da tal da Sariette famosa e assistiu mais algumas cenas entre os quase mil vídeos já postados. Notou a Sarah como seguidora da fã e começou a seguir também a Sarietter Giovanna embora já conhecesse por causa da mensagem direta enviada a ela para não excluir os vídeos. Riu ao ver cenas engraçadas, sorriu sem graça vendo outros que ela parecia a atacante da relação como o que ela sentou descarada no colo da loira naquela festa da líder Karol Konká*. Atualizou o tópico e amou ver a felicidade da fã gritando em caixa alta “Eu estou passando mal, favela” na timeline em ganhar o follow que faltava para completar o shipper.
Os dias que antecederam a orientação espiritual passaram num piscar de olhos e foram bastante atarefados com reuniões, projetos, entrevistas de televisão a canais de youtubers engajados.
Na noite de sexta-feira onde boa parte caiu na farra mesmo dentro de suas casas devido a Pandemia, a nossa protagonista pegou seus pertences e o endereço do centro espírita e entregou nas mãos do motorista particular. Sentou-se ao lado do segurança e deu sinal para seguir viagem. Observou pela janela os carros correndo naquela paisagem noturna e as luzes deram lugar aos poucos a região da zona norte menos iluminada com poucos estabelecimentos abertos como agências bancárias, Kroke Salgados e a padaria Donna Ruth. Pediu para estacionar entre as casas com alguma iluminação e uma escola bilíngue. Amarrou os cabelos para disfarçar sua real identidade além da máscara no rosto que lhe ajudava nessas horas, saiu da sua Fiat Pulse.
Procurou o local pelo número do endereço sem sucesso. Tentou seguir sua intuição ali nas proximidades e encontrou uma escada que dava acesso ao subsolo com uma placa bem simples e humilde escrito Mensageiros de Luz. Apertou a campainha e esperou destravar a porta estreita. Desceu bem devagar degrau por degrau para não pisar falso no escuro e aguardou na entrada até receber sinal de entrar e participar do início da programação.
Passeou seus olhos curiosos por aquele lugar simples com cerca de vinte cadeiras e no fundão um humilde coffee break com cafés e chás a vontade, um balcão de recepção na pequena entrada, um pequeno palco onde os oradores já começaram as orações de abertura, uma livraria com livros espirituais e uma sala fechada onde provavelmente o orientador atende os adeptos e simpatizantes.
Escreveu o seu nome falso e o do segurança no caderno de presenças, acomodou-se na última fileira das cadeiras, acompanhou mentalmente as lindas orações de abertura. Preferiu não perguntar nada e apenas ficou escutando as mensagens de Chico Xavier e Allan Kardec até receber uma ficha cadastral, um papel que parecia de bloco de notas e caneta.
– Como é a sua primeira vez aqui vai precisar preencher seu nome completo, data de nascimento e idade e nas próximas vezes é só passar o seu nome completo para agendar – a recepcionista continuou – nesse outro papel você vai escrever o pedido mais urgente.
– Pedido mais urgente? – Juliette perguntou.
– É um pedido que você vai levar e mentalizar até realizar começando por hoje nos estudos e nas orações – a mulher respondeu.
Pegou a bic azul e preencheu rapidamente com o nome inventado que havia falado no telefone e o aniversário e a idade verdadeira, escreveu no papel menor e devolveu a ficha e a caneta para a recepcionista. Escreveu no pedido mais urgente proteção aos familiares e aos amigos e assessores. Fechou o papel entre a palma das mãos e guardou na bolsa.
Após ouvir meia hora de estudos sobre os livros espirituais, Juliette percebeu a condutora ao lado da palestrante sinalizar com a mão avisando para entrar, levantou-se pedindo licença aos outros a ouvintes e entrou na pequena sala. Encontrou um senhor de idade oriental a sua espera.
– Sente-se por favor – o orientador esperou ela sentar e ficar frente a frente com ele, pegou a ficha e continuou – Juliana Costa?
– Não, na verdade meu nome é – a paraibana abaixou a voz e completou – Juliette Freire Feitosa.
– Você – ele fechou os olhos como se recebesse vozes da caixinha Universal* e disse – você tem uma linda estrela viu e uma missão gigante pela frente – continuou – você teve contato com pessoas que foram karmas vidas passadas.
– Oxe – ela chegou mais próximo do orientador e perguntou com uma voz baixinha, desconfiada – o senhor não assistiu BBB?
– Eu nunca assisti, aliás – e completou – eu nunca me interessei por esse tipo de programa.
– Nada, nada? – ela insistiu, sentindo-se um pouco ofendida.
– Não – ele perguntou – e o que te trouxe aqui hoje?
– Eu tive um sonho – ela começou a explicar – um sonho que envolve uma outra pessoa – respirou fundo e continuou – aí ouvi uma voz estranha que falou no meu ouvido que alguma coisa está acabando – continuou – mas diachos eu não faço idéia do que está acabando.
– Qual o nome dessa pessoa?
– O senhor tem um pedaço de papel?
– Claro que sim – ele pegou um pedaço de rascunho e uma caneta na gaveta da mesa e entregou a ela.
Juliette escreveu o nome completo da Sarah no papel e mostrou para ele: – essa pessoa.
– Tem a data de nascimento?
– Eu vou ver aqui – ela pegou o celular da bolsa, procurou rapidamente na internet o aniversário e uma foto e mostrou a tela do aparelho para o homem com traços asiáticos.
O orientador fechou novamente os olhos e perguntou como se recebesse orientações espirituais do além: – aconteceu alguma coisa com ela?
– Ela levou um tiro por minha causa – ela respondeu – e foi quando acabei sonhando que tinha uma linha branca ligada entre mim e ela que ficou fina, quase quebrando e aí acordei.
– Essa não é a primeira vida que vocês se encontram – o homem falou com a mão nas têmporas e continuou – vocês duas já foram muito próximas em uma outra vida, mas por alguma razão por parte dessa moça não deu certo e se afastaram – ele continuou – vocês iriam se encontrar nessa vida de qualquer forma mais por parte dela que tinha essa dívida com você.
– “Tinha”? – perguntou.
– Sim porque essa moça levou um tiro e isso acabou quebrando esse karma mais rápido e por isso a linha branca que você enxergou ficou mais fina – ele continuou – ela vai começar a se afastar de você não porque te odeia ou tem algum problema, mas de uma forma assim, natural.
– O karma está acabando – ela pensou alto, completando o sinal que tinha recebido em sonho.
– Essa moça – disse – ela tem um karma no exterior e provavelmente no futuro vai embora do Brasil – e completou – alguma coisa que é dela e ela não vai ter como escapar.
– Ela já foi algumas vezes nos Estados Unidos.
– Então pode ser que ela vai pra lá de novo – falou.
Nesse instante, a condutora das consultas bateu uma vez na porta sinalizando que o tempo estava acabando para a nossa protagonista.
– Acabou o tempo? – Juliette perguntou.
– Faltam uns minutos – o senhor perguntou – você quer perguntar mais alguma coisa?
A pitica aproveitou o pouco tempo que lhe restava e conversou mais um pouco com o orientador sobre sua irmã Julienne que falecera por causa de um acidente vascular cerebral e ficou aliviada ao escutar que ela tinha encontrado o caminho da luz. Agradeceu a ele e saiu da sala antes de receber advertência da condutora dos atendimentos. Permaneceu até o final dos estudos e deixou o centro mais ansiosa e pensativa que quando chegou ali. Sentou-se no carro que partiu rumo ao endereço residencial temporário e lembrou das palavras ditas pela Sarah em algum momento ainda dentro do reality-show que bateu com algumas revelações feitas pelo orientador.
“A gente ia se esbarrar em algum lugar de qualquer forma.”
Nisso, o som do freio acordou a Juliette dos devaneios. Saiu do carro sentindo o vento gelado esvoaçar os cabelos longos, ela andou depressa e entrou no aposento. Encontrou Débora e a equipe preocupada pela demora já que tinha passado das onze da noite.
A paraibana tinha comido salgados e doces nos intervalos das palestras espirituais e foi direto ao quarto tomar seu remédio para ansiedade e descansar se é que isso era possível depois da revelação sobre o sonho. Encostou a cabeça no travesseiro e sentiu os neurônios ferverem por não conseguir parar de pensar nas palavras do orientador como se a conversa repetisse infinitas vezes em sua mente. Custou adormecer com tanta coisa passando pela cabecinha ansiosa e perturbada.
O psicológico da Juliette ainda não estava cem por cento desde o encerramento do programa mais vigiado pelo país. Aliás, o estado da nossa pitica havia piorado após aquele dia traumatizante do tiro mesmo com terapias e medicamentos. Mal sabia os fãs que por trás daquele sorriso tão iluminado existia um ser humano como qualquer outro.
No dia seguinte, abriu os olhos sonolentos e acordou num pulo quando viu o relógio do celular marcando quase onze horas e respirou aliviada ao lembrar que era sábado e não havia compromisso nenhum de trabalho. Fez os rituais que qualquer mortal como ir ao banheiro, escovar os dentes, lavar o rosto e ajeitar os cabelos bagunçados. Ficou ali parada se olhando no espelho e viu o reflexo da loira sorrir e afastar-se dela. Arregalou os olhinhos surpresos e sacudindo a cabeça, retornou ao quarto.
Ao se reunir com suas amigas na sala espaçosa, a nossa nordestina baixinha tentou distrair seus pensamentos conversando e brincando com a equipe. Almoçou bem e foi descansar mais um pouco no quarto já que dia livre era raríssimo em sua agenda apertada. Leu alguma coisa e acabou adormecendo com o livro aberto no rosto. Escutou alguém chamar seu nome e acordou num pulo. Largou o livro na cama e amou os comes e bebes preparados para animar a noite.
A TeamJuliette e a patroa ficaram bebendo várias garrafas como faziam nos velhos tempos de farra dentro de casa. A paraibana dançou com alguns membros da sua equipe e lembrou-se das festas badaladas da casa do Big dos Bigs. Ficou animada depois de beber bastante, abriu uma live surpresa, pegando até os integrantes no pulo. Viu entrar milhares de pessoas ao mesmo tempo em uma fração de segundos e ela começou a falar.
– Oi meu povo vim dar um xêro! Olha minha gente eu sei que não avisei ninguém e já levei até bronca, mas quis matar saudade e saber se estão todos bem, a família e os amigos – ela abriu um lindo sorriso ao ver algumas participantes subindo na tela o emoji da lua em meio a tantos cactos e continuou – um beijo aos meus cactos e a todos os shippers, amo muito vocês! – Leu alguns comentários como “Manda um beijo pro meu gato chamado Sarão”, “Te amo daqui até Lua” e fez símbolo de coração com as mãos.
Juliette respondeu algumas perguntas como os projetos futuros e olhou para trás antes de continuar e disse meio contrariada: – Oh gente eu vou ter que sair porque já tão querendo me dar bronca então um grande beijo pra todo mundo e fiquem com Deus!
As horas passaram num piscar de olhos e todos resolveram encerrar a festinha depois de muita bebedeira, risada e conversa sobre assuntos aleatórios que não envolvia trabalho. A nossa protagonista também se retirou no quarto, tomou o remédio e esqueceu completamente que não podia misturar aquele medicamento forte com bebida alcoólica. Apagou as luzes, deitou-se na cama e começou a sonhar que estava ainda dentro do reality show.
Todos os traumas do cancelamento, preconceito, xenofobia, exclusão e traição dos ex-brothers e ex-sisters vieram em forma de lembranças misturadas com o assalto a tiros que tinha envolvido a loirinha espiã.
Acordou num pulo, apertou a mão gelada contra seu peito com os batimentos acelerados e colocou a outra mão na testa suada. Acalmou a respiração ao ver que foi tudo um pesadelo e acendeu as luzes do quarto. Levantou-se da cama, amarrou os cabelos num coque e trocou-se apressadamente para sair com uma roupa bem casual e discreta.
Com passos lentos, abriu a porta do quarto e seguiu em direção a saída da casa. Notou o segurança acordado e pediu que guardasse segredo.
– Eu não posso fazer isso amiga – o segurança disse.
– Amigo eu preciso ir muito pra um lugar e ninguém pode saber – Juliette falou.
– E vai assim bêbada e sem avisar ninguém?
– Por favor?
O segurança não resistiu aquela voz manhosa da patroa e assentiu positivamente com a cabeça. Abriu a porta a sua patroa, olhou pros lados para conferir se não tinha ninguém da equipe antes de entrar e afundar o pé no acelerador do carro. Pegou o endereço e seguiu em direção a um apartamento.
Ao ver o carro parar em frente a uma área residencial afastada do centro da cidade, a paraibana usou óculos preto de disfarce, ajeitou a máscara no rosto e quase tropeçou para descer do carro se não fosse o segurança segurá-la pelo braço para servir de apoio.
– Eu ainda vou me arrepender por ter feito isso – o homem disse, preocupado.
– Obrigada amigo e pode ir e avisar as meninas que estou em um lugar seguro.
– Eu posso voltar que horas?
– Eu lhe aviso.
Juliette entrou bem rápido no prédio e pediu para a recepção avisar a moradora e deu um nome falso: – Juliana Costa, sou amiga dela que cheguei agora do interior.
– Só um instante por favor – o recepcionista ligou no interfone da moradora que negou a visita – olha ela disse que não conhece ninguém com esse nome.
– Eu posso falar? – a nordestina perguntou e recebeu o telefone e disse: – Oi sou eu.
– Mas, mas, o que aconteceu a essa hora? – ela perguntou do outro lado.
– Eu vou subir – ela desligou.
Devolveu o telefone para o recepcionista, tomou o elevador e chegou na porta do apartamento que já estava de porta aberta.
– Oi Sarah.
– Oi Juliette.
E continua…
Comentários da autora:
Gente, sobre karma foi baseada na história de uma amiga minha (menos a parte do tiro Rs) e adaptada a história dessa fanfic, inclusive esse grupo espiritual ele existe, só não sei se está ativo depois que entrou a Pandemia.
“Só quem sente na pele sabe como é” ela disse que foi uma experiência e tanto!
Agora faltam só mais uns 2…?
Talvez vou precisar dividir então pode ter mais capítulos.
Espero que tenham gostado! Até o próximo cap. Bjsss
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After (Sariette)
FanfictionSarah Andrade estava cansada de levar tanto ódio gratuito pela mídia por causa do shipper Sariette após meses do encerramento do reality show mais vigiado pelo país e decidiu colocar um ponto final nessa história para conseguir focar ainda mais nos...