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- sim, claro, mas o que houve? ele chegou?
- chegou cedo junto com Timmy..- pigarreio ao ouvir o apelido do garoto.
- é, eu o vi. Então, qual é o problema? - eu não estava entendendo.
- o Timothée está por aí, mas eu não encontro o pai dele em lugar nenhum! Preciso pegar os pratos e levar pra sala e...- o interrompo antes que o pior aconteça.
- Will, calma! Olha, deixa que eu procuro o Sr. Lecter, ok? vá se preparar. Estará tudo pronto na hora certa. - eu também tentava me convencer da última parte. - a gente sempre consegue.
- por que eu não esbarrei com você antes? - ele me abraça. - eu te amo, garota!Will balança seus cachinhos em meu rosto e então sai em disparada pelo corredor novamente. Rindo sozinha, vou à procura do nosso professor. Resolvo algumas pequenas coisas pelo caminho e quando me dou conta estou no último corredor e nem sinal do homem.
Quando estava prestes a dar meia volta e retornar por onde vim, ouço um risada e então percebo uma sala entreaberta e logo bato. Será que vai existir um momento em que eu não vou estar completamente nervosa?
Ouço uma voz abafada do lado de dentro, me autorizando a entrar e assim faço.
Professor Hannibal está em pé perto do balcão e parece estar arrumando os últimos detalhes dos três pratos que preparou. E ele não está sozinho. Sem querer, me arrepio quando sinto o olhar de Timothée em mim.
- Olá, boa noite, professor! William o procurou pela escola inteira..- o homem me encara com seu semblante sempre sereno. - só vim me certificar de que está tudo correndo bem. O senhor precisa de algo?
- boa noite, Lya. Na verdade acabamos de finalizar tudo aqui, mas obrigado por se preocupar.
O encaro por um instante antes de voltar a falar.
Hannibal Lecter é o homem com as feições mais misteriosas que já vi na minha vida inteira. Poucas coisas o assemelham à seu filho fisicamente. Seus cabelos são castanhos com um leve toque grisalho, suas sobrancelhas são ralas, sua pele é bronzeada, mas seus olhos e nariz são idênticos aos de Timothée.
- não é, Lya? - ouço meu nome ao longe e logo volto a mim. O que foi agora?
- desculpa, o que? - preciso de uma desculpa decente pra tamanha desatenção. Timothée era quem falava comigo. - poderia repetir? É que eu me distraí olhando os pratos, estão muito bonitos, professor.
O garoto ri alto, como se soubesse o que eu realmente estava pensando. O homem apenas acena com a cabeça em agradecimento.
- eu estava contando ao meu pai o que você me mostrou minutos atrás..- o encaro, incrédula.
- o que eu te mostrei ou que você simplesmente pegou sem pedir? - vejo suas sobrancelhas arqueando pela segunda vez no dia. - e aliás, nem me devolveu!
- mexeu nas coisas dela? - a voz de Hannibal era calma, mas o olhar dele pro filho era indecifrável, o que me fez sentir desconfortável por um breve segundo. O rapaz permaneceu calado.
- não tem problema, senhor..- respiro fundo quando os dois me encaram. - era algo bobo, de qualquer forma.
- é uma pesquisa um tanto quanto interessante, se me permite dizer. - Sr. Lecter diz enquanto arruma as coisas espalhadas pelo balcão. Meu olhar corre para Timmy e se eu pudesse matá-lo somente com os olhos, a essa altura seu corpo estaria no chão.
- foi exatamente o que eu disse a ela. - o garoto diz e eu reviro os olhos mentalmente. ELE NÃO DISSE NADA DISSO! Como pode ser tão cínico?Visto que permaneci calada, o professor continua:
- não fique brava com ele dessa vez...- o sorriso matreiro nos lábios do homem me surpreende. - desde minha juventude faço estudos sobre este tipo de assunto, sua pesquisa é muito pertinente. Timothée lhe contou que certa vez eu quase entrevistei Jeffrey Dahmer?
Pude sentir meu queixo cair por uns breves segundos. Jeffrey Dahmer? O serial killer que matou e comeu 17 caras nos anos 80/90?
- na verdade não, ele não contou.. mas, por mais que eu esteja extremamente curiosa pra saber como um professor de biologia conseguiria isso, nós ainda temos uma feira pra ministrar. - Sr. Lecter assente e ele e o filho se entreolham. Timothée então dirige seu olhar para mim.
- Lya, você quer jantar lá em casa quando isso acabar? - o garoto pergunta e meu coração acelera. Meu olhar alterna entre ele e seu pai, que nada diz.
- jantar? -suspiro. - não sei, gente. Tem tantas coisas para serem resolvidas ainda..
- entenda esse jantar como uma comemoração pelo bom desempenho de vocês hoje..- Hannibal declara e eu penso em dizer que não tínhamos certeza de nada a respeito de meu desempenho, mas fico calada. - mas devo dizer que o convite limita-se somente a você.
- é, de qualquer forma, fiquei sabendo que a galera vai pra lanchonete depois daqui.. você não tem motivos pra recusar! - o sorriso e olhar de Timothée sobre mim me hipnotizaram totalmente e eu nem tentei questioná-lo sobre não estar sabendo dos planos da lanchonete ou o porquê de eles insistirem tanto para que eu jantasse com eles. Apenas respirei fundo e disse:
- tudo bem então, vamos torcer para que nada dê errado! - o sorriso hipnotizante dele se alargou e foi como se minha alma se soltasse do meu corpo.
A partir dalí foi tudo um borrão no meu cérebro. O momento que Timmy e eu saímos da sala com os pratos; o momento que encontramos um Will desesperado e o ajudamos nos últimos detalhes pendentes; o momento que os visitantes e alunos entraram e eu comecei a tremer quando senti as mãos do garoto de olhar misterioso em minhas costas.
Timothée ficou do meu lado o tempo inteiro, tendo saído por apenas um instante durante sua apresentação, e devo dizer que ele estava radiante enquanto falava e explicava sobre os pratos. Eu não sabia o que pensar de toda essa aproximação.Tudo estava saindo conforme o planejado e eu não podia estar mais feliz. Quando finalmente voltei a mim, era minha vez de subir no palco, juntamente com o diretor. Ele começou dizendo o quanto estava satisfeito e orgulhoso do trabalho que havíamos feito e que esperava o mesmo " se não mais" dos finalistas do ano seguinte. Eu só podia concordar. O microfone foi passado pra mim e eu me segurei para não cair enquanto subia as escadas. Ok, eu consigo!
- boa noite a todos os professores, alunos e visitantes! - a resposta foi imediata. - como nosso querido diretor Shepman já disse, eu fui a idealizadora desse ano e gostaria de agradecê-lo pela oportunidade de poder mostrar e aprender um pouco mais sobre tantas culturas diferentes. O evento de hoje foi incrível! Quando fui eleita pela escola, sinceramente, achei que não conseguiria e pensei em desistir antes mesmo de tentar. Felizmente, tive pessoas maravilhosas me aconselhando e acabei fazendo delas a melhor equipe que eu poderia ter.
E então citei Will, Dan, Jane, Timothée e até o professor, que ajudou indiretamente.No fim, agradeço pela terceira vez e então sou aplaudida por todos. Desço do palco com a melhor sensação do mundo: a de dever cumprido.
Finalmente acabou! Jane me esperava no fim dos poucos degraus da escada.
- hey, você foi espetacular! - ela tenta falar mais alto que o barulho da música que agora toca.
- todos nós fomos, Jane.. - digo quando a abraço. - eu não teria conseguido sem vocês.
- obrigada pelas palavras lá em cima, foi incrível de verdade.. - Dan, que apareceu do nada, diz. Eu apenas sorrio, sem graça.
- você vem com a gente pra lanchonete? - por um instante eu até penso em dizer sim, mas então lembro da outra proposta. Jeffrey Dahmer. Suspiro.
- não vou poder ir, pessoal.. - o olhar de Dan murcha, mas os dois assentem. - ainda tenho coisas pra resolver por aqui e em seguida vou pra casa.
- é, você deve estar exausta.. - a garota comenta. Não deixa de ser verdade.
- não esqueçam de tirar fotos para o anuário! - isso é trabalho de Will e tinha certeza que ele arrasaria.continue...
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• Est Devenu Réel •
Historia CortaPequenos contos baseados em sonhos de uma mente perturbada, porém criativa. Ou não. . . . . . . . compartilhe :)