✨ Capítulo escrito pela jornalista Larissa Akina ✨
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Dezesseis de agosto de dois mil e dezenove. Essa data ficou registrada na memória de Patricia Salerno, de 51 anos, e de todos os que têm o prazer de partilhar da sua alegria cotidiana. Foi o dia da descoberta de seu câncer de mama.
Em exames de rotina, a fisioterapeuta foi diagnosticada com a doença que aflige muitos corações no mundo. Patricia, que é mãe de Juliana, a mais velha, Manuela, a do meio, e Gabriel, o caçula, teve a oportunidade da descoberta do câncer triplo metastático em seu estágio inicial. Por uma mera distração - ou talvez, salvação - não se atentou que na descrição dos exames para check up, entre os solicitados por seu médico, estava a mamografia e não a ressonância magnética, como costumava fazer, por preferência. Ela estava de frente à uma batalha, mas a chance que lhe foi dada na descoberta inicial, fez toda a diferença, já que pela ressonância não seria possível visualizar o tumor maligno em sua mama esquerda...
Um turbilhão de pensamentos ocupavam a sua mente após saber da notícia. Dentre tantos questionamentos e indagações internas, a professora fisioterapeuta perguntava curiosa em voz alta:
— Diga-me, qual é a minha porcentagem de chance? Tem tratamento?
A resposta do doutor foi clara:
— Noventa por cento. E sim, há tratamento.
— Então, pode começar amanhã.
Era hora de desacelerar. A mãe, professora, esposa, amante do voleibol e vendedora de cosméticos Mary Kay precisava de um momento para ela, somente dela – tinha que cuidar de si mesma.
Antes da descoberta, a rotina e a semana de Patricia eram intensas, com poucos momentos de lazer e descanso, eram 40 horas semanais trabalhadas. Ela reflete: "Só poderia ser um recado: para, desacelera. Tudo na vida é você ter família e amigos, você estar na pior e saber quem são os seus amigos".
A doença chegou de surpresa. Não era o câncer que tinha que se adaptar com a Patricia, mas sim ela com a doença. Saiu da UTI em que atuava, enquanto dava estágio para os seus alunos de fisioterapia da Universidade São Camilo, e foi transferida para um outro setor, onde também trabalhava com a fisioterapia respiratória. Além da mudança na rotina, ela abriu espaços para uma nova visão sobre a vida – uma reflexão com si mesma –, mas não deixava de lado a preocupação com os filhos.
"Eu pude perceber que o importante para mim é a minha família. Passar mais tempo com eles. Eu já tenho um livro que eu escrevi, vários artigos publicados, nacionais e internacionais, por qual motivo eu vou continuar me importando com isso? Tenho 51 anos, chega!" - expressa em tom firme. "Vou continuar publicando e estudando, porque eu preciso ajudar os meus alunos e me atualizar. Mas não é mais aquilo, de querer mostrar que eu sei", complementa.
Os primeiros passos para o tratamento começaram rapidamente: uma bateria de exames e depois a implantação de um cateter no corpo, o qual precisava ser preparado para iniciar as quimioterapias. Um mês (e mais três dias) depois da descoberta, veio a primeira sessão. Antes do processo, há uma entrevista pré-quimioterapia que esclarece informações sobre o que acontecerá durante o tratamento.
"Eu só escutava que tudo ia cair, cair e cair".
Naturalmente, ela tinha a certeza de que o cabelo cairia e a sobrancelha também. Porém, Patrícia tinha a necessidade insaciável de descobrir alguma forma para que essas perdas não fossem tão rápidas – pelo menos naquele momento. Juliana Picanço, sua filha, estava no Canadá durante toda essa batalha. Ela não sabia de absolutamente nada que envolvesse a descoberta do tumor e os procedimentos pelos quais a mãe passava. Patricia realmente preferiu que fosse dessa forma para "não estragar a viagem": "Eu precisava que o meu cabelo não caísse, imagine a Juliana me ligar e eu estar careca?!", exclama.
A solução foi encontrada, pelo menos para quando a filha ligasse por chamada de vídeo: Ela iria "congelar a cabeça".
O procedimento consiste em colocar uma touca na cabeça para fazer com que o cabelo não caia. Então, assim foi feito durante as duas primeiras quimioterapias. Patricia cortou o cabelo Chanel e arcava com o custo do procedimento à parte, já que o convênio não cobria, mas afirma que foi "impressionante", mesmo congelando, o cabelo caía – os resultados não foram tão eficientes conforme o esperado.
Nó na garganta e angústia. Nessa situação a vaidade entrava em jogo: "Eu acho que a pior parte do tratamento é o bendito do cabelo, porque nós somos vaidosas. O cabelo é o cabelo", explica, com lágrimas nos olhos.
O cabelo congelado era um incômodo quando se deitava para descansar: "ficava duro, me machucava", e então, no dia seguinte em que sua filha retornou, tomou a decisão: era a hora de raspar o pouco que restava.
O momento era difícil, a autoestima quase não brilhava, se escondia por trás de um sorriso forçado, mas decidido.
"Eu estava com medo do meu filho. Ele só tinha sete anos, como ele me veria assim? Será que ele teria vergonha dos amiguinhos, deles pensarem: 'A sua mãe é careca?'". E mal imaginava ela que tudo fluiria bem: 'O Gabriel me aceitou tão bem e falava que eu estava linda, que eu era mais linda careca do que com cabelo'" – recorda, emocionada.
Patricia, ao mesmo tempo estava insegura com o seu novo visual, fazia florescer o seu espírito brincalhão, que por sinal, nunca deixou de existir:
"Eu chorei algumas vezes sozinha sim, me sentia insuficiente. Quando eu olhava no espelho e via que não tinha cílios, sobrancelhas e não tinha mais nada. Por mais que eu passasse Mary Kay, a cara não melhorava nunca – inclusive, eu vendo, se precisar – brinca.
Patricia recorda como foi a primeira vez na sala de aula sem os cabelos: os alunos em sua homenagem estavam usando perucas e lenços rosas.
"Eu me aceitei careca. Levaram até o Oscar na faculdade e eu tirei foto minha com ele, eu careca e ele também", comenta sorrindo.
Foram os alunos que deram "um gás" para a professora continuar e jamais se dar por vencida: "Eu não queria passar isso para ninguém, era um sofrimento meu. Eu tinha que ser forte, me mostrar forte".
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POR TRÁS DA CAPA
Short StoryUma história real da Mulher-Maravilha da vida real. História original criada por Mariana Almeida(eu), Lucas DeLucia, Juliana Almeida e Larissa Akina. Projeto "Um dia, uma vida" da FCL-Jornalismo.