✨Capítulo escrito por Lucas De Lucia✨ ✨ Instagram: @delucialucas ✨
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"Primeiro a minha família, eu tinha que ver eles crescerem. Eu tinha que ver. Segundo os meus alunos (em lágrimas). Eu não podia decepcioná-los! Eu não podia! Com tanta homenagem que fizeram para mim. Com tantos alunos que eu não via há anos. Eu dou aula desde 1994. No vídeo – que demorou 3 anos-luz, foram 2 pen-drives, cada um falava um pouquinho – tinha alunos da primeira turma. Então eu não podia. Eu tinha que vencer. Eu tinha que mostrar pra eles que se a gente tem força a gente consegue! E eles tinham que ter esse exemplo! Eu falei... não... meus filhos eu vou ver crescer... e meus alunos vão saber que, quando a gente quer, não importa o quê, a gente consegue! Só que vai ter que lutar para isso... Vocês têm que lutar para isso. As coisas não são fáceis, na nossa vida. A gente dá cabeçada, a gente tropeça, mas a gente vence. Se a gente quiser, a gente vence!"
Era um dia de trabalho, como qualquer outro, para Patricia. Afinal, mesmo diagnosticada com câncer, não deixou de trabalhar por nenhum dia, uma vez que, segundo ela, continuar a dar aula era um dos mais importantes remédios para conseguir enfrentar a doença.
Então, durante o intervalo de uma de suas aulas, Patricia foi chamada pelas professoras da faculdade em que trabalhava para cantar parabéns pelo aniversário de outra discente.
Como de costume, dirigiu-se à sala dos professores, ansiosa por um pedaço de bolo, mas, naquela ocasião, a surpresa teria sido alterada de local: iria acontecer no auditório da Faculdade.
Acontece que não só o local da festividade teria sido modificado, mas também o seu motivo.
Patricia, que estava de peruca rosa – em homenagem ao "Outubro Rosa" –, abriu a porta do auditório.
Naquele momento, ao avistar cartazes e algazarras de diversos alunos, bem como um vídeo projetado na tela branca do palco, deu-se conta que a Faculdade não estava a celebrar aniversário de professor algum, mas a homenageá-la – de pé – pelo que foi, é e continuaria a ser, bem como a incentivá-la na luta contra o câncer de mama.
Imensuráveis foram os minutos em que foi ovacionada.
E é óbvio que os aplausos – e a homenagem – não vieram por acaso para essa professora.
Desde os seus 24 anos, Patricia começou a dar aula na graduação de fisioterapia, passando por faculdades como a Metodista e a São Camilo, esta última, inclusive, onde ocorreu a homenagem.
Foram anos de aprendizado de ambos os lados – ela para com seus alunos, eles para com ela.
Contudo, Patricia não era aquele tipo de professora que se restringia a ensinar o que era disposto nos livros. Ela ia além, ela ensinava – e praticava – o amor, dentro e fora de sala de aula.
No início da sua experiência profissional, os docentes tinham quase a mesma idade que a sua, por isso, sempre teve uma relação muito próxima com eles, chegando, algumas vezes, a fazer palhaçadas junto deles, e noutras ocasiões, "pegá-los no colo".
Foram inúmeras as situações em que ela, emocionada pelos problemas econômicos de seus discentes, acabava por comprar convites de formatura, junto à comissão, para aqueles que não puderam custear a própria entrada no baile de gala. A condição era muito simples: não contar, jamais, que teria sido ela a responsável por aquele ato.
Também por isso, Patrícia enxergava em oportunidades acadêmicas a chance não de se autopromover, mas de dar voz e espaço de crescimento a seus alunos – um nítido ato de solidariedade. Por isso, quando teve um de seus trabalhos aprovados em um congresso internacional, decidiu que a melhor pessoa para o apresentar seria sua aluna (e não ela), que, inclusive, teve todas as despesas pagas pela professora para o fazê-lo – como passagem de avião, hospedagem e alimentação.
Engana-se, porém, que isso se dava pelo fato de que teria uma condição econômica extremamente avantajada. Patricia via nesses atos uma forma de mostrar aos alunos que o dinheiro não era tudo e que tudo era possível. Até porque, ser fisioterapeuta era um ato de toque e de cuidado, e este só seria bem-feito se fosse realizado com carinho, afeto e amor – e não só movido pelo interesse financeiro.
Justamente por isso, ela reiterava que os discentes deveriam tratar do paciente como se fosse alguém que eles amassem, mas alguém que eles – realmente – amassem muito.
A questão é que, para Patrícia, seus alunos eram, também, seus pacientes do dia a dia. Todavia, em relação a eles, não se faria necessário imaginar que ela os amasse muito, haja vista que isso lhe era uma verdade incontestável – seus alunos são, também, seus amigos.
Assim, movida por esse mesmo instinto passional, praticava o ofício (ou a arte) de ensinar, de forma a almejar que, um dia, a sua cria ficasse maior que a sua criadora. Noutras palavras, ver aquele primeiro grão de areia, posto pelo professor, tornar-se um monumento.
Portanto, naquele dia, assistir os depoimentos dos mais diversos alunos em suas mais diferentes idades e fases profissionais – uns já castelos, outros pequenas construções e alguns pouco mais de um punhado de areia –, levou ela a acreditar na capacidade de superar o câncer de mama.
Então, com lágrimas nos olhos, fez uma promessa à turma que, futuramente, viria a ser professora homenageada: não decepcionaria seus alunos; venceria a doença!
Porque quando a gente quer, não importa o quê, a gente consegue.
A gente vence!
E foi assim que, posteriormente, no dia da colação de grau, vestiu-se de Mulher-Maravilha e adentrou no anfiteatro, com luzes sobre sua cabeça - no sentido literal e figurado -, carregando a seguinte faixa: "Venci o câncer. Devo a essa vocês".
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POR TRÁS DA CAPA
ContoUma história real da Mulher-Maravilha da vida real. História original criada por Mariana Almeida(eu), Lucas DeLucia, Juliana Almeida e Larissa Akina. Projeto "Um dia, uma vida" da FCL-Jornalismo.