Capítulo 1

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O burburinho no escritório iria me deixar louca! Não parei sentada na minha mesa nem por dois minutos seguidos hoje, minhas pernas doíam por ter que ficar andando pra lá e pra cá o tempo todo, e ainda ameaçam me despedir só porque cheguei atrasada. Inúteis!

A minha vida toda só me lembro de ter estudado. E pra que? Me tornei secretaria, que grande futuro. Nunca me interessei em fazer faculdade, mas meus pais não eram muito compreensíveis, passei em administração e não consegui nada mais que ser secretária em uma empresa falida, de um país mais falido ainda. Talvez se eu tivesse nascido rica, estaria agora na minha cobertura no Leblon de frente pro mar, tomando algum drink e aproveitando o sol.

Minha vida amorosa era pior que minha vida profissional, não me considero bonita, embora eu ouça algumas pessoas dizerem isso, meu último namoro terminou a dois anos, e durou apenas um ano, o cretino vivia me traindo e embora minha amiga tentasse me avisar eu não acreditava. Cega de amor. Quase briguei com ela por causa dele, uma grande idiotice. Depois de pegar ele na cama com a outra, chorei por duas semanas seguidas e tive vontade de morrer, aprendi uma grande lição: Homem nenhum merece meu amor, então agora, aos 24 anos, decidi que não me deixaria levar facilmente por um homem, por mais bonito que fosse.

Quando o meu expediente acabou, suspirei aliviada por ser sexta feira, mas não! Não pensem que eu me livrei do trabalho ainda, Rafael, meu patrão, tinha compromissos pro final se semana e lógico, eu tinha que organizar a agenda dele. Palavras dele, não minhas.

- Olha só, se você quer uma secretária particular, contrate uma, a partir do momento que terminou o meu expediente eu não tenho mais nada a ver com seus compromissos pessoais - falei sem pensar quando ele veio até minha mesa pedir que eu fizesse uma reserva em algum restaurante caro que já nem me lembro o nome.

Pra completar minha desgraça eu tinha o hábito de ser desbocada, as vezes falava de mais, e é claro, eu sempre me ferrava.

- Esteja aqui segunda no horário certo, pra variar, vamos ter uma conversa séria - disse Rafael furioso com o celular no ouvido com a mão esticada na minha direção e um dedo apontando pra cima.

Merda,eu seria demitida com certeza, Rafael era um homem de uns trinta e poucos anos, era até bonitinho, mas arrogante de mais. Cheguei em casa já encontrando Gabriela no sofá da sala com um sorriso enorme no rosto. A calopsita albina era minha amiga desde o começo da faculdade, era incrivelmente loira e branca, nem parecia uma garota do Rio, tinha cara de gringa e se vestia como uma.

- Lembra que você disse que queria relaxar? - ela perguntou pulando do sofá com dois ingressos na mão, ela não me deu tempo de responder e logo desatou a falar novamente - Então, consegui dois ingressos pro balé amanhã.

Ela sorria de orelha a orelha e só faltava dar pulinhos de alegria, o cabelo cortado extremamente curto não tirava em momento algum a feminilidade dela, os olhos azuis claros e o piercing no nariz a fazia parecer uma cantora de Rock alternativo, e as roupas eram totalmente o contrário do rosto, um short florido em tons de azul e um colete fino de mesma estampa cobria o top branco rendado que usava.

- Qual é Gabi? A gente mora no Rio, pensei que fossemos pra praia e você me aparece com ingressos pro balé? - falei jogando a bolsa no sofá onde ela estava sentada, com o rosto de total desânimo.

Ela fez cara de tédio e colocou uma mão na cintura me encarando com olhos repreensivos, o que eu nem dei trela, já que minha maior preocupação era tirar os sapatos de salto que machucavam meus pés.

- Tem coisa mais relaxantes que balé?- tem doidona: praia e cerveja gelada, a mulher parecia ser de outro planeta, só pode - vai ser legal, você vai ver.

MaelstronOnde histórias criam vida. Descubra agora