Maelstron

Capítulo 9

Flynn me encarava com uma ar desafiador a uns longos segundos. Eu me perguntava o que estava passando pela minha cabeça em dizer uma coisa daquelas, em propor aquilo, mas parecia ser a única "língua" que ele entendia. Ah mas também, valia a pena né? Com a bússola em mãos eu poderia descobrir como voltar pra casa... E afinal... Ele nem era de se jogar fora.

Eu senti meu coração chegar a quase saltar do peito só de pensar em poder voltar para casa novamente, mas o silêncio dele estava me deixando doida.

— Nosso acordo não era esse Hannah — ele disse por fim, com um sorrisinho de quem estava gostando do rumo da conversa.

— Mas é um passo em direção ao que você quer? — rebati, maliciosa.

Eu não podia acreditar no que estava fazendo.

— Você não está errada — o sorriso dele se alargava cada vez mais.

Busquei o ar na esperança de ficar um pouco menos tensa e nervosa, mas não adiantou muito. Olha lá, hein Hannah, pra se apaixonar é daqui pra igreja.

Vi os fios de seu cabelo castanho cair sobre sua testa um por um, ondulados e brilhantes, até o jeito que ele piscava os olhos era diferente, tinha alguma coisa nele que me deixava extremamente furiosa. Talvez fosse perfeito de mais.

— E então... O que me diz? — minha voz saiu em um sussurro inseguro.

Por um momento tive medo que ele dissesse não, mas tive mais medo ainda que dissesse sim, eu estaria nós braços dele por vontade própria, e não tinha certeza se era capaz de ter coragem de parar uma vez começássemos. Responde logo, homem de Deus!

— É uma oferta tentadora — começou ele, desviando os olhos, fingindo pensar por alguns segundos, então voltou a olhar pra mim intensamente como antes — eu não poderia recusar.

Aí Deus, ótimo. E agora? Ele era provavelmente o homem mais bonito que já vi na vida, talvez o mais bonito do mundo, e ele iria me beijar naquele momento, bom, pelo menos eu guardaria de recordação e experiência, e talvez fosse a única vez na vida que um homem daquele olhasse pra mim daquela forma. Não que eu precisasse de um homem pra alguma coisa. Flynn se aproximou antes que eu pudesse me mover, senti todos as moléculas do meu corpo ficarem totalmente geladas, eu podia ouvir meu coração acelerado no peito, mas o barulho alto de passos na escada interrompeu o movimento de Flynn fazendo com que ele fechasse os olhos com força, sua boca se comprimiu em uma linha fina.

Eu quase pude ouvir os berros internos de reprovação dirigidos ao homem que parara na nossa frente com um olhar tenso, era forte e alto, não aparentava ter mais de 35 anos e tinha cabelos e barba quase tão negros quanto a noite.

— Capitão! — seu tom de voz nao parecia ser o de quem da boas notícias ou simplesmente precisa conversar algo cotidiano.

Comecei a ficar preocupada quando gotas de suor escorreram da testa dele.

— O que foi?! — embora a voz de Flynn estivesse contida, não escondia a raiva por ter sido interrompido.

— Ayslan Torriel... Está se aproximando. — a preocupação contida na voz do homem fez um alerta vermelho soar na minha cabeça.

Ao meu lado, os músculos de Flynn ficaram tensos e sua expressão ficou fria como o oceano a nossa volta. Afinal quem era esse homem? Eu devia me preocupar?

— O que está acontecendo ? — perguntei a Flynn que agora parecia mais uma estátua, o medo de morrer estava constantemente presente em mim desde que havia chegado aquele mundo louco — quem é essa pessoa?

Sim. Pessoa. Eu não sabia se Ayslan era nome de homem ou mulher, podia ser até de um cachorro ou mesmo de um navio, eu nunca conheci nada nem ninguém com esse nome, não sabia pelo que esperar. Só tinha certeza que não era coisa boa.