Detenções

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Passando aqui pra lembrar que essa é uma história já publicada no meu perfil do spirit (jaemean) e no ao3 (também é jaemean) com o mesmo título, e é isto. Boa leitura!



Eu era, sim, um zé ninguém. Apesar disso, não significava que eu não conhecia nenhum aluno daquele colégio, na verdade, eu conhecia muitas pessoas, contudo, isso também não significava que eu era alguém que atraía os seus olhares. Não, eu não era o tipo de pessoa que chamava atenção por ser bonito, muito menos por ser rico — coisa que eu gostaria bastante de ser. Simplificando, eu era um jovem comum de uma cidade pequena. Ninguém se aproximaria de mim por interesse.

Mas, por algum motivo desconhecido, talvez pelo completo tédio que aquela micro cidade perdida no meio do mapa fornecia, Jaemin criou um tipo estranho de interesse sobre a minha pessoa.

Quem era Na Jaemin? Bem, ele era ninguém mais, ninguém menos que o filho do prefeito — e isso significava que ele era rico. Não bastasse isso, ele também era muito bonito, logo, era o meu completo oposto. Talvez por causa disso que ele tentou uma aproximação. Mas eu não era besta. Jaemin querer qualquer tipo de contato comigo significava que ele queria alguma coisa minha, e eu não estava a fim de me meter em confusão — afinal, Jaemin e confusão eram sinônimos no dicionário desta cidade —, ou seja, eu não dei corda. E isso acabou dando a entender que, se eu não queria me envolver, o Na teria toda a liberdade do mundo para me atormentar.

Foi assim que eu me tornei um alvo daquele maldito.

Diferente do que se esperava vindo do misto de estereótipos que Jaemin era — afinal, em muitos filmes de Hollywood, ser rico, bonito e popular vinha com o brinde do papel de bully do colégio —, ele não tinha alvos, além de mim, claro. Ele não fazia questão de atormentar nenhum aluno; vivia ocupado unicamente com a própria roda de amigos e as suas incríveis festas da alta sociedade, com música alta, bebedeira, piscina e sexo.

Acontece que eu não estava nada interessado naquela realidade. "Como não?", você deve estar se perguntando. Eu já me sentia suficientemente vazio, não precisava de festas regadas à bebida e à putaria para confirmar o que eu já sei que sou, ou me sinto.

Eu não era alguém com muitos objetivos de vida, sequer havia como ter tantos vivendo numa cidade como esta. Talvez, o único objetivo que eu tinha e que seja esperado de alguém como eu, assim como de várias outras pessoas que moravam aqui, é dar o fora desta cidade o quanto antes. Era o tipo de lugar que você não enxergava nada além de um futuro deprimente. O ar era fresco e puro de se respirar, além de não haver trânsito, mas talvez toda essa calmaria que me afetasse tanto. Quem sabe, se eu morasse na correria da capital, com engarrafamentos constantes, poluição intoxicante e luzes chamativas para lá e para cá, eu me sentisse menos vazio e possuísse mais metas e objetivos.

Bem, não custava nada sonhar.

Voltando ao ponto principal, eu não tinha um objetivo de vida, além de ir embora da minha cidade natal. Eu não fazia ideia do que cursar na faculdade e para qual universidade eu deveria aplicar. Convenhamos, eu podia não ser lindo de morrer ou rico, mas eu tinha boas notas — era o mínimo. Modéstia à parte, eu estava sempre no topo do ranking da escola. Mas já era de se esperar, afinal, tratava-se de uma pequena escola de ensino médio numa cidade do interior, ou seja, a educação não era lá de alto nível, mas, surpreendentemente, não era tão ruim, pois eu até que tinha bons professores, em especial, a professora Kim.

Ela dava aula de história na capital, mas se mudou para cá, após o marido falecer de uma doença, pois queria uma vida nova. Nós dois sempre estávamos conversando nos períodos livres e ela me contava como era morar em uma cidade grande e coisas que vivera na adolescência — uma maneira indireta de dizer que eu deveria aproveitar mais a juventude. Acho que era a única pessoa naquele fim de mundo que eu considerava amiga, o que deveria soar para muitos algo bem solitário, afinal, um adolescente de 17 anos só conversar com a própria professora de história, que muitos possuíam certa aversão graças à sua forma de agir, era excêntrico, para não se dizer deprimente ou bizarro.

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