Capítulo 12 - Um Amigo Inesperado (Parte 1 de 3)

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O menino que não tinha nome aninhava-se entre os braços do Capitão, sentindo o corpo ainda molenga e a cabeça pesada. Utilizava suas últimas forças para não cair do cavalo, enquanto se aproximavam cada vez mais de Ellindor, a cidade sem esperanças. Por mais que tentasse, não conseguia abrir as pálpebras em sua totalidade, o que resultava em visões turvas e borradas duma paisagem apressada. Eles ainda não sabiam, mas havia uma movimentação estranha nos portões da cidade...

Ellindor, situada a extremo noroeste das planícies gélidas de Yhordan, começara a ganhar visibilidade há alguns anos. Devido a terra extremamente fértil, ao seu derredor, via-se há séculos rodeada por inúmeras plantações; dentre as principais: oliveiras, parreiras e figueiras - cujos frutos eram os melhores em toda a região. Mostrara-se tão abençoada e frutífera que, em pouquíssimas gerações, seu povo enriquecera-se veementemente, como nenhuma nação, em muitíssimas léguas. No entanto, o bondoso povo de mãos calejadas, pouco sabia além da arte do plantio e da colheita. Viu-se a necessidade, então, de se instituir a proteção das terras. "Que o sangue que corre em minhas veias, manche este solo ainda hoje, se meus filhos e eu não protegermos com afinco o que é nosso por direito!" – bradou o patriarca dos Elvitore, pouco antes que um povo inimigo (cujos registros se perderam) atacasse a Ellindor.

Ora, os Elvitore foram umas das primeiras famílias a habitar os campos da futura cidade, e Macciello, patriarca e sétimo avô do agora capitão Archeon, fora um dos fundadores das tropas Ellindorianas. Narram os registros da cidade que o Elvitore havia sido também o responsável pela criação e edificação das primeiras muralhas. Segundo relatos, as contribuições dele foram de tamanho impacto que, no quarto ano de construção, os portões já haviam sido instalados. Dizem as más línguas, porém, que os trabalhos dos Ellindorianos não foram bons o suficiente, e que eles não sabiam o que estavam fazendo. Em defesa deles, devo dizer que esta história se passa no começo do nosso mundo, e as muralhas de Ellindor foram edificadas há muito tempo também; e é claro que devemos considerar o fato de que eles jamais esperariam que um dia seriam atacados por um povo tão poderoso, como os Gathronianos. Enfim, independente da qualidade ou não, das fortificações, posso afirmar que os muros foram o suficiente para prover segurança àquele povo por muitas gerações... Até agora.

Ao se aproximarem de fato da cidade, o menino posicionou-se de modo a poder contemplar o que se passava. Fora inútil. Sua cabeça doía a tal ponto que mal conseguia abrir os olhos. Ainda assim, sentou-se e apoiou a cabeça no tronco do Capitão.

- Finalmente chegamos. – disse Irone aliviado, enquanto os animais desaceleravam.

- Sim... – respondeu Archeon – É bom estar de volta! Independente de qualquer situação, esta é a minha casa, e darei a minha vida para protegê-la. Vejam, os guardas nos muros parecem surpresos! Espero que não me julguem pelos meus terríveis pecados...

- Fique tranquilo Capitão. – disse Malone – De todas as espadas que Ellindor necessita, nenhuma é mais importante do que a sua. Seria tolice se algum deles se apressasse em julgá-lo, como eu fiz anteriormente, pois logo me arrependi! Estes soldados necessitam de uma voz de comando.

- Fico feliz em ouvir tais palavras, Cavaleiro. Espero que esteja certo...

Quando os animais já trotavam em graciosa calmaria, o menino abriu os olhos. Estavam a aproximadamente duzentos metros das muralhas, e a pressa, neste instante, não fazia mais tanto sentido. Olhara para trás e notara que a campina de outrora havia ficado muito para trás, a extrema esquerda, de modo que já podiam avistar os portões principais. "Devo ter apagado por algumas horas...", pensou. Os muros de pedras amareladas deveriam possuir uns dez metros de altura, julgou o menino. No alto dele, inúmeras sentinelas montavam guarda, e alguns deles até posicionavam seus arcos pelas finíssimas seteiras de pedra. O menino percebeu quando um deles encarou bem o cavalo no qual se encontrava, e fez uma cara de espanto. Saíra correndo no mesmo instante, e sumiu.

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⏰ Última atualização: Jun 17, 2021 ⏰

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O Menino Que Não Tinha NomeOnde histórias criam vida. Descubra agora