A preparação

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Eva contou mais uma vez quantas estações de metrô ainda faltavam para chegar ao seu destino final, o aeroporto. "Três", ela repetiu mentalmente. Em três estações estaria em um dos seus lugares favoritos no mundo e que parecia sempre se descortinar diante dos seus olhos como um infinito de possibilidades. Esta não era a sua primeira e nem seria a sua última viagem e, ao contrário do que você, leitor, possa imaginar, também não era a viagem mais longa que ela faria. Mas chegar naquele aeroporto causava tanta ansiedade quanto passar por alfândegas, agentes de imigração e esteiras de bagagem.

Nesta quinta-feira de junho, um raro dia de temperatura amena na infernal Salvador, Eva estava finalmente saindo da cidade para se encontrar com o amor da sua vida. E, dentro dela, todas as inseguranças e incertezas em torno daquele momento haviam sido temporariamente silenciadas por uma ansiedade quase palpável. Era hoje! Finalmente hoje, depois de todos esses meses.

Enquanto observava as portas se fecharem na antepenúltima estação da Linha 2, Eva suspirou quase impaciente. Era como se o mundo ao seu redor se movesse em câmera lenta, ela pensou. A cidade inteira seguia a sua vida como se nada de diferente tivesse acontecido e como se hoje fosse apenas um outro dia. Ela calculou todo o trajeto para, pela milésima vez, se certificar de que não se atrasaria. Mas como poderia se atrasar? Às cinco da manhã, ela já estava de pé. E, há pelo menos seis semanas, ativara uma contagem regressiva no seu celular que terminaria às 22h, quando ela previa que os dois já teriam se encontrado.

As portas se abriram novamente e quase todos os passageiros desceram na penúltima estação. Agora, todos os que permaneceram no metrô estavam, como ela, indo em direção ao aeroporto. "Qual seriam as histórias por trás de todas aquelas viagens?", Eva ponderou. A sua era sem dúvidas a melhor de todas.

Há oito meses, ela tinha conhecido Bjorn num aplicativo de relacionamento. Usando um GPS falso para despistar o recurso de geolocalização do app, Eva estava decidida a encontrar algum norueguês que a ajudasse a aprender o idioma antes que se mudasse para o país. Segundo desculpas que ela mesma inventara para a peripécia, a ideia era de ter ajuda nos estudos do norueguês para se mudar para a Noruega como au pair, um intercâmbio que se destinava a jovens entre 18 e 30 anos, que querem morar fora em troca enquanto cuidam de crianças nativas do país de destino.

Assim que os dois formaram uma combinação no aplicativo, Eva explicou para Bjorn que não estava ainda no país, mas tinha intenção de se mudar o mais rápido possível.

- Então você não está aqui em busca do amor? - ele perguntou desconfiado, logo na primeira chamada de vídeo que fizeram.

- Não. -, ela respondeu segura. - Mas eu preciso de aulas de norueguês porque decidi que quero ir para ficar dessa vez.

- Então você já morou aqui na Noruega? - Bjorn pareceu ainda mais intrigado.

- Sim, morei em Oslo por um ano, mas não aprendi nada do idioma porque eu falava inglês com todo mundo. - ela se desculpou. - Não é culpa minha que todos falam inglês nesse país!

- Eu sei... - ele devolveu. - E te entendo! Eu também estou tentando aprender um novo idioma. Estou me mudando para a França e pretendo aprender pelo menos o básico do francês antes de ir.

- Nossa, francês! - ela sorriu. - Eu estudei francês por um semestre na faculdade, mas não me lembro de mais nada.

- Eu tenho aulas à noite, mas também não sinto que estou evoluindo. - Bjorn se queixou. - Você quer realmente ter aulas de norueguês? - ele perguntou ainda incrédulo.

- Sim! - Eva riu da maneira como ele parecia não entender o seu interesse num idioma tão pouco utilizado. - Eu amei morar aí quatro anos atrás. Tenho muita vontade de voltar para ficar e é por isso que quero aprender o idioma. Se eu tiver que trabalhar na minha área, no final do intercâmbio, eu sei que vou precisar do norueguês.

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