O encontro

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Não é ele. Também não é ele. Famílias inteiras saíram da sala de desembarque empurrando carrinhos cheios de roupas e presentes. Entre sorrisos e abraços apertados, centenas de pessoas passaram pelas portas antes que Eva recebesse uma mensagem curta de Bjorn:

"Acho que a minha mala vai ser a última", ele enviou, junto a um emoji choroso.

Ela sorriu. Então, ele não tinha simplesmente evaporado no ar. Era só a demora comum de todos os aeroportos. Ele ficara preso na esteira de bagagem, esperando para recuperar a sua mala, enquanto Eva observava cada passageiro sair pela porta com uma ansiedade incontrolável. Ela sorriu. Aquela mensagem tinha sido enviada deste mesmo aeroporto, pensou. Eva soltou o ar de uma vez, como quem sopra forte uma vela de aniversário. Apenas uma parede os separava. Horas atrás, milhares de quilômetros se interpunham entre os dois, mas agora Bjorn estava do outro lado daquela porta automática e ela estava ali fora, esperando por ele como um filme bobo da Sessão da Tarde.

Eva mordeu o canto do polegar se amaldiçoando pela ideia de deixar que as unhas crescessem para esse encontro. Agora não podia sequer mordê-las em paz e já havia mastigado o dedo quase inteiro. Ela checou o celular mais uma vez com os olhos vidrados no contador regressivo, que chegara ao zero há alguns minutos. É claro que as coisas não seriam tão simples assim para os dois.

Eva se lembrou da última vez que esteve no Rio de Janeiro. Ela entregou os documentos no consulado norueguês e desceu direto para a rodoviária para pegar o seu ônibus, em direção a Arraial do Cabo.

Ainda sem saber que o veredito a respeito do seu visto para o país nórdico seria negativo, ela tinha se divertido na vila praiana e se apaixonado pela sensação acolhedora que a cidade oferecia. Com amigas que acabara de conhecer pessoalmente e com quem conversava há alguns meses graças a um grupo nas redes sociais, Eva passou dias incríveis passeando por cada canto de Arraial. E foi por isso que havia decidido levar Bjorn neste mesmo lugar. Seria quase como uma lua de mel, ela ponderou. Uma viagem a dois por praias paradisíacas, numa pousada tranquila, perto do mar.

Seu celular vibrou: "Finalmente! Estou indo!". A mensagem a acordou dos seus devaneios e ela se aproximou ainda mais da porta de desembarque. Se segurando numa contenção baixa e quase invadindo o espaço que era de direito apenas dos passageiros, Eva se inclinou até onde podia para tentar vê-lo antes mesmo que ele saísse.

E então ela o viu. Eu estaria mentindo para você se dissesse que ela se lembra de todos os detalhes daquele primeiro olhar trocado. Não foi exatamente o que ficou em sua memória depois de tantos anos, mas a sensação exata de estar finalmente nos braços do homem que ela mais amou em toda a sua vida, essa foi única e talvez até incompreensível para aqueles que ainda não tiveram a mesma sorte.

Eva deixou a própria mala de mão num canto da grade baixa e andou a passos rápidos, quase como se corresse, em direção a Bjorn. Apesar do rosto levemente mais arredondado do que ela se lembrava pelas imagens da câmera, ele era bem como ela imaginara. Seus cabelos cor de ouro desciam até os ombros, lisos e um pouco amassados pelas horas de voo. Sua barba densa e clara cobria um maxilar quadrado e emoldurava um sorriso tímido. Ela se afastou dele e o olhou intensamente, com um sorriso que era meio que um pedido de desculpas pelo impulso de ter ido tão rapidamente em sua direção, ignorando que ele é quem deveria sair para que os dois se abraçaram fora do caminho dos outros passageiros.

- Que bom te ver, minha pequena! - ele sussurrou em seu ouvido antes de afastar o rosto para olhar em seus olhos uma segunda vez.

Eva não respondeu. Alguma coisa naquele encontro lhe trancou a garganta. Ou talvez fossem os olhos azuis dele lhe enxergando até a alma, tirando sua roupa, invadindo todos os seus sentidos. Ali, no aeroporto, diante de todos.

- Eu... - ela tentou começar a falar, mas não conseguia encontrar as palavras.

- Eu sei. - ele disse. E segurou sua mão como se fossem um casal normal, como qualquer outro. Entrelaçou os dedos nos seus e Eva sorriu porque era um encaixe perfeito.

- O carro já está aqui fora esperando a gente. - ela falou, atropelando as palavras. - Você deve estar cansado.

Ele apertou os olhos com força e aquiesceu como quem concorda com o adjetivo atribuído.

- Vamos! Hoje e amanhã dormimos aqui em Copacabana e depois descemos para Arraial, certo? - Eva perguntou, repassando os planos que ele já conhecia de cor. Como bons virginianos, os dois haviam compartilhado planilhas inteiras de despesas e planos, com todos os detalhes de tudo o que aconteceria na viagem.

A ideia era passar dois dias no Rio para que Eva pudesse fazer outra entrevista relacionada a um visto, dessa vez, para a França. Sua permissão para morar na Noruega havia sido negada há pouco menos de cinco meses, mas os dois estavam muito confiantes de que as coisas dariam certo desta vez. Talvez o destino tivesse intervindo em sua ida para o país nórdico justamente para que os dois pudessem ir juntos para a terra do croissant. Se tudo desse certo agora, essa era a única explicação possível.

Bjorn apertou sua mão quando os dois chegaram do lado de fora do aeroporto e ela puxou o celular do bolso para checar mais uma vez se havia alguma mensagem do motorista que viria buscá-los. Ele avisara que o carro estava um pouco mais à frente, então ela indicou a direção a Bjorn e os dois caminharam a passos largos para o lugar certo. Com quase dois metros, o passo largo dele era muito mais largo que o dela, claro. Não que Eva fosse pequena. Na verdade, durante toda a sua vida, sempre fora a amiga mais alta do grupo, o que parecia completamente fora da realidade quando estava lado-a-lado com um homem tão grande.

Lado-a-lado, ela repetiu para si mesma enquanto ele abria a porta do carro para que ela entrasse. Os dois iriam sentar ali dentro, lado-a-lado. Chegar juntos no hotel... Dormir juntos. Esse homem que tinha sido sua única companhia pelos últimos meses, mas que, de alguma forma, era também um estranho. Eva sorriu. Um estranho que, em breve, seria o primeiro homem com quem ela...

- No que você está pensando? - ele perguntou com um sorriso malicioso na voz.

- Em todas essas primeiras vezes. - ela respondeu sem mentir.

- Eu sou diferente do que você imaginava? - ele perguntou.

- Não -, Eva respondeu de imediato. Talvez ele fosse um pouco diferente das fotos e do vídeo, mas ela imaginava que ele não poderia ser exatamente igual à sua representação em 2D, então não chegava a ser uma diferença chocante. Ele continuava lindo.

- Você respondeu muito rápido. Não teve tempo de pensar a respeito... - ele brincou.

- Já pensei. E estou com pena das outras garotas que vão me ver com você. - ela devolveu no mesmo tom de brincadeira, mas falava sério.

Eva olhou para as suas mãos entrelaçadas no colo dele e mal conseguiu acreditar no quanto parecia estar vivendo um conto-de-fadas. Foi naquele momento que ela decidiu escrever um livro para contar sobre esse romance inesperado. No entanto, como você pode perceber, quem escreve sou eu. Porque ali, dentro do carro, enquanto deitava a cabeça no ombro de Bjorn em direção a um hotel quatro estrelas de Copacabana, Eva ainda não sabia que o final dessa história não seria tão feliz assim.

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