HEART ATTACK - PARTE I

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* ESSE CAPÍTULO CONTÉM SPOILERS DE TEORIA DA SERENDIPIDADE (ou não, mas acho que sim) *

B E C C A     E V A N S

Quando o alarme começa a tocar, gemidos e protestos escapam da minha boca. O dia mal começou e eu já sei o quão terrível ele vai ser. Para evitar todo esse desgaste, desligo o alarme e viro para o outro lado, suspirando de prazer em estar tão quentinha dentro das minhas colchas e pronta para outra sessão bruta de sono da qual terei sonhos que não lembrarei de nenhum.

– Não vai fazer isso de novo, Becca!

A voz que acaba com minhas fagulhas de esperança surge dentro do meu quarto. Provavelmente papai escutou o alarme tocando durante um minuto inteiro e veio conferir se vou tentar matar aula logo no primeiro dia.

Ele sabe que eu vou, é como um ritual pra mim: todas as voltas as aulas após as férias de verão, nunca apareço no primeiro dia, sempre no segundo, maioria das vezes eu surjo no terceiro dia.

Meu pai não concorda com isso, mas como nem mesmo ele consegue controlar o horário que acorda, imagina o da própria filha. Somos geneticamente programados a sermos dois atrasados.

Exceto por hoje.

Quando ele abre as cortinas da minha janela, um jato de luz quente e claro atinge meu rosto feito explosões tenebrosas. Escondo a cabeça dentro da coberta. Escuto meu pai suspirar e de repente, ele tira a coberta de mim a força, me deixando ainda mais exposta ao sol.

– Fecha isso, pai! – reclamo me escondendo debaixo das cobertas. – É forte demais! Vai acabar comigo!

– Para de bancar a vampira, um pouco de sol não vai matar você!

Se não bastasse abrir minhas janelas, meu pai arranca minhas cobertas mais uma vez.

– Por que fez isso? – reclamo tentando tirar os fios ruivos da minha cara. – Já parou pra pensar se eu tivesse pelada? Isso é uma falta de educação!

Meu pai me olha com desdém.

– Eu troquei suas fraldas e limpei sua bunda durante anos, Becca, para de ficar me enrolando – fala mal-humorado e joga a colcha para o lado. – Banho. Escola. Agora.

– Mas...

Ele sai do meu quarto e eu esperneio na cama ao perceber que não teria saída. Tomo um banho rápido e visto a primeira coisa preta que encontro – que é basicamente a paleta de cores do meu armário – enfio os pés no coturno de couro e seco o cabelo ruivo rapidamente.

Quando fico pronta, agarro a mochila soltando xingamentos por ter que obedecer ao meu pai nessas horas.

– Pai! – reclamo descendo os degraus enquanto amarro o cabelo num rabo de cavalo. – Onde estão as minhas calcinhas? Eu não...

Para no meio do caminho ao ver que não estamos sozinhos. Carlos Ferrar está aqui. Novo recruta da polícia, acabou de ser admitido e não saiu da faculdade faz pouco tempo. Ele tem a pele levemente escura, como se tivesse acabado de sair de dez dias na praia com muito sol e água fresca, os cabelos pretos combinam com as sobrancelhas grossas e escuras.

E o sorriso... É simplesmente perfeito.

Eu começo a gaguejar ao vê-lo na minha cozinha. Assim que ele me vê abre um sorriso e acena.

– Bom dia, Becca! – ele fala animadamente e eu perco o fio da meada, da fala, de completamente tudo.

– Bom... Bom... – começo a gaguejar e ele sorri ainda mais. – Dia! Muito dia!

Teoria Das CausalidadesOnde histórias criam vida. Descubra agora