Anthony Bridgerton era conhecido por ser um prodígio da dança contemporânea, por sua livraria em Greenwich Village e por uma antiga matéria que o descreveu como um homem "que parece um personagem masculino escrito por uma mulher". A união de beleza, charme magnético, talento estrondoso e o empurrãozinho que aquela abençoada jornalista lhe deu foram responsáveis por construir sua fama, fazendo com que ele ganhasse o status de Libertino contemporâneo — uma pequena piada pelo fato dele ser inglês.
Ele arrancava suspiros por onde passava e a parte mais perigosa era sua total consciência disso.
A Heartbreaker Bookstore era um lugar que idealizado por Anthony desde criança, e com o apoio e senso estético de seu irmão, Benedict, a livraria se tornou um ponto de referência regional, onde a arquitetura histórica exterior criava um belo contraste com a decoração alternativa do interior. O espaço também organizava e promovia eventos de lançamentos de livros, além de ser um grande apoiador de artistas locais, visto que o bairro em si era voltado intensamente para a arte. Dessa forma, quando ele entrou na livraria, tocava uma música ambiente baixa, algo sobre sexo e conflitos existenciais.— Benedict, eu já falei duzentas vezes para você me lembrar de arrumar o letreiro na fachada, já tem semanas que o "h" está ameaçando cair! — disse Anthony, afoito.
Sem tirar os olhos do livro que estava lendo, Benedict apontou para a placa acima de sua cabeça com um aviso em letras vermelhas "SILÊNCIO, BOOKSTANS ESTÃO LENDO" e empurrou um bloco de post-its laranja neon para ele pois, segundo o irmão, se Anthony colocasse mais lembretes visíveis em seu campo de visão, ele não seria tão esquecido.
— Por favor, você nem sabe o que é um bookstan.
— Alguém que gosta de...ler?
— Sabe, Benedict, às vezes eu odeio a porcaria do seu jeito passivo-agressivo, isso consegue ser extremamente irritante. — Ele bufou enquanto e foi se servir com café um expresso. — E eu não preciso de post-its para me lembrar das coisas, é para isso que tenho você do que... ah, bom dia sr. Hidetaka.
— Olha a boca suja, Anthony — respondeu o sr. Hidetaka.
— Mas "porcaria" nem é xingamento!
Ele carregava uma bandeja de bolinhos assados e quando Anthony tentou pegar um, recebeu um tapa na mão. Para um senhor de quase setenta anos, ele tinha força e reflexos invejáveis. Além de gostar de atormentar o vocabulário sujo de Anthony, o senhor Hidetaka era um exímio confeiteiro e alguém muito querido para os irmãos Bridgerton e para os clientes da livraria, que rapidamente faziam amizade com ele.
— Ainda estão muito quentes — advertiu o velhinho —, vai te dar dor de barriga.
— Merda.
— Eu ouvi isso.
Derrotado, Anthony suspirou e se sentou na cadeira de frente para Benedict, que parecia alheio ao mundo real. Muitas pessoas ficavam assim enquanto liam. Ele acreditava que a sensação de imergir nas palavras de um bom livro era uma das formas de escapismo mais edificantes que o ser humano poderia experimentar durante a vida. Fosse fantasia, poesia ou romance — a conexão com universos e personagens também era uma forma de viver intensamente.
Ele espiou a capa do livro e não se surpreendeu quando viu a imagem dramática de um homem sem camisa com uma lady encostada no peito dele. A primeira impressão que tinham de Benedict, com seu imortal moletom mostarda, vans old school, óculos de armação dourada e o forte sotaque inglês, era a dele ser um espécie de mestre em literatura clássica e obcecado em sonetos shakespearianos — o que podia ser considerado parcialmente verídico, visto que ele conhecia todos os 154 de cor. Todavia, a verdadeira paixão dele eram os romances de época. Tessa Dare, Suzanne Enoch, Julia Quinn, Lisa Kleypas, Mary Balogh. Ele tinha a coleção completa de todas essas autoras e estava constantemente perdido dentro desses universos.
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The Eight Steps of Love
RomanceKate Sharma é uma ambiciosa bailarina clássica integrante da American Ballet Theatre. Ela acabou de retornar de uma grande temporada de perfomances com uma notícia que pode significar tudo para sua carreira. Entretanto, quando as coisas não saem com...