Escutei os passos da minha mãe indo em direção a porta, quando ela a abriu, eu vesti novamente a minha blusa e sai do quarto.
Parei no final da escada vendo a cabeleira loira que estava na frente da minha mãe.
Samantha!
ㅡ Ah, oi Allana! ㅡ Disse ela dando um aceno de mão em minha direção.
ㅡ Quem é ela? ㅡ Minha mãe perguntou apontando o dedo para Samantha.
Antes mesmo que eu dissesse algo, a loira foi mais rápida e falou:
ㅡ Eu e a Allana nos conhecemos na cachoeira. E não faz muito tempo que eu vim visitar ela, mas não havia ninguém em casa, depois eu soube por um amigo meu que ela estava no hospital, no caso as duas, você e ela, mas não fui vê-la para não parecer inconveniente, sabe? Pois meu amigo já estava lá. Foi ele quem a encontrou, na verdade. E então hoje eu fiquei sabendo que ela recebeu alta e vim visitá-la para saber se ela está bem. ㅡ Samantha falou tanto e tão rápido que no final ela ficou sem fôlego.
ㅡ Entre por favor, estou fazendo a janta, fique e coma com a gente! ㅡ Minha mãe disse abrindo um sorriso. ㅡ Seu amigo foi um anjo trazendo a Allana para o hospital, sabe se lá o que teria acontecido com ela se ele não tivesse a encontrado.
ㅡ É muita gentileza sua senhora. Ele ajudaria qualquer um, é da natureza dele.
Samantha cruzou a sala em direção a mim e me abraçou enquanto falava em um sussurro:
ㅡ Agora eu estou aqui e entrei com permissão, feliz?
A puxei pelo braço sem dizer nada, enquanto subia as escadas levando-a até meu quarto. Quando entramos eu fechei a porta e tranquei com a chave.
ㅡ O que faz aqui? ㅡ Perguntei apoiando as mãos no quadril
ㅡ No momento eu vim jantar ㅡ Respondeu ela, enquanto se sentava na minha cama.
ㅡ Eu estou falando sério, o que veio fazer aqui? ㅡ Perguntei irritada, minha paciência ia de ralo abaixo.
ㅡ Te vigiar, o que mais eu teria vindo fazer?
ㅡ Calma aí, por que? Me vigiar? O maluco te mandou aqui?
ㅡ O maluco? O Sebastian? ㅡ Ela falou enquanto tentava falhamente engolir a risada, fingiu até secar uma lágrima invisível, mas parou quando viu minha cara fechada. ㅡ Desculpa, desculpa, mas chamá-lo de maluco? Isso é realmente engraçado, o senhor sabidão sendo chamado de maluco por uma adolescente! Quem diria?!
Ela parou por um instante e depois se deitou na minha cama, para então continuar. Que folgada!
ㅡ É, é, te vigiar, sabe? Ficar de olho em você e te proteger das criaturas que estão atrás de você. Hoje é a minha vez de te vigiar, mas eles não especificaram se era fora ou dentro da sua casa. ㅡ Ela disse gesticulando com as mãos e no final soltou uma leve risada.
Mesmo não estando satisfeita com sua resposta, segui em direção ao banheiro.
ㅡ Pra onde você vai? ㅡ Ela levantou a cabeça e seus olhos negros me seguiram.
ㅡ Tomar banho, o que eu deveria estar fazendo antes de encontrar uma ESTRANHA no MEU QUARTO!
ㅡUi! Essa doeu! ㅡ Ela respondeu dramaticamente com a mão no coração. ㅡ Mas bem que você poderia continuar com aquele estrip tease! ㅡ Ela falou enquanto levantava as sobrancelhas em um gesto que de alguma forma deveria ser "sensual".
ㅡ Vai a merda, Samantha! ㅡ Gritei do banheiro enquanto ria.
A água escorria pelo meu corpo ao momento que uma lágrima silenciosa escapava dos meus olhos. Então é tudo verdade. Sobre mim, sobre o maluco, sobre o que veio atrás de mim, tudo…
As lágrimas vinham e se perdiam com a água, cada vez mais intensas. O que eu sou? Me perguntava enquanto olhava para a parede. O que eu sou? Perguntei-me novamente, pensando em como minha vida virou um livro de fantasia.
O que Samantha era? Ou o que o maluco era? E o que eram aqueles vultos que me seguiam? Tudo isso me fazia duvidar da minha própria sanidade. Será que eu estou ficando maluca?
Não fiquei por muito tempo debaixo do chuveiro, minutos depois saí do banho e encontrei a loira segurando um livro, percebi que era "Corte de Espinhos e Rosas". Já não bastava se esparramar na minha cama, tem que mexer nos meus livros também?
ㅡ Temos uma pequena audaciosa aqui, hum? ㅡ Falei enquanto pegava o livro de suas mãos.
ㅡ Ah, não! Me dá! Tava tão interessante! ㅡ Ela grunhiu como se fosse uma criança e tivessem roubado seu brinquedo favorito.
ㅡ Faremos uma troca, que tal? Um livro seu por um livro meu? Você deve ler alguma coisa, não é mesmo? ㅡ Disse enquanto me sentava calmamente ao seu lado.
ㅡ Tenho vários! E estão à sua disposição! Trato feito! Mas agora me dá! ㅡ Samantha agia como uma criança manhosa, até mexia as mãos em direção ao livro de um jeito infantil.
ㅡ Posso escolher o que eu quiser não é mesmo?
ㅡ Sim! O livro, por favor! ㅡ Samantha lançou um olhar pidão para mim, o que foi bem difícil de resistir, ainda mais quando ela juntou uma mão na outra, como se fosse suplicar a mim.
ㅡ É todo seu! ㅡ Falei entregando-lhe novamente o livro.
Fiquei sentada na cama, mas algo me fez levantar, olhei impaciente para a garota, ela iria mesmo agir como se nos conhececemos? Não sei nada dela, apenas seu nome. Como deixei uma desconhecida entrar na minha casa?
Minha boca se abriu e comecei a fazer perguntas, sem nem mesmo pensar no que eu estava dizendo.
ㅡ O que você é exatamente? Ou o que eu sou? E porque eu acho que estou ficando maluca?
Samantha largou o livro de lado e me fitou com uma expressão vazia.
ㅡ Sou uma bruxa do Clã de Sangue e você é uma Filha das Sombras. Não, você não está maluca e por favor não me faça mais perguntas, só tenho permissão para te dizer isso, mas se quiser saber mais sobre o que você é, fique a vontade, não te impedirei disso.
O rosto dela subitamente ficou cansado, nem parecia que há alguns minutos ela estava sorrindo feito criança. Samantha ainda carregava o livro nas mãos quando se levantou, disse que achava melhor ir embora, pois já havia outro me vigiando agora.
ㅡ Quando for sua hora, sabe, de me vigiar, pode bater na porta que eu abro, não precisa entrar pela janela ou algo do tipo ㅡ Eu disse com um pequeno sorriso sem graça.
Ela apenas me abraçou e depois saiu do quarto. Mamãe não fez perguntas, mas colocou em um pote um pouco da janta e deu para ela, que agradeceu com um sorriso e então foi embora.
Já estava na hora de descobrir o que estava acontecendo, por bem ou por mal, eu iria descobrir.
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Coroa de Sombras
FantasyAllana acha que vive uma vida normal, sendo uma adolescente normal como qualquer um. Mas depois de uma morte repentina do seu odiado pai, ela acaba se mudando para um cidade pequena. O que ela não sabe é que segredos a cercam, desde a morte do seu p...