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Eu senti vontade de vomitar quando me contou toda aquela história. Todos aqueles abusos que você vinha sofrendo por anos, conseguiu deixar tudo guardado para si mesma, e fez todo esse sacrifício para proteger aquele que mais amava; seu próprio irmão.
Se lembra daquela noite na qual você chegou com a boca cortada e o olho roxo? Eu cuidei de todas aquelas feridas, e no final dormimos nuas e suadas na minha minúscula cama de solteiro. Porém, assim que acordei você já não estava ao meu lado.
— Isso o que a gente tem não é certo. Por favor me esqueça — Foi o que você me disse assim que passei pelo portão do colégio no qual estudávamos juntas. Sabe o quanto dói ouvir isso da garota da qual se apaixonou perdidamente? Eu só fiquei imóvel enquanto via seus cabelos loiros cada vez mais distantes.
Era errado amar?
Era errado gostar de garotas?
Era errado querer passar o resto da minha vida com a Yuzuha?
Lembro-me como chorei… meus olhos ardiam e eu não conseguia falar uma única palavra sem soluçar. E no dia seguinte você parou de ir às aulas.
"Fugir é coisa de covarde" foi o que sempre me disse, mas por ironia do destino você acabou fazendo isso. Eu fui na sua casa diversas vezes para nos reconciliar, entretanto ninguém atendia aquela merda de porta.
Aquilo aconteceu há anos atrás e hoje ainda existe um resquício daquele sentimento. Me mudei para o interior assim que me formei e sabia o que tinha que fazer com a minha vida:
me casar com um homem e ter filhos.
Mas... não era isso que eu realmente queria; isso era o que a sociedade e minha família queria. Céus, eu tinha tanto medo de não me aceitarem que fiz uma imagem ilusória minha, e só percebi isso quando você apareceu na minha frente.
Seus olhos brilhavam como nunca tinha visto antes, e seu cabelo não estava longo como antes. Não deixei de perceber que também estava mais madura e seu profissionalismo se destacava com o terno preto que vestia; você continuava perfeita.
— Acho que deveria fechar a boca — a garota na qual eu sou completamente apaixonada estava na minha frente depois de 12 anos e ainda queria que eu não ficasse de boca aberta?? Senti todo meu corpo tremendo e tive que me segurar na porta para não cair
— Como me achou? — desde o momento que abri a porta essa dúvida estava na minha cabeça. Não era tão difícil encontrar uma pessoa com a tecnologia de hoje, mas até o meu endereço? Isso já era um pouco –muito– estranho
— Redes Sociais consegue resolver tudo. E por sorte encontrei uma lista com seus colegas de trabalho, expliquei a situação e depois perguntei onde você morava. Não foi tão difícil —Ela gargalhou ainda mais alto da minha cara de espanto — Eu só gostaria de pedir perdão… — Lágrimas começam a descer pelas minhas bochechas e os soluços fazia minha garganta doer.
— Você não entende, né? Yuzuha, meu amor, você não precisa se perdoar; você não fez nada de errado —eu dava pausas para poder respirar e tentar manter a calma
Fiquei ainda mais surpresa quando ela tomou à iniciativa e me abraçou forte, acariciando minha costas logo em seguida. Ficamos assim por longos minutos antes dela se afastar um pouco e segurar meu rosto em suas mãos.
— Vamos recomeçar? Agora do jeito certo, ok? — Ela pegou uma das minhas mechas e colocou atrás da orelha. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios e coloquei delicadamente minhas mãos em sua cintura.
— Isso que estamos fazendo é errado? Eu estou tão perdida e confusa — As lembranças das palavras dos meus pais de repulsa ao falar sobre as diversas sexualidade, principalmente lésbica, sugiram em minha mente.
