One.

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Sentiu-o remexer-se sob o colchão novamente, estava começando a se irritar com toda aquela movimentação do outro garoto e, tinha quase certeza de que ele sabia desse pequeno detalhe, pois além de mexer-se de um lado para outro o garoto também soltava alguns suspiros nada discretos e lhe dava pequenos empurrões.



Recusava-se a dar o braço a torcer desta vez, fazia semanas que não sabia o que era ter uma boa noite de sono e tudo isso graças ao seu colega de quarto.



Uma das desvantagens de jogar basquete semi-profissional é que seu time muitas das vezes não possuía verba o suficiente para orçar quartos para todos os jogadores. O que o obrigava a dividir com um de seus colegas.



Geralmente não era incômodo algum, cada um ficava em sua cama e só se olhavam durante os treinamentos, jogos ou refeições em equipe. Bom, isso é o que se resumia por parte da sua relação com os outros, não chegavam à amizade, mas havia uma boa convivência de todas as partes.




Mas é claro que ele, era a exceção.




Desde um fatídico dia, a três meses atrás, em que o idiota ficara doente durante as semifinais e, por pura coincidência, conseguira melhorar ao receber os seus cuidados – afinal se preocupava com o desempenho da equipe – acabou incumbido com o título de babá daquele monte de músculos.




A partir dessa experiência nada agradável, sempre que havia a divisão dos quartos acabava com ele.




Com a convivência forçada, acabara descobrindo que o garoto sofria de terrores noturnos desde a infância o que culminava com ele despertando no meio da noite em meio a gritos desesperados e grossas lágrimas. Ficou tentado a questionar o resto do time a respeito dos episódios, para saber como proceder diante do desespero que o outro sentia. Mas aparentemente era o único que conhecia esse lado do mais novo.




Por essa razão, além do quarto também dividiam a cama, pois em um dos episódios adentrou ao leito do rapaz e puxou-o contra o próprio peito, na tentativa de que seu coração batendo de forma ritmada pudesse acalmá-lo.




Ficaram debaixo das cobertas emaranhados um no outro. Ele tremia em seus braços em um soluço silencioso, a camisa que cobria seu torno estava úmida com o líquido lacrimal dele. A última coisa da qual se recorda daquela noite é o cheiro adocicado que emanava dos fios recém lavados. Adormeceram daquela forma, abraçados.




Depois disso, houveram mais pesadelos, ele nunca lhe contou o que acontecia nesses sonhos, também nunca perguntara. Pelo estado em que ficava após, duvidada muito que ele desejasse relembrar, então só ficava ali velando pelo sono dele, do outro lado do quarto.

What you do to me? - (aokaga story)Onde histórias criam vida. Descubra agora