08 - Estranha

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Minhas amigas e eu costumávamos sair do campus para almoçar, por isso não foi difícil ficar para trás com a desculpa de fazer uma prova substitutiva. Também não foi difícil descobrir onde Sana e a namorada estavam reunidas com alguns amigos, ao lado dos banheiros químicos vazios, que, teoricamente, não deveriam ser usados na hora do almoço.

Eu estava segurando o papel com o meu telefone. Não queria admitir quantas vezes tinha escrito o número para criar o efeito perfeito, um misto de casualidade e deliberação. Eu nunca tinha feito nada parecido por nenhuma outra garota. Isso só aumentava minha frustração com toda essa história. Eu só precisava falar com ela, descobrir quais tinham sido suas motivações na noite do baile e tirá-la da cabeça, então estaria encerrado.

Sana e outra garota riscavam um jogo da velha com gravetos no chão de areia.

- Oi, Sana. Oi, Momo. - Falei ao me aproximar.

Precisei de dois anuários e uma hora e meia de investigação para descobrir o nome de Momo, mas consegui. Ela não pareceu impressionada com o meu esforço. Só me cumprimentou com um aceno da mão que segurava a maçã meio comida. Sana nem ergueu os olhos dos rabiscos.

Mostrei o pedaço de papel.

- Queria que você entregasse isto aqui para a... - Eu me detive, torcendo para uma das duas revelar o nome dela.

Sana levantou a cabeça e perguntou: - Minha irmã?

- Isso. Pode entregar para ela?

Ela riscou um X no jogo da velha no chão.

- Não.

- Por favor.

- Ah, bom, agora que você pediu com educação... não.

A amiga dela riu.

- Ah, olha só, é Son Chaeyoung. Você disse para o nossa amiga que a banda dela é uma merda e que ela devia procurar outro hobby.

Arfei.

- Eu não!

- Ah, é verdade. Foi sua amiga Yuna que falou, e você riu. Dá na mesma.

Lembrei. Tinha sido no fim de um longo dia de bandas interessadas em tocar no baile de formatura. Aquela era a quinta banda horrível seguida, e a minha cabeça estava doendo muito. Yuna, que havia se oferecido para ser uma das juradas e conseguira ser simpática até então, não pôde segurar o comentário. Eu ri. Todos rimos. Eu não devia ter feito isso. Devia ser essa a grande ofensa a que Sana se referira no dia anterior.

- Ah... desculpem. Eu estava com dor de cabeça.

- Não é para mim que você tem que pedir desculpas. Não foi o meu sonho que vocês destruíram. - Ela olhou para Momo como se esperasse algum comentário. Talvez achasse que ela também tinha que ficar furiosa comigo. Mas ela não ficou.

- Certo. - Falei e abaixei a mão, ainda com o pedaço de papel com o meu telefone.

Sana desenhou um novo jogo da velha na areia, ignorando mais que o pedaço de papel. Momo deu mais uma mordida na maçã e sorriu para mim, mas deu de ombros como se dissesse: "Que azar".

- Vejo vocês na aula amanhã, então.

Guardei o papel no bolso da calça e me afastei ouvindo mais gargalhadas. Parece que não tinha problema quando eram elas que debochavam.

[...]

- Posso usar o carro para ir ao colégio amanhã?

A mão da minha mãe congelou no ar a caminho do copo no armário.

Girlfriend • michaengOnde histórias criam vida. Descubra agora