Christopher organizava os livros em seu armário da escola, tão rápido quanto uma segunda de manhã poderia permitir.
Ele checou os horários e pegou os livros das primeiras aulas, mas levou um susto quando fechou a porta do armário.
A garota de cabelo ruivo que encontrou na calçada da igreja o encarava com um sorriso bizarramente alegre para uma segunda de manhã.
- Oi!
- Oi. — ele levantou uma sobrancelha.
- Não é incrível que estamos estudando na mesma escola? Acho que deve ser porque nossos pais são amigos. — ela segurou o queixo com uma mão — Mas o meu pai não me avisou que você também estuda aqui, ele deve ter esquecido, meu pai é assim mesmo. Bom, — a garota abraçou Christopher subitamente — estou feliz por não estar só!
Christopher apenas observou seu rosto, assustado e atônito, processando o que tinha acabado de acontecer.
Por que ela o abraçou?
O sinal para primeira aula tocou, estridente.
A garota se despediu com um sorriso e um aceno.
- Até mais Chris!
Christopher a observou caminhar pelo corredor, "que garota doida".
No mesmo momento Samantha chegou, furando o chão com a ponta de seu salto. Ela olhava para a garota como quem quisesse esfolar alguém.
- Quem era? — perguntou a Christopher.
- Uma... garota. — ele respondeu, simplesmente, deixando Samantha confusa.
"Uma novata que mal pode esperar para conhecer o seu lugar", pensou.
***
O sol iluminou a poeira que pairava sobre o ar, descobrindo a pequena trilha microscópica flutuante.
E nada mais interessante prendia a atenção de Christopher.
O professor batia no quadro constantemente, explicando de forma apaixonada sobre Platão e sua caverna.
Christopher nunca havia conhecido alguém tão intensamente fissurado em Filosofia quanto seu professor, ainda que ele não conseguisse se concentrar em matérias de humanas.
O sino do intervalo soou absurdamente alto, despertando os alunos que disfarçadamente dormiam. Entre eles, seu amigo Austin.
- Cara... — Austin murmurou, de olhos semicerrados — esse sinal ainda vai ser o motivo dos meus problemas cardíacos.
Christopher sorriu de lado, observando Austin limpar a saliva que escorreu em sua bochecha.
- Eca...
Samantha aproximou-se com uma expressão de desprezo para Austin.
- E aí gata, quais os planos? — Austin levantou-se, pondo o braço sobre os ombros de Samantha.
- Permanecer a seguros três metros de você, certamente.
Ela puxou a manga do casaco de Austin com o dedão e o indicador, lenta e, para Austin que a admirava, dolorosamente afastando seu braço com uma cara de nojo.
- Assim você me machuca. — Austin fez bico, fingindo chorar.
- Esse é o ponto.
Samantha sorriu cinicamente de olhos semicerrados.
Christopher simplesmente ignorou a discussão sem sentido dos dois e começou a caminhar para o refeitório.
Samantha, notando que o seu alvo não estava mais ali, adiantou seus passos para alcança-lo. Ela pegou o braço dele e o colocou sobre seus ombros, abraçando a cintura de Christopher com um braço.
- O que você acha de "guerrilha"?
Ele levantou uma sobrancelha.
- Guerrilha?
Ela concordou.
- Mais especificamente, uma exposição de guerrilha. — ela sorriu — Sei que você não é o maior fã de artes, mas tenho um amigo que estuda na NYU que vai expor suas obras em uma espécie de guerrilha, no submundo das artes: um metrô desativado.
Christopher fez uma careta.
- Antes que recuse, vai ter bebida, música, essas coisas. É uma festa, só que também é uma exposição.
Ele pensou por um momento.
- Quando?
- Dia 23.
Ela respondeu automaticamente, animada.
Christopher suspirou.
Aquele dia seria o aniversário de seu pai.
- Não precisa me responder agora. — Samantha falou, sem dar-lhe tempo para recusar — Pode me dizer se topa depois.
Christopher consentiu com a cabeça, quando algo no meio do refeitório chamou sua atenção: um enorme tufo de cachos ruivos.
A garota estava colocando purê de batatas na bandeja, distraída, quando olhou para trás e os seus olhos encontraram os dele.
"Olhos verdes e grandes, como um filhotinho", Christopher pensou.
Ela levantou a mão para cumprimenta-lo com um grande sorriso, quando de repente uma bola de vôlei acertou seu prato, derrubando todo o purê em seu vestido florido.
A garota deu um passo para trás, desorientada, derrubando a lixeira e tropeçando em seu lixo.
Ela caiu e todo o refeitório foi preenchido por risadas. O rosto da garota ficou tão vermelho quanto um morango.
- Olha, um camaleão! — gritou um dos garotos do time de futebol, rindo.
- É uma pimentinha mesmo... — comentou outro com um olhar oblíquo que constrangeu a garota.
- Desculpa, escorregou. — uma das garotas do time de vôlei se aproximou com um sorriso venenoso.
Christopher a reconheceu como uma das amigas de Samantha.
A garota ruiva olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas, em um pedido silencioso para que ele a salvasse.
Christopher apenas desviou o olhar, envergonhado.
Ele queria ajudar, mas por algum motivo, não conseguiu se mexer.
Ela levantou-se em um pulo e como um gato assustado, correu para longe do refeitório.
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Nem tão Cristão
EspiritualChristopher Moore é o filho único do reverendo de uma pequena cidade no interior do Colorado, e ainda que tenha crescido em meio igrejas e cristãos, nunca conheceu o Deus a qual sempre assistiu seu pai pregar. Com a perda trágica de sua mãe e uma re...