Complicada & queridinha

1- Nome artístico

"Luz, câmera, ação!"

"Chequem a maquiagem dela!"

"Em suas marcas!"

"Perfeito, vamos rodar agora?"

Quantas vezes eu já ouvi essas frases? Sei lá, perdi a conta. Eu estou nesse mundo da sétima arte há tanto tempo que entrar num set de filmagem é tão natural quanto respirar. É o que me mantém viva.

Você poderia como qualquer fã fascinado por esse universo, questionar como é de fato a minha vida, certo?

Estão tímidos?

Aí, aí, eu respondo mesmo assim!

Sem querer ser exibida, a minha vida é ótima! Deus olhou para mim e disse: Bendita!

Porque só pode ser coisa divina esse vidão!

Sou jovem, sou bonita, tenho uma conta bem gorda no banco, sou seguida por milhares de pessoas no Instagram, meu perfume que lancei com uma marca caríssima é o mais vendido do momento, estou produzindo minha linha de maquiagem e skin care, tenho sido convidada a promover desfiles de moda e tenho a MorangoPie como minha patriocinadora, o que mais eu iria querer?

Sim, tinha mais para querer e eu queria.

Porque se contentar com um glitter barato se você pode ter uma constelação só para você?

Minha constelação significava me tornar a queridinha de Hollywood de uma vez por todas, ser capa de várias revistas, incluindo a Forbes. Ganhar um Oscar, ser a mais nova bilionária e garota propaganda das marcas mais caras do mundo!

Não me leve a mal, eu definitivamente nasci para brilhar!

Não é qualquer uma que nasce com a minha aparência, com a minha voz, com meu talento para as câmeras e nem muito menos com esse carisma.

Fala sério, o povo me ama.

- Amélia, você está atrasada, filha. A coletiva de impressa é daqui a uma hora e seu agente já está há meia hora nos ligando desesperado - disse minha mãe, sem esquecer de puxar o edredom- AMÉLIA!

- Eu já disse para não me chamar assim! Eu sou AMÉRICA! Meu nome é América! - vociferei puxando a coberta novamente e enfiando a cara no travesseiro.

- Enquanto você estiver na minha casa, vou te chamar como eu quiser. Não sei para que vocês criaram essa história de nome artístico.

- Porque nenhuma atriz que se preze se chama Amélia Silva - respondi com a voz abafada pelo travesseiro. Mamãe deu outra puxada violenta no cobertor e gritou meu nome de batismo pela décima vez e eu finalmente levantei, derrotada.

"Amélia Silva", você consegue me enxergar assim? Pois é, nem eu e nem meu agente.

Para você entender essa história de nome artístico é preciso que você saiba que eu não sou exatamente uma americana pura, euzinha aqui, tenho lá minhas raízes latinas, graças aos meus pais.

Fato que era bem estranho já que minha aparência era bem mais europeia do que qualquer outra coisa.

Okay, sou um pouco exagerada, eu sei.

Os olhos azuis que todos amam, na verdade são lentes. E meu cabelo ruivo... Ele era ruivo mesmo, mas não tão ruivo assim, dei uma tonalizada a mais, sugestão da Mary e da Anne que cuidavam da minha imagem.
A sardas eram meu charme, os cílios fartos - tá bom, nem tão fartos assim- eram uma gracinha. E minhas orelhas? Já disse que era uma das partes favoritas do meu corpo? Pequenas, delicadas e bem moldadas.

Eu era a princesa que a Disney não tinha.

Tudo foi milimetricamente calculado para eu me tornasse quem eu sou hoje: América Singer!

O nome foi ideia do meu pai, ele é o que chamo de Anjo em forma de pai. Ele e o Alex, meu agente, cuidam da minha carreira desde meus dez anos de idade, que foi quando eu comecei.

Eles diziam que América seria um nome e tanto para uma atriz de sucesso e o Singer veio como um bônus devido a minha habilidade nata de cantar.

Claro que até chegar no Singer tivemos outros percursos não tão bem sucedidos assim, como Sang, Song.

Graças a Deus, eles escolheram o Singer e é assim como todos me conhecem: América Singer, a atriz de "Jóias reais", "Casa na Árvore", "O pote de moedas" e meu último filme "A nova inimiga do Rei".

Foram boas bilheterias que me renderam um ótimo patrocínio da MorangosPie que é simplesmente a minha marca de doces preferida.
E a coletiva de impressa que eu a mamãe estava falando, era sobre o novo projeto deles comigo.

Eles queriam dá uma alavancada nas vendas e por isso iriam criar um concurso que se chamava "Garoto Torta de Morango". Ridículo, eu sei.

Mas fazer o que se eles queriam anunciar isso?

E eu era só a embaixadora da marca, não tinha como mudar as ideias deles, tinha?
Óbvio que se eu pudesse eu mudaria o nome do concurso, mas para ser sincera, eu nem sei qual era o bendito prêmio do concurso e a única coisa que o Alex me dissera foi: sorria e seja simpática durante a coletiva de impressa, então eu não tinha absolutamente nada para me preocupar.

Afinal, eu sou Meri Singer, quem não gostava de mim?

Sorrir e ser simpática era fácil.

- Eu odeio isso! - May gritou enquanto mamãe a repreendia por querer usar maquiagem - Por que a América pode se maquiar e eu não?

- Porque ela tem vinte anos e você tem só dez, May! - Magda respondeu de pronto.

May fechou a cara e saiu pisando firme pela casa.

Eu odiava ter que ficar na casa dos meus pais, mas era que meu apartamento estava em reforma e me veio a calhar que eles morassem perto da agência do Alex, então é por isso e somente por isso que estava nessa zona que eles insistiam em chamar de lar.

Fiz o melhor que podia com a maquiagem, e pus um macacão de alfaiataria na cor azul em meu corpo, arrematei o look com jóias prateadas e delicadas, e desci cuidadosamente as escadas com meu scarpin nude que combinava perfeitamente com minha bolsa.

Me sentia maravilhosa, nada poderia estragar meu dia, era só sorrir e ser simpática, certo?

O que poderia dar errado?

Eu sou América Singer, todo mundo me ama.